Dirigimos a noite toda.
Minha gargante estava seca, tinha fome
Eu não poderia reclamar, éramos só eu e você.
Não havia música, álias, o rádio permanecera desligado por anos,
Estavamos em luto.
E o silêncio? O silêncio era respeitoso.
O cansaço era visível, nós dois não dormimos
Todos aguardavam nossa chegada
E enfim chegamos.
A casa estava cheia, ele foi e sempre será querido
O corpo no meio da sala, calmo
Calmo como sempre fora
As pessoas nos olhavam, e você desabou, nós desabamos.
Precisava ser firme, o velório estava acabando.
Era hora de se despedir, de dizer adeus ao Vovô
Lembrei-me do jegue, seu querido companheiro
Das histórias que me contava, não importava o quanto pediam
Vovô sempre tinha mais espaço na cela para algo que vinha da cidade.
Não se guardava mágoas, nem rancor
O legado de um bom pai, um bom marido
Um bom avô.
Éramos só eu e você, e você foi o mais forte que pôde
Eu te amo pai
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Eu, por outro eu
PoetryMudanças. É isso que se espera a cada capítulo de "Eu, por outro eu". O amor, a velhice, a dor, perseguição, todos depositados em um só local, prontos para serem devorados. E para o meu eu do futuro, que ele olhe os poemas passados e relembre os sen...