Capítulo 1

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  "Isso foi um erro". Essas foram as palavras que Azriel tinha dito.

  Ela era um erro.

  Como tinha sido para Grayson.

  Como tinha sido para Lucien, o parceiro que ela desejava não ser destinada a ele.

  E agora para Azriel, o macho que ela amava.

  Elain subiu cada degrau como se sua perna ameaçasse ceder a cada momento, mas ela de manteve firme até seu quarto onde se deixou desabar e sentir a tristeza, raiva e o vazio que sentiu assim que Azriel foi embora.

  Ela se permitiu abrir o coração e o destino provou mais uma vez que ela estava errada em pensar que talvez pudesse ter esse tipo de felicidade e aquele amor que suas irmãs tinham encontrado.

  Talvez fosse o Caldeirão a punindo por ter rejeitado Lucien, mas como poderia sequer um dia amá-lo ou compartilhar a vida com o macho que estava lá quando foram traídos por Tamlin?

  Ela sabia que o amigo de Feyre não era uma má pessoa, mas não queria ele.

  Deveria ser simples, não?

  Elain fechou a porta do seu quarto e sentou no chão com as costas escoradas na madeira fria da porta e ali passou as próximas horas chorando até que o sol começasse a passar pelas frestas da cortina do seu quarto.

  Quando percebeu que a madrugada tinha passado, Elain juntou as forças que tinha e levantou em direção ao chuveiro, esperando que a água fria diminuísse as olheiras e o olho inchado. Porém ao se olhar no espelho viu que foi em vão o esforço. Seria melhor sair de casa mais cedo com a desculpa de que cuidaria do jardim de alguém e evitar que soubessem que algo estava errado. Não queria preocupar ninguém, ainda mais com a gravidez de risco da sua irmã mais nova.

  Assim que chegou na porta para sair da casa da cidade, ela lembrou do colar que repousava em seu pescoço.

  A lembrança que ele trazia era dolorosa demais para suportar, então ela devolveu para a caixa e colocou de volta na pilha de presentes. Suspirou fundo desejando que tudo tivesse acontecido de forma diferente, mas era impossível voltar no tempo e mudar o rumo das coisas. Ela escreveu um bilhete dizendo para não esperarem por ela e saiu.

  Não fazia ideia de onde iria, apenas sabia que não conseguiria encarar Azriel durante a semana.

  Não sabia se conseguiria olhar para o rosto sereno dele, sem os olhos lacrimejarem ou ficar enjoada com o fato que nunca seria dele.

  Andou por quase uma hora pelas ruas de Velaris até se deparar com uma casa abandonada. Ela estava no outro lado da cidade e nem se deu conta que tinha caminhado por essa distância toda até olhar a para trás.

  A casa se encontrava em um morro bastante inclinado, o que explicava o cansaço de Elain, mas a visão valia a pena o suor que escorria pela testa.

  Era possível ver cada casa, cada rua e cada centímetro do rio dali.

  O vento que batia acariciou seu rosto e ela deu um leve sorriso agradecida por ter achado aquele lugar.

  Ela voltou a atenção para a casa. Não estava caindo aos pedaços, mas parecia que não morava alguém ali havia décadas. Ao lado da casa, atrás de uma grande cerca de madeira era possível ver o que provavelmente teria sido um lindo jardim, mas agora estava tomado por mato e ervas daninhas.

  Elain olhou para a rua e depois de ter certeza que não havia ninguém, ela procurou uma entrada.

  Atrás da casa se estendia uma floresta de pinheiros. Se não fosse a decoração estilo "casa rústica e abandonada", ela diria que era a casa que sempre sonhou. Grande, mas não ao ponto de se sentir sozinha e cheiro de terra molhada e plantas a fazia se sentir no campo, mesmo estando dentro da cidade.

  A cerca do jardim estava quebrada atrás da casa e Elain pôde passar. Olhando de dentro do lugar parecia um labirinto, mas talvez se ela tirasse os matos daria para ter uma ideia de como realmente era.

  E assim o fez. Não se importou em sujar o vestido de terra e poeira quando começou a arrancar os matos com a própria mão até que horas se passaram e todo o mato tinha sido arrancado. Ela juntou os montes em um canto do jardim e olhou satisfeita para o trabalho que tinha feito.

  O lugar ainda estava sujo de terra e resto de pequenas plantas no chão, mas ela conseguia ver o formato dos canteiros e o real tamanho do jardim. Ela teria começado a varrer se não fosse seu corpo implorando por comida e descanso, então decidiu voltar para casa.

  O sol já estava se pondo. A luz laranja refletia no lago e todas as luzes da cidade estavam acessas.

  Às vezes, ela se esquecia o quão bonita a cidade poderia ser à noite.

  Elain chegou na casa da cidade e o peso no peito tinha voltado.

  A dor tinha voltado.

  Ela abriu a porta e ouviu a voz de quase todo Circlo Íntimo vindo da sala de jantar. Não queria ter que explicar onde estava então tentou andar de fininho até as escadas.

- Elain? Finalmente você chegou. - Disse Feyre, se levantando. - Onde estava até essa hora?

  Elain pensou no quão estúpida ela teria de ser pra pensar que não ouviriam seus passos no chão de madeira. Ela se dirigiu até a sala de jantar onde estavam sua irmã, Rhys e Cassian. Ela respirou fundo ao perceber que Azriel não estava.

  Não sabia dizer se ficava aliviada ou triste com sua ausência.

- Eu estava cuidando de um jardim da cidade. Acabei não vendo a hora. - Se forçou a falar com um pequeno sorriso no rosto. - Não precisa de levantar, Feyre. Eu vou tomar um banho e já desço para o jantar.

  Ela subiu às pressas para seu quarto, mas se esbarrou com alguém no corredor. Talvez fosse Mor indo se juntar aos outros no andar debaixo.

- Desculpa, eu não... - Ela começou a dizer até sentir o cheiro extremamente familiar. Chuva e limão.

  Era Azriel. Elain reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar. Nos últimos tempos, se tornou o seu preferido.

- Não precisa se desculpar. - Ele disse, segurando seu braço para que ela não caísse pra trás.

  Ela não pôde evitar o olhar na mão com cicatrizes segurando seu braço. Sempre achou suas cicatrizes lindas, como tinha dito quando ele se ofereceu a mostrar a ela o jardim pela primeira vez. Elas eram como um mapa que ela aprendeu a decorar depois de admirá-las todas as vezes em que ele lhe oferecia o braço para a levar a algum lugar.

  Elain sentiu Azriel acariciar sua pele com o polegar, o que a fez arrepiar e olhá-lo nos olhos. Ele parecia querer dizer algo, mas apenas soltou rapidamente o braço e desceu as escadas com pressa depois de lhe dizer boa noite.

  Ela poderia estar louca, mas podia jurar que sombras lhe acariciaram o rosto antes de seguirem o rastro de Azriel corredor adentro.

  Elain não entendia.

  Ele estava interessado nela, mas por que se afastar assim?

  Ela piscou várias vezes, recobrando a consciência e se dirigiu ao quarto em passos largos. Então fechou a porta e encostou a testa nela.

- Que a Mãe me ajude.. por favor. - Disse ela baixinho em prece.  

A Court of Dark LightOnde histórias criam vida. Descubra agora