Capítulo 8: Você

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—Eu não consegui dizer pra eles o que estava sentindo, o que estavam fazendo comigo.

(Jisung): Mas isso não te torna fraca. Você aguentou tudo isso dentro de si mesma e ainda aguenta. Você não pode acreditar em tudo que dizem pra você. Sabe... Eu não sou exatamente um simbionte que veio de algum outro planeta, eu fui criado como um experimento, era pra ser algo como um traje que aperfeiçoasse as habilidades do meu hospedeiro. Por isso não tive um pai ou mãe. E de qualquer forma não teria os dois... Os simbiontes não precisam de parceiros pra ter filhos. O seu professor disse que eu fazia parte de um estudo, que me encontraram em um dos meteoritos que atingiram a terra. Mas ele mentiu. Então seja lá o que mais seus pais disseram sobre você, não é por serem seus pais que tudo que dizem é verdade absoluta. Só você pode dizer o que você é, e pode ter certeza de que não é fraca.

—Obrigada.

(Jisung): Só disse a verdade... Até pareço ser o primeiro a te dizer ela.

—Não duvido que seja o segundo. A Alie seria a primeira.

(Jisung): Por um.

—Por uma. —Sorri.

(Jisung): É melhor tentar dormir de novo.

—Tudo bem.

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  Os dias se passavam, e eu me sentia melhor mesmo que ele ainda estivesse ali, acabamos nos aproximando depois daquela noite. Eu não parecia mais tão cansada, nem mesmo me sentia tão cansada quanto antes. Meu organismo se acostumou finalmente. Eu não estava indo nas aulas assim como o Ji disse, talvez fosse melhor mesmo, já corríamos riscos mais do que suficientes e não precisávamos de mais preocupações.

    O Hyun estava quase sempre na minha casa nos ajudando com o que fosse necessário, eu não esperava isso, mas não reclamava. A Alie estava preocupada, afinal eu não ia nas aulas, e por isso eu iria passar o meu curso pro EAD, mas não sabia ao certo o que iria acontecer com o intercâmbio, segundo o Hyun eu ainda estaria no intercâmbio até porque as provas seriam presenciais no campus.

—Como está sendo seu dia?

(Hyunjin): Normal, trabalhos pra entregar, seminários pra apresentar, "vida" de universitário. A emoção está em ajudar vocês.

—Emoção?

(Jisung): Hm.

(Hyunjin): É emocionante, nunca sei o que pode acontecer algo sempre me tira da rotina.

—Bom saber.

   Assim que saí da cozinha voltando pra sala um barulho muito alto começou a ecoar pelo apartamento, estava doendo tanto que não consegui mais ficar em pé e acabei caindo de joelhos enquanto tentava tampar meus ouvidos, não podia demorar muito pra passar. Simbiontes odeiam sons em alta frequência, e claro que morar em uma cidade grande era um problema.

   Se eu estivesse certa o som estava vindo do andar de cima e quem quer que fosse o otário eu só esperava que colaborasse. Respirei fundo ainda tentando abafar meus ouvidos e me levantei, repetia por várias vezes na minha cabeça que isso ia passar rápido, me levantei indo até a porta e saí indo pro elevador tentando me equilibrar.

   O som era ainda mais alto no corredor e eu esperava que estivesse mais abafado dentro do elevador, meu principal problema seria quando chegasse ao andar de cima. Assim que as portas se abriram eu apertei o botão do andar superior e em alguns segundos eu estava nele. Assim que as portas se abriram eu senti a dor se intensificar. Chegando à frente da porta eu bati com tanta força que podia jurar que quase a quebrei. O som parou e em minutos a porta foi aberta.

—O que é?

—Pode por favor fazer o mínimo de barulho?

—E por que deveria?

—Eu temia que perguntasse isso.

   Em segundos o Ji saiu e eu vi a cor do garoto sumir.

(Jisung): Eu não quero ouvir nem mesmo a sua respiração moleque.

   Ele só acenou positivamente com a cabeça e o simbionte voltou pra mim. Voltamos pro elevador e logo estávamos no apartamento de novo.

(Hyunjin): Onde vocês foram?

—Resolver o barulho.

(Hyunjin): E como resolveram exatamente?

—Ele viu o Ji.

(Hyunjin): Vocês enlouqueceram?! Ninguém pode ver ele.

(Jisung): Ele estava nos torturando com aquele barulho maldito.

—O que podíamos fazer? Não ia adiantar bater a vassoura no teto.

(Hyunjin): Tudo bem. Mas não podem se arriscar assim.

—Vamos tentar.

(Jisung): Vamos?

—Precisamos.

(Hyunjin): Ok, descobri uma coisa... Os simbiontes só se relacionam com um hospedeiro quando esse hospedeiro é alguém íntegro e com valor moral... Mas eles odeiam se separar de seus hospedeiros, sendo assim ao invés de se separarem quando o hospedeiro não está à altura, eles consomem o hospedeiro. Isso significa que você é uma boa pessoa pra ele.

—Isso é reconfortante. Sabia disso Ji?

(Jisung): Ele não se cansa de bancar o especialista?!

(Hyunjin): E tem outro ponto nisso... Se a pessoa não tiver esse quesito, ele consome mente e corpo dela, sendo assim, acho que podemos conseguir um corpo só pra ele.

—E como seria isso?

(Jisung): Você ainda quer que eu vá embora?

—Eu já volto.

(Hyunjin): Tudo bem.

   Eu subi pro meu quarto e assim que fechei a porta e me encostei na mesma então ele saiu de mim.

(Jisung): Achei que estávamos indo bem...

—E estamos, mas, você não acha que seria melhor se você tivesse seu próprio corpo? Você poderia ir aonde quisesse e...

(Jisung): Eu não ligo pra isso.

—O que você quer então?

(Jisung): Eu já tenho... Você.

—Eu tenho certeza de que pode existir uma vida mil vezes melhor pra você do que viver preso à mim. —Digo sentindo meus olhos se encherem.

(Jisung): Eu fui criado nesse mundo, e durante a minha vida eu conheci alguns humanos, todos me trocaram, ou não eram bons o suficiente... Então você finalmente apareceu... Mas, mais uma vez... Não me querem aqui.

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