A Última De Um Oráculo

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Nafaella lhe fazia falta, especialmente agora, pois ela poderia dizer exatamente em qual lugar da província Tanilia está. Pela posição de Elred - ou Dalok, como os orcs desse lugar o chamam - no céu, Tanilia chutaria que está em algum ponto entre Zindec e Sultani, entretanto, para ela é difícil afirmar, uma vez que tudo ao seu redor era areia e mais areia, o que a confundia bastante. Ela poderia muito bem já estar próxima de Ol'man Caara, a capital de Öter, enquanto pensa que ainda nem chegou perto. Água corrente era algo que ela não via a algum tempo, mais ou menos desde que Nafaella foi morta; e isso devia fazer o quê? Cinco dias? Seis? Tanilia não sabia, perdeu as contas mais ou menos no terceiro dia sem sua colega. Desde então, a única agua que ela bebeu foi dos seus coldres, que se esvaziaram há algumas horas. A sede já lhe aterrorizava e ela sentiu medo, de não aguentar até chegar em seu destino, e também revolta: "Se eu morrer de sede depois de ter sobrevivido àquilo tudo, eu vou ficar bem puta!", ela pensou, e, mentalmente, amaldiçoou o nome de Nafaella por tê-la colocado nessa situação.
Como podem os orcs viverem aqui debaixo desse sol escaldante? ela disse para si mesma enquanto apertava o lenço que amarrava o seu cabelo crespo. Elred começava a descer no céu e lançava sua luz alaranjada por sobre a imensidão do deserto de Öter. Tanilia andou por mais alguns minutos, até anoitecer completamente e, então, armou um acampamento exatamente onde ela estava; o cansaço bateu.
Naquela noite, Tanilia não acendeu fogueira alguma para não chamar a atenção. Sua "janta" foi apenas um pão que estava tão seco quanto a sua garganta. Foi difícil, mas ela conseguiu mastigar e engolir tudo. Antes de dormir, ela pegou o seu diário e um carvão de dentro da bolsa e se pôs a fazer anotações. Ela não pretendia esquecer detalhe algum de sua jornada até aqui.

"Dia ?? de Lídris, C2 735.
Os Falkiri ainda me procuram e estão próximos, pude ver de longe suas armas púrpura brilhando com a luz de E̶l̶r̶e̶d̶ Dalok. Eles já mataram Nafaella, cacete! O que mais vão querer de mim? Eu não tenho mais nada para eles. NADA! Insistem em não me acreditar, mas eu nunca - JAMAIS - estive envolvida com coisa nenhuma do que aquele maldito Oráculo fez. Quem pensam que sou? A porra de um monstro?!
Por mais que Nafaella (e apenas ela) estivesse, sim, envolvida com aquele Oráculo, ainda penso que ela foi uma vítima nessa situação - até por isso decidi ajudá-la a escapar dos Falkiri, mesmo que tenha me arrependido disso quando a coisa ficou séria. Ela claramente foi manipulada por aquele psicopata. Todas aquelas coisas que ele a obrigou a fazer... quase não consegui crer quando ela me contou. Meu estômago revirou ao ouvir o que ele fez com as crianças do orfanato de Sirimir. Por que ele fez isso? O que ele ganhará com todo esse caos? O Império está a beira de uma guerra com Joferstev! Tudo por culpa desse DESGRAÇADO do Oráculo!
É difícil crer que tudo isso seja real; que tudo isso seja verdade... Em uma semana, o Oráculo era a mente pensante de todo um império, aquele que nos trouxe a paz e a esperança de um futuro promissor, com todas aquelas previsões e conselhos dele, e, na outra, ele é o responsável pela morte de dezenas de pessoas por toda Eiröndil com o seu exército de corpos-secos. Quando ele finalmente for morto, pensava que minha vida poderia voltar ao normal, mas Nafaella tinha que estar envolvida, né? É claro! E eu, como a trouxa que sou, tive que ajudá-la! E agora estou aqui no meio do nada sem saber se morrerei de sede, de fome, ou se será pela lâmina de um desses Falkiri metidos à besta que pensam estar acima das leis e da moral.
Espero que encontrem logo o Oráculo, pois eu não suportarei mais nem um dia sequer fugindo."

Ela tentou escrever mais, mas as pálpebras já tentavam cobrir os olhos castanho-escuro de Tanilia, que guardou o caderno e o carvão e logo adormeceu. Pela noite, a moça sonhou que banhava-se em um rio de água fresca e o vento batia em seu rosto. Ela despertou com o céu caindo em cima de si: chovia muito. Tanilia ajoelhou-se e fez uma prece a Délion, agradecendo-o pela chuva que a refrescava. Antes que pudesse se pôr de pé, duas mãos agarraram seus braços e a seguraram com firmeza. Tanilia olhou para os lados e na sua esquerda, estava Tondrur Braços-De-Ferro, o campeão de Osbern, e, na direita, estava Nodundara Enkar, a campeã de Dalok. Os Falkiri a alcançaram.

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