six

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Não sei em que momento da noite o sono me dominou, só lembro de esperar Eda se acalmar, e então acordo agora com seu corpo pequeno ainda colado ao meu em uma conchinha desajeitada. Aproveito a posição e acaricio seu cabelo, eles cheiram a morango e isso é como um lembrete de que preciso limitar minha relação com ela, da mesma maneira que sou completamente alérgico a essa fruta.

— Você acordou? — pergunto quando percebo sua respiração se alterar, mas ela não diz nada, apenas balança a cabeça como resposta — Você precisa levantar e comer alguma coisa

Eda continua parada, seus únicos movimentos são para esconder seu rosto.

— Eda, ei, olha pra mim.

— Eu não posso, Serkan — finalmente ouço sua voz, e mesmo sua negação é capaz de me aliviar.

— Por favor...

— Eu não posso — ela insiste — Eu estou com tanta vergonha...

— Ei, só sou eu aqui. O Serkan, seu amigo, não precisa se sentir assim — digo, tentando de alguma forma quebrar sua tristeza, melhorar seu humor.

— Essa é a pior parte, se fosse outra pessoa eu não me importaria — Eda começa a falar e percebo sua voz quebrar, mas ela respira fundo e continua — Foi humilhante demais, eu não queria que você enxergasse quem eu sou de verdade.

— Você não é os momentos ruins que você passa, Eda.

Ela parece considerar minhas palavras, mas não se move. Abraço seu corpo mais forte, deixando um beijo na sua nuca e ficamos assim por alguns minutos.

— Você prefere que eu saia? — Por favor diga que não.

— Não — um pouco de alívio me domina.

— Então, eu quero que você se levante da cama, tome um banho frio e volte aqui... eu não vou mover nenhum músculo enquanto te espero. Ok?

— Ok — ela aceita minha proposta, e ainda sem me olhar ela faz o que eu peço.

Tento continuar na cama esperando por ela, mas Eda demora. Sem conseguir conter minha curiosidade, eu observo seu quarto, até encontrar o caderno que eu mandei como presente. Leio seus rabiscos e percebo que ela escreveu algumas estrofes, e isso me faz feliz ao mesmo tempo que me faz dar conta da profundidade do quão miserável ela estava se sentindo, algumas partes da folha também estão borradas com o que acho serem suas lágrimas.

— Encontrou algo de interessante? — sua voz me pega desprevenido.

— Ops! Pego no flagra — levanto meus braços em símbolo de redenção e me viro para olhá-la. Eda agora tem seu cabelo solto e molhado, usando apenas uma camisa grande que não cobre mais que parte das suas pernas. Volto a atenção para o seu rosto, que já não tem mais nenhum vestígio da maquiagem pesada de ontem a noite. Completamente linda.

— Linda — meus pensamentos me traem e eu fico com vergonha, mas ela não parece se importar.

— A música? — ela diz irônica.

— Também — tento mudar o foco da conversa — Você deveria mandar para gravadoras.

— Não vamos falar sobre isso.

— Você um dia cantaria para mim? — eu realmente quero ver como ela fica no seu processo de criação.

— Eu não sou mais cantora — ela corta minhas tentativas de persuasão.

— Você é — insisto.

— Não, Serkan, eu não sou — ela parece derrotada — Eu sou aquilo que você viu ontem a noite, nem mais e nem menos que aquilo.

A Crying DiamondOnde histórias criam vida. Descubra agora