— EU PRECISO DE UMA ESPOSA, Jerry; preciso para ontem.
Olho para o meu relógio pela décima vez em uma hora. O riso surpreso de Jerry ecoando pelo telefone irrita até a minha última célula nervosa.
— Então escolha qualquer uma e se case.
— E correr o risco de perder tudo? Você me conhece melhor que isso. Eu não preciso de emoções para atrapalhar algo tão importante quanto um acordo matrimonial.
Um acordo — é exatamente disso que eu preciso. Um contrato. Um negócio que beneficie ambas as partes durante um ano. Depois, cada um poderia seguir seu caminho e nunca mais olhar para a cara do outro.
— Algumas mulheres com quem você anda não teriam problema algum em assinar um pacto antenupcial.
Eu já tinha pensado nisso. Mas trabalhei arduamente para conquistar minha reputação de canalha sem sentimentos, e não preciso estragar tudo fingindo estar apaixonado para que uma mulher suba ao altar comigo.
— Preciso de alguém que concorde com o meu plano, alguém por quem eu não sinta a mínima atração. — Bufo e olho novamente para o relógio.
— Tem certeza de que esse serviço de namoro é o caminho certo?
— Compatibilidade, não namoro. — Reviro os olhos.
— Qual é a diferença?
— Eles não atendem aos seus interesses amorosos; atendem ao seu plano de vida.
— Que romântico. — O sarcasmo de Jerry falava bem alto.
— Aparentemente, eu não sou o único nessa situação.
Jerry ri e engasga com a própria respiração.
— Na verdade — diz —, eu não conheço nenhum outro homem com o seu título e a sua riqueza que tenha contratado um estranho para lhe arranjar uma mulher.
— Esse sujeito foi muito bem recomendado. É um empresário que ajuda homens como eu em situações semelhantes.
— Qual é o nome dele? — Jerry pergunta genuíno.— Cuthbert.
— Nunca ouvi falar.
O trânsito obstruiu o cruzamento a dois quarteirões de onde eu marquei o encontro com o tal empresário. Os segundos se passam rapidamente, ultrapassando o horário marcado.
Droga, eu odeio me atrasar.
— Tenho que desligar.
— Espero que saiba o que está fazendo.
— O que eu faço é tratar de negócios, Jerry.
Ele bufa, em um tom desaprovador.
— Eu sei. É com relacionamentos que você estraga tudo.
— Vai se foder.
— Você não faz o meu tipo.
Meu motorista dá uma guinada para poder avançar.
— Vejo você à noite para tomarmos alguma coisa. — Eu desligo o telefone, e guardo no bolso do casaco.
Neil para o carro junto ao meio-fio e rapidamente abre minha porta diante do café pintado de verde e branco. Com a pasta de trabalho na mão, eu ignoro as cabeças viradas para mim quando entro na loja. O rico cheiro de grãos recém-moídos invade minhas narinas enquanto eu examino as mesas à procura do homem que me espera.
À primeira vista não encontro nada, tiro os óculos escuros e recomeço a vistoria, um jovem casal, cada um com seu notebook, bebericando seus lattes em uma mesinha. Em outra, um homem de bermuda e camiseta discutia com alguém ao celular. Um casal fazia pedidos no balcão, com um carrinho de bebê ao lado. Avançando um pouco mais, consigo notar a silhueta delicada de uma mulher com uma massa de cabelos ruivos encaracolados. Ela estava de costas e tamborilava com os dedos do pé ansiosamente, ou talvez estivesse ouvindo música com fones de ouvido. Espreito a pequena multidão, e encontro um homem solitário sentado em uma poltrona de veludo. Possui calça casual e aparenta ter quase cinquenta anos. Em vez de uma pasta, segurava um livro.
Estreito os olhos e capto a atenção do sujeito. Mas, em vez de um lampejo de compreensão, o olhar sombrio do homem voltou para o livro.
Passo pela ruiva solitária, contornando o carrinho de bebê e peço um café simples, em seguida me sento por alguns minutos para esperar. Coloco a pasta em uma mesa vazia e vou pegar o café quando o adolescente atrás do balcão chama pelo meu nome. É então que sinto o peso do olhar de alguém percorrer minha espinha. Examino o ambiente para ver quem me observa, e instantaneamente, um par de olhos azuis se estreita para mim. A mulher delicada sentada sozinha não estava ouvindo música ou lendo uma revista.
Estava me encarando.
Seus olhos impressionantes se desviaram para o notebook a sua frente antes de voltar para mim. A mulher parecia inofensiva, até que abriu a boca e falou em um tom decidido:
— Você está atrasado.

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AU Shirbert - Married
RomanceGilbert Blythe: rico, nobre, charmoso... e precisando de uma esposa até quarta-feira. Para isso, Gilbert recorre a Cuthbert, que não é o homem de negócios que ele imaginava. Em vez disso, ele encontra Anne Cuthbert, a linda e exuberante dona da agên...