O Uivo da Morte

Capítulo 5 - Kontroler

Eu continuava parada, observando Shion, minha melhor amiga, surpresa por vê-la ali na minha frente. Era impossível não me questionar do que ela estava fazendo em Konoha, uma cidadezinha pacata e atrasada?

Abri minha boca e depois voltei a fechá-la, ao mesmo tempo que sua sobrancelha perfeitamente desenhada se erguia para cima, sua mão acenando a minha frente em busca de qualquer reação de minha parte.

- Oi! Sakura, diga alguma coisa!?

Pisquei algumas vezes, tentando voltar ao foco e franzi levemente as sobrancelhas.

- O que você está fazendo aqui?!

E o pequeno sorriso que estava em sua boca morreu dando lugar a um bico, cruzando os braços.

- Nossa, é assim que você recepciona sua melhor amiga depois de meses sem nos ver? Você já foi mais receptiva, Sakura. Assim fico magoada.

Senti um sorriso se abrir em minha boca, deixei a surpresa de lado e me aproximei dela e nos abraçamos.

- Me desculpe – disse, sentindo suas mãos em volta de mim. E quando nos separamos continuei: - Você me surpreendeu aparecendo assim de repente... você não disse nada quando nos falamos na semana passada.

Ela sorriu travessa, do mesmo jeito que eu lembrava.

- Queria fazer uma surpresinha.

- Percebi – murmurei, e dei alguns passos para trás, olhando para os lados, percebendo só haver nós duas. Voltei a fitá-la. – Me diga, o que faz por aqui?

- Você não vai acreditar – ela tentou fazer um mistério, seus olhos violetas brilhando de um jeito que eu sabia que estava aprontando.

- O quê?

Shion se manteve por alguns segundos em silêncio, esperando que eu chutasse algo, mas logo ela disse:

- Eu vou me mudar para cá.

Se eu estava surpresa antes, agora eu estava chocada. Podia sentir meus olhos arregalando com aquela notícia, a boca aberta, pasma.

- Como assim, se mudar para cá? – Franzi o cenho, observando seu rosto tranquilo. – Shion, e seus pais? Eles vão permitir que você mude assim? Caso não saiba, Konoha é uma cidade atrasada e a muitos quilômetros de distância de Tóquio.

- Sei muito bem a quilometragem de Tóquio para Konoha. E você sabe que meus pais estão nem aí para mim o que faço e deixo de fazer com a minha vida. O trabalho deles é mais importante do que eu.

Bom, eu não podia discordar de seus argumentos, pois eu conhecia Shion desde os meus quatorze anos e das vezes que estive em sua casa seus pais estavam ausentes, em viagens internacionais. Shion fora praticamente criada pelas empregadas quando mais nova e aos seis anos jogada num internato só para meninas. Mas mudar de uma cidade moderna para uma pacata quase do outro lado do país, era radical demais. Até os pais mais ausentes não permitiriam isso.

- Estou... surpresa.

Ela fitou suas unhas muito bem-feitas por alguns segundos antes de me olhar.

- E além do mais, Tóquio ficou chato sem você. Não é a mesma coisa sem a minha parceira de crime.

E desta vez não havia como não sorrir, pois as lembranças de nós duas aprontando me veio à cabeça, para a infelicidade de meus pais. E só de lembrar deles o sorriso que Shion arrancou de mim morria a cada milésimo de segundos.

Eu não era mais a mesma Sakura de um ano atrás, que a únicas preocupações eram passar nas provas e burlar meus pais para fazer as vontades de Shion, alguma besteira adolescente que ririamos quando lembrássemos quando fossemos adultas. Agora eu era uma outra Sakura, que vivia um dia de cada vez, pedindo aos céus que o vazio em meu coração - que ficou devido a perda das pessoas que eu amava - se preenchesse com coisas boas. Eu pensava duas vezes antes de fazer qualquer tipo de besteira. Eu tinha responsabilidades com meus poderes de bruxas e um namorado desaparecido para procurar por hora, sem deixar de lado uma amiga grávida que precisava de mim.