Capítulo 6

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Divirtam-se!!!

 
— Não sei como eu deixei você me convencer a embarcar para o Havaí de uma hora para a outra — Lena disse a Kara se sentando em uma cadeira no saguão do aeroporto.
 
— Você realmente diria não a nós três?
 
A loira, Lori e Liam a olharam fazendo um biquinho e piscando repetidas vezes.
 
Enquanto tentava convencer Lena a aceitar a viagem, Kara ensinou para as crianças seu melhor olhar de cachorro que caiu da mudança. Ao longo dos dias, os três faziam aquelas carinhas pidonas durante todo o jantar. Eles continuaram até o dia que a morena disse sim a eles.
 
— Isso é injusto. Vocês são três, eu sou só uma. E você não deveria ter ensinado eles a fazer essa carinha.
 
— Mas ficam tão lindinhos? — se sentou ao lado da morena e as crianças ao seu lado. — Vai ser legal essa viagem. Eu te prometo.
 
Lena deu uma olhada de relance nos filhos vendo o quanto pareciam animados conversando entre si.
 
— Eu só não acho justo — falou só para ela ouvir. — Não precisava fazer isso só para compensar o fato de envolver a gente na sua falsa história. Eu aceitei entrar nessa, e você já os recompensou bem.
 
— Eu sei que meti vocês numa encrenca muito maior do que a inicial. Na verdade, eu nem imaginei que isso iria tão longe — a olhou. — Mas não estou fazendo isso por causa da mentira.
 
— Porque então?
 
— Gosto de agradar os dois. Percebi que fico feliz vendo eles felizes — deu ombros. — Não tenho culpa se me apaixonei por seus filhos e os quero pra mim. Sou emocionada, me apaixono fácil. Não consigo evitar o amor em suas diferentes formas.
 
O coração de Lena se encheu de alegria ouvindo aquilo e logo seu rosto se iluminou. Conhecia Kara o suficiente para saber que estava falando a verdade sobre as crianças. Ela poderia mentir com muita facilidade, mas quem a conhecia sabia que seus olhos a entregavam.
 
— Eu acredito sobre o que falou dos meus filhos, mas agora dizer que se apaixona fácil e que não consegue evitar o amor, isso já é uma grande mentira.
 
— Claro que não menti nisso — fez uma cara de ofendida.
 
— Você se apaixona fácil? — viu a loira concordar. — Em todo esse tempo que a gente se conhece, eu nunca ouvi você dizer que estava apaixonada por ninguém. E sei que Diana não entra nessa conta. Você só está com ela porque faz bem para o seu ego.
 
Realmente, estar quase chegando aos quarenta e saber que uma jovem que nem havia completado ¼ de um século estava apaixonada por ela, era uma enorme massagem para o seu ego.
 
— Porque ninguém acredita no que eu sinto em relação a ela?
 
— Será que é porque você mente pra ela? — arqueou as sobrancelhas. — Você prefere inventar mil coisas do que falar a verdade.
 
Era verdade, não sabia ser sincera com Diana. Provavelmente, a única coisa verdadeira que a jovem sabia dela era o nome e a profissão.
 
— Só pra você saber, depois do meu quase casamento, eu me apaixonei — era a primeira vez que dizia aquilo em voz alta. — Foi a primeira vista. Todos os dias eu me lembro da sensação que me invadiu ao olhar aquela pessoa.
 
— E você continua sentindo a mesma coisa?
 
Internamente, torcia para que ela dissesse que não.
 
— Não vou falar mais sobre isso.
 
— Fala. Por favor? — choramingou. — Achei que éramos amigas o suficiente para falar sobre essas coisas.
 
— Você não me falou se está namorando o barbicha esvoaçante — era difícil não falar de Jack e fingir que não tinha curiosidade de saber se eles tinham algo. — Achei que éramos amigas o suficiente para falar sobre essas coisas.
 
Prestes a responder, Lena acabou sendo atrapalhada quando a voz animada de Diana chegou àquele momento.
 
Embora Kara tenha dito mais de uma vez para não colocar Diana na balança para não atrapalhar sua decisão, não foi fácil para Lena tirar ela da contagem. Havia gostado daquela garota alegre e não tinha  nenhum problema com ela. Todavia, tinha que ser honesta, se a viagem só fosse entre a falsa família, não teria demorado para dar uma resposta positiva a loira.
 
— Eu estou muito animada para essa viagem — a jovem se aproximou sorridente.
 
