Prólogo

3K 381 69
                                    

PRÓLOGO
JADE PALLAVAN

Cemitérios sempre é um lugar cheio de histórias, as pessoas falavam do passado, do presente e as vezes mencionavam o futuro que poderia ter existido. As pessoas se prostravam, emotivas, em frente as lápides, umas com saudades e chorosas e outras ainda ressentidas de coisas que não mudariam mais.

O céu estava cinzento e o vento gelado balançavam o topo das árvores fazendo as folhas secas se espalharem pela grama verde viva.

Respiro fundo sentindo o ar úmido e o cheiro da vegetação.

Aperto as lilases em minhas mãos e fito a lápide a poucos passos a minha frente. Me abaixo ao lado da lápide e passo a mão pelo cimento gelado.

Como chegamos aqui?

Contorno as letras talhadas na lápide com a ponta dos dedos.

Nada em você era assim, frio e sem vida.

— Trouxe suas flores preferidas. – Sussurro.

Ajeito as lilases em frente a lápide e retiro as murchas que eu havia deixado na semana passada.

— Sinto sua falta. – Encosto a testa na lápide. – Desesperadamente.

Já se passaram dois anos e a dor não abrandava, pelo contrario ela parecia ter ficado mais afiada.

Me sento na grama e pego o pequeno frasco de vidro com vodca em minha bolsa e viro. O álcool incendiando por onde passava parecendo acender a vida dentro de mim.

Só hoje. Só por hoje eu precisava me afogar nas lembranças do passado, porque lidar com a realidade de hoje não era suportável.

— Eu estou tão perdida. – Passo as mãos sobre o rosto tentando evitar que as lagrimas caiam. – Eu não sei mais como concertar as coisas. Eu simplesmente... – Suspiro. – Simplesmente não sei o que fazer.

O vento sopra as folhas das árvores que voltam a cair.

— Ah mas não se preocupe, eu prometo que não vou deixar isso me abalar. – Sorrio sem jeito. – Não completamente.

Fito a lápide acinzentada e meu estômago embrulha.

— Você está comigo, não está? – E eu não seguro as lágrimas. – Você precisa estar comigo... eu... eu... – Recupero o fôlego.

Sorrio triste e me levanto sentindo algo dentro de mim se quebrar mais uma vez.

Em quantos pedaços se podia quebrar uma pessoa? Eu já não sabia mais.

— Eu vou ficar bem. – Me recomponho. – Eu te amo mãe.

Ir embora sempre era a parte mais difícil. Era como se uma adaga afiada me rasgasse do torpor das lembranças expondo a minha realidade. E o impacto da verdade sempre me tirava o folego.

Me viro para me despedir mais uma vez e paro atônita ao ver de longe, a metros de distância, Deva. Ela estava em pé parada em frente a lapide adornada com flores de diversas cores. O tumulo que a muitos anos eu não visitava.

Não parecia ser certo.

Parecendo sentir meu olhar Deva se vira e me encara. E ficamos por um tempo encarando uma e bastava isso para eu sentir o sentimento hostil fluindo entre nós.

Me viro e vou embora do cemitério.

Eu não conseguiria lidar com mais um fardo do passado. Não hoje.

Ouço a madeira velha ranger e não me dou o trabalho de olhar quem estava entrando no bar que estava mais para uma pocilga antiga. Eu não me importava, não hoje. A única coisa que importava é que era um lugar que poucos sabiam que existiam.

REDENZIONE I Livro 03 - Série Obscuros Nova EraOnde histórias criam vida. Descubra agora