Capítulo 15

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 Estou deitada na minha cama em uma quarta-feira qualquer assistindo Do You Like Brahms? Pela 3º vez quando o meu celular toca, e eu atendo sem olhar, porque só quem me ligam são minha família e as meninas ou o telemarketing, sério eu não devo nada pra minha operadora, porque ela vive me enchendo?

 — Ivy?  -  pulo da cama quando reconheço a voz.

Marcus? 

Eu sei que você está surpresa, mas disse pra eu ligar quando aparecessem gente da sua escola aqui, principalmente meninas.

Obrigada, manda uma foto. Dá?

Mandei.

Que porra a Alana acha que está  fazendo naquele lugar!?

Tô indo, não deixa ela fazer merda.

Conhece?

Amiga da minha irmã.

Beleza.

Sempre evito pensar na vida que eu levava antes de morar com a minha família, ninguém em sã consciência gostaria de lembrar daquele lugar.

Minha mãe e eu morávamos em uma área negra da cidade, tudo que você puder pensar de ruim lá você pode encontrar, acredito que se você não tiver uma mente forte, você se perde naquele lugar, drogas, festas, bebidas e prostituição.

Não que qualquer um de nós usássemos aquelas coisas, mas ao nosso redor cada dia mais pessoas se perdiam se não calcularem cada passo, eu vi isso acontecer, conforme a idade ia chegando mais e mais dos meus colegas de escola, vizinhos e conhecidos entrevam fundo naquele mundo, e sair se tornava cada vez mais impossível.

E eu me restringia, com cada pessoa que eu andava, com os assuntos que conversava, com os lugares que ia, as vezes até com meus pensamentos, hoje agradeço por isso, eu escapei daquele lugar, e por isso não entendo como alguém entraria de boa vontade, se bem que, os adolescentes de hoje em dia só tem merda na cabeça. Alana está sendo um bom exemplo disso.

Antes de ir embora, deixei meu número com um dos poucos amigos que tinha, tenho medo que a Vitória  ou alguma das minhas amigas se aproxime de lá, e ele me prometeu avisar se alguém assim aparecesse.

— Mãe vou pegar o carro emprestado pra dar uma carona pra uma amiga.

— Tá querida, toma cuidado.

Coloco o casaco e saio apressada até o carro, no caminho tento não pensar em andar por aquele lugar de novo, afinal faziam 4 anos que eu não andava por lá. E esperava que esse dia nunca chegasse.

Chego na boate do endereço que Marcus me enviou, odeio tudo ao meu redor, o ar, as pessoas e as lembranças que me vem só de estar ali. Sou barrada na porta pelos seguranças, é claro o maldito passe, 4 anos não mudam as regras assim.

Eu? Odiava ter que usar aquilo, mas como me deixariam entrar se eu não mostrasse?

Tiro o celular e procuro a foto, acho que ela mostra uma parte boa daquele lugar, um dos motivos de eu não ter enlouquecido totalmente antes.

— Se você for inteligente vai saber quem são as pessoas dessa foto, e não ficar no meu caminho.

Na foto, uma Ivy de 14 anos sorria ao lado da primeira melhor amiga e do irmão dela, Sabrina e ela tinham a mesma idade, estudaram juntas enquanto ela morava ali. Já seu irmão Valentim era 5 anos mais velho e costumava ser um chato na maior parte do tempo. Isso não mudava o fato de serem da família que comandava toda aquela região, e depois que o pai morreu, Valentim passou a comandar em seu lugar, afinal, chamá-lo de cretino sangue frio não era um insulto.

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