— Nós vamos ao Havaí. Vamos nadar com os golfinhos — Kara comentou quando tirou os olhos de Lena e fitou Diana que continuava em pé. — Vai ser divertidíssimo.
 
— Estou ansiosa para me divertir com as crianças.
 
— E essa revista? É uma revistinha adolescente que trouxe para os meus filhos?
 
Diana segurava em mãos algumas das revistas adolescentes mais bombadas de National City. Kara se lembrava de ler aquilo quando tinha seus quinze, dezesseis anos.
 
— Não. São minhas. Eu sou fã — respondeu à Kara com certa inocência.
 
Um pouco sem jeito por estar na frente de Lena, Kara se levantou na intenção de cumprimentar Diana com apenas um abraço. Após fazer isso, a morena estava prestes a beijá-la, mas parou no meio do caminho — o que fez Kara se sentir aliviada — quando sua atenção se voltou para uma ruiva de boina francesa, correndo com uma mala na mão.
 
— Esperem! — Alex gritou com um sotaque francês fajuto. — S'il vous plaît, attendez (por favor, esperem). Imra, por favor, espere.
 
Querendo confirmar de quem era aquela voz que chamava por seu falso nome, Lena se levantou e franziu o cenho.
 
— O que você tá...
 
Foi silenciada quando Alex grudou seus lábios de surpresa. Sem entender aquilo, a empurrou rapidamente.
 
— Oh, mon chéri (minha querida). Eu não sei viver sem você, meu petit gâteau — olhou para a irmã que estava séria e para Diana. — É você? É a mademoiselle Kara que tá na minha frente?
 
— Eu não tô entendendo nada — a loira disse entre os dentes.
 
Je suis désolé (me perdoe). Eu não me apresentei. Nos falamos pelo telefone — estendeu a mão. — Eu sou a famosa Hermione Granger. Eu sou amiguinha da Imra e brinquedinho sexual dela.
 
Ao mesmo tempo, Kara e Lena reviraram os olhos.
 
Alex estava por dentro de toda aquela balela inventada pela irmã. Mas quando Kara disse que iria para o Havaí, não a incluiu no pacote.
 
Mesmo estando surpresa pela presença de Alex e sua atuação digna de um Framboesa de Ouro, Lena achava aquilo tudo bem a cara dela. A ruiva era ótima em passar vergonha em altos níveis.
 
— A Kara disse que você tinha que ficar trabalhando — Diana entrou na conversa.
 
— O que? O que ela disse? Non. Non. Non trabalhar. Eu trabalho depois que je m'amuse (me divirto).
 
— Eu tô achando tudo isso maravilhoso — Diana sorriu maravilhada. — Tá tudo tão maduro. Eu queria que meus pais tivessem uma relação assim depois do divórcio.
 
— Foi por isso que eu achei que ela tinha que vir com a gente — deu um sorriso venenoso para irmã. — Tudo numa boa. Eu tô muito contente.
 
Por causa do jeito que Kara fitava a irmã como se fosse pular no pescoço dela a qualquer momento, Lena apertava os lábios para não rir. Mas, ainda assim, não estava gostando nada de saber que teria que fingir estar em uma relação com Alex.
 
— É importante que as crianças vejam o quanto somos unidos. E eu não consigo ficar longe do meu macaron — abraçou Lena pela cintura a puxando para mais perto. — Ela não vive sem mes bisous (meus beijos), entende?
 
De um jeito totalmente caricato, a ruiva colocou parte da língua para fora enquanto se inclinava para beijar Lena. Rapidamente, a morena segurou sua língua para impedi-la.
 
— Nossa! Como sua língua está seca. Vamos pegar um pouquinho d’água pra você — começou a se afastar.
 
— Parece a língua de uma vaca — Kara observou as duas até o lugar onde pararam.
 
Se não tivesse que ficar de olho nas crianças, Kara teria ido junto com Lena só para poder bater na irmã. Não havia gostado nada do jeito que ela chegou beijando a sua assistente. Do mesmo jeito que não gostava quando ela flertava com a morena na sua frente.
 
— O que você veio fazer aqui? — perguntou com cara de nojo, limpando sua mão na blusa de Alex.
 
— Sei lá... ajudar a pátria. Ajudar. Sei lá.
 
— Você vai inventar uma desculpa e vai voltar pra casa — começou a falar quase em tom de ameaça. — Tudo isso já tá complicado demais. Não precisamos de você para piorar a situação.
 
