five

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Quando Eda parou de me responder eu pensei em várias possibilidades do que poderia ter acontecido. Ela estava ocupada? a bateria do seu celular acabou? Mas na medida que o tempo passava minhas preocupações ficaram maiores.

Tentei continuar os próximos dias normalmente e continuei a mandar mensagens para ela, mas a ansiedade aos poucos foi me dominando e de repente me vi em um avião. Conheço Eda há tão pouco tempo, porém seu silêncio me incomoda e me tira do eixo, ela desperta em mim um instinto de proteção que eu nem sabia que tinha.

Mas nada do que conversei com ela nos últimos dias me preparou para, ao descer do avião, ler sua mensagem dizendo que nós não podíamos ser amigos. Isso me quebra e me faz sentir raiva... raiva pela falta de respostas, raiva por me importar com ela, raiva por estar abalado e, mais precisamente, raiva por abrir espaço na minha vida para alguém que não parecia sentir o mesmo por mim.

Após cancelar um show e entrar em um avião às pressas, agora estou em uma cidade que não é a minha, dentro de um carro que não é meu, em uma rua escura que leva ao local onde mora uma pessoa que não quer mais ser minha amiga. O quão fodido isso é? Não me sinto no direito de cobrar respostas, porque eu não tenho esse direito sobre ela. E isso é o que mais me atormenta... pensar que eu estava tão desesperado para encontrar alguém que me enxergasse como eu sou e não pela minha conta bancária, que na primeira pessoa que surgiu na minha frente eu me tornei um viciado em sua presença.

Caminho pelo beco e penso no que vou falar quando encontrá-la, penso se eu preciso mesmo fazer isso ou devo apenas checar de longe se está tudo bem e ir embora, mas deixo as incertezas de lado e entro no Diamond. Tudo está igual ao primeiro e único dia que estive aqui, há vários corpos bêbados e denudos por todos os lugares, mas o palco está vazio... não vejo Eda em lugar algum e minha alternativa é falar com a única pessoa que ela parece confiar: Seyfi.

- Seyfi - o chamo, assim que fico frente ao seu balcão - Onde Eda está?

- Trabalhando - ele diz essa única palavra, mexendo com os meus nervos.

- Mas ela não está no palco - digo constatando o óbvio.

- Não, ela não está - é a sua única fala.

- Você sabe que não vou sair daqui até encontrá-la.

Seus olhos parecem surpresos com o que falo, mas antes que eu possa perguntar novamente onde ela está, eu percebo seu olhar ser direcionado para algo atrás de mim, e eu me viro para encontrar uma cena que me deixa com náuseas. Se eu tivesse conseguido comer alguma coisa nas últimas horas, provavelmente teria vomitado tudo aos meus pés.

Eda está vestindo roupas que mal cobrem seus seios e sua bunda, usando uma maquiagem pesada e seus cabelos soltos. Há um homem ao seu lado, a avaliando como se ela fosse a porra de uma mercadoria. Sinto minhas mãos tremerem e minha cabeça entrar em um turbilhão de confusão. Ela mentiu pra mim dizendo que não fazia mais programa?

- Ah, você deveria pagar mais, não acha? - noto a mulher ao seu lado começar a falar - Faz tempo que ela não se deita com alguém, está praticamente virgem de novo.

Meu estômago embrulha ao ouvir suas palavras e o sorriso nojento do homem aumenta na medida que ele toma a mão de Eda entre seus dedos sujos. Quando olho o rosto de minha amiga, eu não consigo ver a mulher espirituosa que tem conversado comigo nas últimas semanas... ela tem um olhar distante, quase petrificado, como se toda a sua luz tivesse sido sugada do seu corpo.

Já basta.

Vou em direção a eles e retiro as mãos dele de perto da sua pele, entrelaçando meus dedos aos dela. Eda me olha e por alguns segundos eu posso ver surpresa nos seus olhos, para depois perdê-la de novo para a escuridão que tomou conta de suas feições.

- Ela é minha - eu digo a mulher.

- Cheguei primeiro, cara. Se você quiser, vai ter que esperar na fila - o filho da puta tem a audácia de dizer.

- Foda-se, eu pago por toda a semana - eu digo novamente para a mulher, e tento ignorar as objeções do homem, ou eu quebraria todos os seus dedos, e Deus sabe como eu estou morrendo de vontade de fazer isso só por ele ter ousado tocar nela.

- Ok, campeão - a mulher diz, mas olha para a Eda - Dia de sorte, hein querida - e então olha para mim - Fique à vontade, a casa é sua.

Ainda segurando a sua mão, a levo até um canto mais afastado da multidão.

- Eda, está tudo bem?

- Não é melhor irmos para um lugar mais privado? - ouço sua voz pela primeira vez, mas é como se ela estivesse em modo automático.

- Claro, mesmo lugar? - pergunto, acariciando sua mão esperando um sinal de que minha Eda, a minha amiga, ainda está ali.

- Você lembra o caminho? - ela me responde fazendo outra pergunta, e eu afirmo com a cabeça. - Pode ir na frente, eu estou logo atrás de você.

E assim fazemos, caminho pelos corredores e escadas, sempre olhando para trás, observando se ela está me acompanhando e ela o faz. Nenhuma palavra foi dita, nenhum olhar foi trocado, se não fosse o barulho do seu salto atrás de mim eu poderia pensar que estava na companhia de um fantasma.

Entro no seu quarto e nada foi mudado, a única diferença está no meu pôster colado perto de onde está seu violão, e de alguma forma isso me conforta. Vou até onde seu violão está e percebo que ela realmente usou as cordas que eu dei como presente. Sorrio um pouco, pensando se ela também usou o caderno de composições.

Quando me viro para falar com ela sobre isso, o que vejo é uma mulher completamente nua e de cabeça baixa na minha frente. Ela tirou o pouco das roupas que ainda a cobria e agora a única coisa presa ao seu corpo é o seu salto alto.

- Eda - a chamo baixinho, sentindo meu coração quebrar mais e mais ao vê-la tão perdida em si mesma.

Ela pela primeira vez me olha, me olha de verdade, mas parece não me ver. Ela vem até mim, ficando tão próxima que a única coisa que nos separa é o fio da nossa respiração. Eda tenta infiltrar sua mão por dentro da minha camisa e sinto os seus dedos frios tocarem a minha pele. Retiro minha jaqueta e isso parece finalmente tirá-la de seu transe, mas no momento que tiro a peça do meu corpo e coloco sobre o dela, fechando todos os botões, cobrindo o seu corpo desnudo, ela desmorona em meus braços.

Eda chora copiosamente, todo seu corpo treme e eu a abraço forte, sentindo suas lágrimas molharem minha camisa.

- Shh, eu estou aqui - repito as palavras, tentando consolá-la.

Coloco Eda no meu colo e a levo até a cama, retirando cada sapato dos seus pés, cuidando dela como ela merece ser cuidada. Subo até seus travesseiros e a abraço de novo, segurando seu corpo junto ao meu.

- Vai ficar tudo bem, Eda - falo para ela, desejando que minhas palavras se tornem verdade. - Pode chorar, eu estou aqui com você.

A Crying DiamondOnde histórias criam vida. Descubra agora