Sua Graça

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— Anne Cuthbert — se apresentou, estendendo a mão.

Não era comum que eu ficasse aturdido. No entanto, com apenas meia dúzia de palavras, a mulher à minha frente me fez esquecer de respirar. Eu estendi a mão para cumprimenta-la e uma onda de calor me dominou. O olhar penetrante e o sorriso sagaz da jovem oscilaram com nosso aperto de mãos. A palma dela era fria, ainda que sua atitude estivesse totalmente sob controle.

— Você não é um homem. — Foi a coisa mais idiota que eu já havia dito a uma mulher em toda minha vida.

A srta. Cuthbert, no entanto, não se abalou.

— Nunca fui.

Anne não olhou para mim enquanto tirava uma pilha de papéis de uma pastinha que havia apoiado na lateral da cadeira. O breve sorriso que ela me dera havia desaparecido, substituído por uma linha fina entre os lábios

— Você usa "Cuthbert" para enganar seus clientes?

A mão dela, que empurrava a pilha de papéis na minha direção, parou.

— Você teria vindo se soubesse que eu era uma mulher?
 
Provavelmente não. Sem dizer isso em voz alta, eu a observei. Anne inclinou a cabeça e continuou:

— Essa é a questão, sr. Blythe. Vamos ver se eu estou lendo corretamente suas intenções. Você estabeleceu um limite de tempo para que eu prove minha capacidade. Quanto? Vinte minutos?
 
— Dez — deixei escapar sem querer.

Ela sorriu de novo, e eu senti um nó no estômago, um desejo súbito e indesejado.

— Dez minutos — repetiu ela. — Para lhe mostrar exatamente como planejo encontrar a esposa perfeita para seus objetivos de curto prazo. Um empresário como você espera rapidez, eficiência e nenhuma bagagem emocional para complicar as coisas.

Ela me observava, e seus olhos azuis nunca vacilavam. O nariz atrevido e sardento parecia inocente demais acima de seus lábios rosados enquanto ela pronunciava as palavras com sua voz hipnótica.

— Podemos prosseguir?

Beberiquei meu café e assenti.

Anne alcançou uma caneta e virou para si os papéis que havia empurrado à minha frente.

— Tenho algumas perguntas a fazer antes de permitir que o processo avance.

Ergui a sobrancelha diante daquelas palavras. Interessante.
 
— Quanto tempo eu tenho para convencê-la, srta. Cuthbert?

Ela me olhou através de seus longos cílios.

— Cinco minutos. — Me inclinei para a frente, completamente intrigado com o que ela determinaria sobre mim nesse tempo. — Você já foi preso?

Meus registros estavam limpos, mas a questão não era essa. Eu sabia que, se mentisse para Anne, ela recolheria suas coisas e sairia porta afora.

— Eu tinha dezessete anos, e o cara que acertei estava cantando a minha irmã. A queixa foi arquivada.

— Você já bateu em alguma mulher?

Apertei a mandíbula.

— Nunca.

— Já quis? — Ela me lançou um olhar afiado.

— Não.

— Preciso do nome do seu amigo mais próximo.

— Jerry Baynard.

Ela anotou o nome.

— Pior inimigo?

Eu não esperava por essa pergunta.

— Não sei como responder a isso.

— Vou reformular, então. Quem dos seus conhecidos gostaria de ver você se dar mal

Meus pensamentos examinaram a lista de parceiros de negócios que poderiam ter se sentido prejudicados ao longo dos anos. Nenhum ficaria mais rico se eu morresse. Havia apenas uma pessoa que talvez visse as coisas de um jeito diferente.

— Que imagens surgem na sua cabeça, sr. Blythe?

Tomei um gole de café e o senti bater no fundo do estômago com um baque.

— Só uma.

Anne ergueu os olhos para mim, aguardando a resposta.

— Meu primo, Billy Andrews.

Ela removeu a folha superior de sua pilha de papéis e me entregou as demais.

— Vou precisar que você preencha isto. Pode me mandar por e-mail, o endereço está no rodapé da página oito.

— Eu passei no seu teste, srta. Cuthbert?

— A sinceridade precisa ser mantida durante todo o processo. Até agora, está tudo certo para mim.

Foi a minha vez de sorrir.

— Eu poderia ter mentido sobre a acusação de agressão.

Anne começou a arrumar suas coisas enquanto falava:

— O nome dele era Drew Falsworth. Fazia dois meses que você tinha feito dezessete anos quando quebrou o nariz dele em um jogo de polo na escola preparatória que ambos frequentavam. Drew tinha a reputação de namorar meninas até conseguir levá-las para a cama antes de dispensá-las e passar para a próxima. Sua irmã era esperta e ficava longe. Se você não tivesse acertado o canalha para proteger a sua irmã, ou se tivesse mentido para mim e eu descobrisse, a entrevista teria terminado antes mesmo de você se sentar.

— Como é que você...

— Tenho uma extensa lista de contatos, e tenho certeza de que vai ouvir falar da maioria deles até o fim do dia.

— Quanto isso vai me custar, srta. Cuthbert?

— Pense em mim como uma agente. Quando o seu advogado elaborar o pacto antenupcial, tenha em mente que eu recebo vinte por cento do que oferecer à sua futura esposa.

— E se eu oferecer a ela apenas uma pequena pensão?

— As mulheres com quem eu trabalho têm um mínimo aceitável, que está escrito nessa pilha de papéis.

— E se a mulher não cumprir a parte dela no acordo? Se contestar o contrato depois de um ano?

Anne se levantou, não dando a mim nenhuma escolha a não ser imitá-la.

— Isso não vai acontecer.

— Você parece muito segura disso.

— A soma predeterminada, a parte dela, vai ficar em uma conta. Se a mulher tentar brigar por mais, esse dinheiro vai pagar seus advogados para silenciá-la. E o que sobrar é seu. Isso só mudaria se um filho entrasse na jogada e o teste de paternidade provasse que é seu. Eu não me meto em tribunais de família e crianças. Vai depender de você manter o zíper da calça fechado, sr. Blythe. Isso, naturalmente, se pretender terminar o casamento depois do ano acordado. Senão, divirta-se sendo feliz para sempre e dê o meu nome para a sua filha.

Ela havia pensado em tudo. Dizer que eu estava impressionado era um eufemismo.

— Preciso desses papéis até as três da tarde. Às cinco, entrarei em contato com uma lista de mulheres. Posso arranjar as reuniões para amanhã, se a sua agenda permitir.

Peguei a bolsa de Anne e a entreguei. Ela afastou uma mecha de cabelo rebelde dos olhos e pendurou a alça no ombro.

— Mais alguma pergunta, sr. Blythe? Ou devo chamá-lo de "Sua Graça"?

A maneira lenta como ela pronunciou a forma de tratamento devida ao meu título, era algo com que eu bem poderia me acostumar.

  — Que tal Gilbert?

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⏰ Última atualização: Mar 14, 2022 ⏰

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