— Eu não posso voltar, Lena.
 
— Porque?
 
— Digamos que... talvez, eu tenha mandado uma foto dos meus air-bags pra uma menina que eu saía.
 
— Que nojo! — sacudiu a cabeça negando.
 
— Eu mandei a foto — continuou com a história — e esqueci que ela está noiva de uma lutadora de MMA. E agora ela tá querendo quebrar a minha cara.
 
— Pois deveria quebrar — cruzou os braços. — Não é você que vive dizendo que bate em qualquer um?
 
— Eu bato, mas ela é o dobro do meu tamanho.
 
Durante um minuto, Lena apenas a encarou. Aquilo tudo era surreal demais. Já estava quase se arrependendo de aceitar a viagem. Como se já não bastasse ter que ver Kara com Diana — coisa que ela não estava gostando, mas não queria admitir para si mesma — de quebra, ainda teria que aguentar Alex.
 
— Se você — apontou o dedo indicador para ela — me beijar novamente, eu mesma vou quebrar a sua cara.
 
Alex se encolheu com a ameaça. Do mesmo jeito que sua irmã mais nova, morria de medo quando Lena estava séria e com as sobrancelhas arqueadas. Preferia ser atacada por um enxame de abelhas do que ter aqueles olhos verdes ameaçadores em cima de si como estavam agora.
 
— Se fosse minha irmã você iria gostar do beijo — murmurou.
 
— O que disse?
 
— Eu não disse nada, não.
 
— E aí, gente, como vai ser? — Kara interrompeu a conversa das duas por não gostar da irmã perto de Lena.
 
— Já vou! — mudando seu jeito de falar, voltou a se aproximar da irmã com a mão estendida e com a palma para cima. — Só estou esperando o dinheiro da passagem.
 
Engolindo seco a raiva que estava sentindo, Kara olhou para Lena querendo saber dela se estava tudo bem Alex ir. Como resposta, recebeu um curto aceno de cabeça.
 
— Quer dizer que você vai, e eu que vou pagar.
 
— Claro — riu como se fosse óbvia demais a resposta para aquela pergunta. — Hermione não tem doletas.
 
Se aproximando da irmã, deu um soco no seu braço com força.
 
— Isso é por ter beijado a minha mulher.
 
Durante o voo, Kara ficou sentada entre Lena e Diana que conversavam sem parar. Algumas vezes, olhava para a morena de olhos verdes e sorria de maneira simples e terna, esquecendo que no assento do corredor estava a pessoa que ela tinha um relacionamento. Só dava conta disso quando a outra morena tentava chamar sua atenção.
 
No banco da frente, Alex entretia as duas crianças. De um lado, Lori fingia falar sua língua materna de forma acentuada. Do outro, a ruiva cuspia seu francês falso. Só o pequeno Liam que de certa se mantinha indiferente de tudo aquilo. Tirando o fato dele chamar Kara de mãe, ele não estava contando nenhuma outra mentira ou fingindo ser quem não era.
 
Seu bolinho era o mais puro entre todos os envolvidos naquela história.
 
Por sorte, depois que Lena aceitou a viagem, Kara tinha conseguindo fazer a reserva de dois quartos no Hilton. No entanto, como foi feita em cima da hora, iria custar muito caro ficar em uma suíte master e na suíte presidencial.
 
Não estava se importando com o tanto que iria gastar em tudo aquilo para ver a felicidade de seus falsos filhos, mas alguma coisa no fundo do seu peito a estava incomodando. Tentou descobrir o que era durante a viagem toda, mas não chegou a lugar nenhum. Ou estava preferindo se enganar que não tinha descoberto o motivo do incomodo.
 
Quando chegaram, a primeira coisa que as crianças quiseram fazer foi ir a praia.
 
Enquanto Liam e Lori brincavam na beira do mar, Diana estava mais para o fundo nadando. Na areia sentadas em cadeiras de praias em baixo de guarda sóis, estavam Kara e Lena. Já Alex, certamente tinha ido flertar com alguém.
 
— Eles estão muito felizes — comentou olhando as crianças.
 
— Estão, sim — Lena concordou. — Liam mal conseguiu dormir de ansiedade por causa dessa viagem. Os dois vão falar disso por muito tempo.
 
— Que bom que consegui dar um pouco de alegria a eles.
 
— Acho que depois que você passou a conviver mais com eles, não os vi mais tristes pela ausência da mãe — virou a cabeça para a olhar no mesmo minuto que Kara a olhava. — Você faz bem a eles.
 
