O suor brilhante escorria na pele verde de Endrica, contrastando com os espinhos sem brilho que adornavam o cinto de couro transversal que ela usava. Eram pequenos prismas de cansaço que vibravam em cima dos músculos definidos da orc a cada nova marretada que ela dava no osso daquele hurtav. Ela trabalhava naquela espada de osso nos fundos de sua casa, longe do olhar de todos, pois ninguém poderia nem pensar que havia um osso de hurtav em Sultani. Aquelas cobras de fogo são praticamente impossíveis de serem mortas, ainda mais se utilizando dessas espadas comuns, feitas com ossos de olcaaras, o que tornava o preço da arma muito maior que o de uma espada de metal - e isso, em Öter, era muito dinheiro. A intenção era vendê-la para Kilimon Duleic, líder do clã Duleic. Endrica não concordava em nada com as ideias expansionistas daquele líder, mas ela precisava do dinheiro para sair da província de Öter o mais rápido possível.
Um vento quente levantou a poeira do deserto, levando a areia para lá e para cá. Quando cessou, Endrica logo pôde ouvir alguém batendo à sua porta; foi como se o vento tivesse trazido um membro dos Duleic a casa da orc. O Duleic bateu novamente, e com mais força, na porta.
- Eu já tô indo, porra! Calma! - Ela dava passos fortes no chão.
Ela abriu a porta e um Duleic adentrou, por pouco não batendo a cabeça no batente superior. Ele andou até a cozinha, parou ao lado da pequena mesa de jantar e olhou ao redor; tudo estava na mais perfeita organização e limpeza, de modo a parecer que ela gastava muito tempo limpando e arrumando tudo.- Onde está a espada? - Ele perguntou, impaciente. Endrica apontou para a porta dos fundos, indicando onde estava a arma. Chegando lá, o orc ficou maravilhado com o que viu. Uma espada de hurtav, reluzindo a cor alaranjada na frente de seus olhos! A maioria das pessoas em Eiröndil morrem sem nem imaginar ver isso pessoalmente. O Duleic levou a mão até a espada, porém, antes mesmo de tocá-la, Endrica apanhou-a e o impediu de pegá-la.
- Não antes do meu dinheiro - disse rispidamente.
- Você achou mesmo que eu iria roubar? - Ele perguntou retoricamente. - Tão aqui as tuas moedas.
A orc abriu a palma da mão esquerda e o Duleic jogou o dinheiro: 50 karsires.
- Cadê o resto? - Endrica perguntou.
- Como assim "resto"? Isso aí é tudo que me foi passado - ele respondeu sem entender a pergunta dela.
- Mas está faltando muitas moedas! O acordo era de 500 karsires pela espada já pronta. E isso ainda sairia barato, pois eu tenho certeza que nenhum de vocês conseguiria matar um hurtav!
- É o máximo que iremos pagar e você ainda tem sorte de não sair de mãos vazias! - Ele gritou irritado e tentou tomar a espada das mãos da mulher. O Duleic puxava a espada para si enquanto Endrica tentava impedí-lo. O homem estava prestes a pegar a espada da posse da orc, entretanto, Endrica pôs uma das mãos na bainha pendurada na cintura, puxou d'ali uma adaga e a enterrou nas duas mãos sobrepostas do orc, prendendo-as na mesa onde estava a espada. Ela finalizou com um soco na face dele. O orc se contorceu tentando não demonstrar sinais de dor.
- Você não vai a lugar algum sem que eu seja paga, seu verme!
- Mas eu não tenho nem uma moeda a mais! - Ele disse antes de gemer de dor.
Ela levou a mão esquerda até as mãos presas do orc e as apertou com força, fazendo o Duleic gritar.
- E eu não tenho como me importar menos - ela falou, cerrando os dentes. Endrica puxou o orc pela barba para perto de seu rosto. Ela pôde sentir seu mal hálito, mas não deu atenção a isso. - Me entregue o resto do meu dinheiro ou eu acabo com você, seu inútil! - Ela começou a revistar os bolsos do Duleic. - Cadê elas?!
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Contos de Eiröndil
FantasyConheça Viorno e a sua busca pela canção perfeita; a breve jornada de Tanilia pelo deserto de Öter; a história de como Endrica se meteu no meio de um conflito entre os dois clãs dos orcs de Sultani, enfim... Tudo é possível em Eiröndil.