— Pode falar, estou ouvindo - ele diz me olhando com os olhos cerrados pela claridade.
— Você sabe que Vitória e eu somos primas em vez de irmãs, certo? - ele acena com a cabeça. — Eu nunca falo sobre a minha família de verdade, e acho que você deveria saber - ele abre os olhos e senta ao meu lado.
— Certo, assunto sério então. Pode falar - ele me olha esperando que eu continue.
— Eu morava com meus dois irmãos mais novos, minha mãe e meu padrasto - começo abrindo a caixinha de lembranças. — Minha mãe e eu nos dávamos bem quando eu era mais nova sabe? Porque eu via que ela me amava, mas depois de um tempo, eu passei a entender algumas das decisões dela e não gostar.
"Meu padrasto não gostava de mim, vivia me xingando e dizendo todos os tipos de coisas ruins comigo, e embora nunca chegou a encostar um dedo em mim, sempre me sentia sufocada e com ódio todos os dias. Ele falava que eu tinha puxado o "sangue ruim" da família da minha mãe e que apostava como eu iria acabar trazendo um filho pra dentro de casa sem saber quem era o pai.
Mas eu odiava principalmente como ele falava dos meus avós e dos meus tios, e no início eu ouvia calada, mas depois eu não consegui mais. Eu passei a respondê-lo sabe? E as coisas só ficaram piores, porque a minha mãe sempre vinha conversar comigo depois, me dizendo para aceitar, para ouvir calada, porque ele era o pai dos meus irmãos e vivíamos as custas dele.
Aquilo era o pior, porque eu sabia que ela estava certa. Mas eu simplesmente não conseguia suportar, então passava cada vez mais tempo fora de casa, não com pessoas ruins ou bêbados e drogados. Mas com um cara que tinha uma Lan House, e bom, ele me ensinou a mexer com computadores, em troca de eu ajudá-lo com a limpeza e atender os clientes.
Mas minha mãe não acreditava em mim, sempre achava que eu estava andando com as pessoas erradas e fazendo coisas que não devia, claro que hackear computadores não era lá uma mostra minha de obediência pela lei, mas eu sobrevivi naquele lugar graças a isso, e bem, a mais duas pessoas.
Sabrina e Valentim eram irmãos e foram minha família por um tempo. Eu vivia na casa deles e sabia quem os pais deles eram, mas isso não me importava porque eles eram sinceros e cuidavam de mim, claro que Valentim sempre precisava de favores contra algumas pessoas, mas eu tinha minhas regras e meus limites até onde deveria ir.
Minha mãe tinha cortado laços com a família dos meus avós, por causa do meu padrasto. Então um dia eu decidi que ia visitá-los, e fui. Passei o dia com eles que me aceitaram de braços abertos e eu finalmente me senti em casa.
Passei alguns meses assim, indo vê-los escondida, mas não sei como, minha mãe descobriu e me trancou dentro de casa, parece que eu estava cometendo um crime sabe? Não indo ver a minha família, e depois eu descobri que era por causa do meu padrasto, que ele tinha proibido ela de manter contato com a família.
Mas aquilo não servia para mim, então, eu pedi ajuda ao Valentim e a Sabrina, e eles me ajudaram a fugir quando não tinha ninguém em casa. Arrumei meus documentos que eu precisaria e fui para a casa dos meus avós, deixei uma carta para minha mãe, dizendo que iria escolher a minha própria vida dali para frente.
Conheci meu pai depois disso, mas ele tinha a família dele e eu não quis interferir sabe? Então, passei uns tempos com meus avós no sítio deles, mas eles sempre reclamavam porque eu não estava indo a escola, já que lá não tinha aulas para mim.
Depois, fui morar com meus tios, que tinham uma filha única que sempre reclamava ser a única a não ter irmãos. Eles me acolheram como filha e me aceitaram, nunca vou poder agradecê-los por terem me salvado ou me permitirem aceitar, que eu merecia ser salva. Amo minha família, a família que eu escolhi."
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Eu Escolhi
RomanceEsta é a historia de uma garota, que não era a mais bonita, a mais gentil, a mais doce ou a mais compreensiva. Ivy era a típica garota que gostava de dizer o que pensava e de não ouvir quando os outros queriam, ela era sincera consigo mesma e acima...