— Eu sei — deu um sorriso ladeado. — Eu sou uma ótima mãe. Deveria ter me escolhido para ser a mãe dos seus filhos ao invés da Bertineli. Eu desempenho muito bem esse papel.
 
— Como se eu tivesse te conhecido antes de casar com ela — respondeu de forma irônica.
 
Com o comentários, começaram a pensar  no que poderia ser diferente se tivessem se conhecido antes.
 
— E você? Está gostando daqui?
 
— Tirando a sua irmã, eu não tenho o que reclamar — as duas riram.
 
— Na volta a gente bate nela. Deixo você fazer isso primeiro por ela ter te beijado — se sentiu incomodada ao lembrar do beijo.
 
— Não vou recusar essa proposta. Posso pedir um favor? — Kara assentiu. — Pode passar protetor nas minhas costas? A pele está começando a arder.
 
— Cla-claro — sentiu sua garganta ficar seca.
 
Saindo de sua cadeira, Kara foi até a de Lena sentando atrás dela. O mesmo nervosismo que teve ao fechar o zíper de seu vestido, ela estava sentido ao tentar espremer o tubo do protetor que a havia sido entregue.
 
Lena não estava de biquíni, usava um vestido esverdeado curto de alcinha e com um decote de V, que quase fez Kara infartar quando a viu nele. Seus ombros, parte das costas, braços, pernas, parte das coxas, todos expostos o suficiente para a loira quase não conseguir focar em outra coisa. E agora estava prestes a tocar sua pele sem nada por cima.
 
— De novo tem uma bomba nas minhas costas?
 
— Hum?
 
— Está demorando a passar o protetor.
 
— Ah! — se lembrou do que ia fazer. — Me distraí olhando as crianças — mentiu.
 
Como se aquela pele fosse feita de porcelana fina e quebradiça, cuidadosamente Kara começou a espalhar o líquido branco na parte exposta das costas e dos ombros da morena. Estava demorando bem mais do que se demora para passar um protetor solar, mas como Lena não reclamou, apenas continuou com o que fazia lentamente.
 
— Não te elogiei hoje — se atreveu a começar a espalhar protetor por parte de seus braços. — Vai soar repetitivo, mas você está perfeita.
 
— São seus olhos — soltou um sorriso anasalado.
 
— Eles te acham perfeita — ficou calada por alguns instantes. —Vamos jantar fora hoje. Todos nós. Fiz a reserva antes da gente vim para a praia.
 
— Devo usar que tipo de roupa? — virou um pouco a cabeça para a olhar.
 
— Pode ir até sem, se quiser — arregalou os olhos. — Me desculpa, Lena. Me desculpa. Não foi isso que eu quis dizer — se afastou rapidamente indo para a sua cadeira. — Por favor, me perdoa. Não sei porque eu disse isso.
 
Aquele frase não era para ter saído em voz alta.
 
— Respira, Kara — começou a rir do jeito que ela tinha ficado envergonhada. — Só foi um comentário. Relaxa.
 
— Não é que eu não quisesse ver você sem roupa, é que não era nesse sentido — tentou se explicar  — Só quis dizer que você poderia ir como quiser. Você tá sempre perfeita. Ficaria perfeita como veio ao mundo.
 
— Então você queria me ver sem roupa? — elevou uma única sobrancelha e viu a loira travar.
 
— A minha pequena estrela e o bolinho estão me chamando para brincar. Tchau, Lena.
 
Observando a loira de biquíni azul e shorts se afastar, Lena riu de como ela ficou nervosa. Não pode deixar de provocá-la, gostava de vê-la naquele estado em que ficou. Mas gostava muito mais de vê-la dar atenção aos seus filhos.
 
Após se separar de Helena, passou por momento muito complicado. Como se já não bastasse ver os filhos sofrendo pela ausência da outra mãe, ela mesma sofria com isso sem querer. Nesse período, teve que lidar com suas frustrações, tristeza, raiva, medo, sensação de abandono e até baixa autoestima.
 
Ter Kara sempre a elogiando, se lembrando de coisas simples sobre ela e a ouvindo quando precisava falar com alguém, era como um sopro de ar fresco num dia quente. Amenizava tudo.
 
Não queria pensar no momento em que a loira se afastasse dos seus filhos por causa de Diana. Não queria os ver sofrer pela ausência de mais uma pessoa. Lena sabia que em pouquíssimo tempo ela havia chegado no coração deles. Também não queria pensar na possibilidade disso acontecer com ela.
 
Era pensando nisso que a fazia se arrepender de ter se permitido se envolver nessa mentira e deixar seus filhos embarcarem nessa história.
 
******
 
O restaurante escolhido por Kara, estava tendo uma apresentação de dança havaiana. As crianças estavam impressionadas com o que viam e mal conseguiam parar de sorrir. Olhando para elas, Kara também sorria, sentia que pela primeira vez em muito tempo, estava fazendo algo certo em ter Lori e Liam em sua vida.
 
Quando disse a Lena que se apaixonou por eles, não era mentira. Nesse momento, não haveria nada que eles a pedissem que ela não faria. Só se arrependia de não ter se aproximado deles antes. Aquelas crianças eram especiais como a mãe deles era. Qualquer um que pudesse ter os três em sua vida, deveria se considerar sortudo.
 
Kara estava se considerando assim, pois agora tinha os três ali com ela. Nem conseguia mais se imaginar sem encontrar Lena todos os dias de manhã no trabalho — apesar que essa parte já tem anos — ou de não levar Lori e Liam para passear. Iria fazer isso até o dia que sua assistente permitisse.
 
Apesar das conversas paralelas no restaurante, a mesa que estavam, estava silenciosa. Isso estava agradando a todos que já se conheciam há algum tempo. Mas então, Diana decidiu quebrar o silêncio se sentindo incomodada.
 
— Nós viemos aqui nos conhecer — começou dizendo chamando atenção de todos. — Hernione porque não fala um pouco sobre você? O que você faz da vida?
 
— Eu... eu trabalho com ovelhas.
 
Os olhares de Kara e Lena se cruzaram sabendo que mais uma vez no dia Alex estressaria as duas.
 
— Como é que é? — Diana perguntou surpresa.
 
— Eu trabalho com ovelhas. Sou ovelheira — respondeu com muita propriedade. — As pessoas non compram mais as ovelhas do pastor local.
 
— Não compram, é? — Lena perguntou só para ver onde aquilo iria dar.
 
— Claro que non, mon chéri. Elas entram no meu site, compre a sua ovelinha ponto com — encarou Diana.
 
— E o que as pessoas fazem com as ovelhas?
 
— O que quiserem! A criatividade não tem limites. Viram bicho de estimação, também servem para proteger a casa ou vão para clube de luta das ovelhas.
 
Lori e Liam se olhavam sem entender como poderia haver um clube de luta de ovelhas. Em contra partida, Diana parecia ter acreditado naquela lorota.
 
— E o que acontece, lá? — a morena mais nova quis saber.
 
— Elas lutam — respondeu com animação. — As ovelinhas se juntam e lutam. Quando uma vai pra lona é fim da luta. Foi assim que eu e mon chéri nos conhecemos. Crianças tampem os ouvidos. Ela tem fetiche com o pelinho das ovelhas.
 
— Kara — Lena atrapalhou a emocionante da história de Alex. — Podemos conversar um instantinho?
 
— Claro — se levantou. — E vocês façam o jogo do silêncio. Podem começar — começou a seguir Lena que se afastava evidentemente nervosa. — O que foi?
 
— Eu não aguento mais a sua irmã. Não consigo ficar perto dela.
 
— Se acalma. Vai te acalmar bater nela? — parou a sua frente a impedindo de andar.
 
— Eu vou matar ela — soltou um grunhido.
 
— A gente chama ela e bate nela juntas. O que acha? — segurou seus ombros. — Por favor, se acalma. Deixa Alex com as histórias dela pra lá.
 
— Mas ela me põe no meio.
 
Querendo rir de como Lena queria realmente enforcar sua irmã, aproveitou que estavam longe da mesa e abraçou.
 
— Se você levar a Alex tão a sério, não vai aproveitar tudo aqui. Você estava tão feliz. Estava linda sorrindo agora a pouco.
 
— Antes dela abrir a boca. Quem tem fetiche em pelos de ovelhas? — perguntou irritada, mas sem esperar resposta. — Diana vai achar que sou uma pervertida. Meus filhos vão achar isso quando tiverem idade para entender o que é fetiche.
 
— Nossos filhos — corrigiu automaticamente. — Alex é assim porque minha mãe a deixou cair do berço.
 
Rindo do comentário, Lena acabou relaxando com o abraço e a suave caricia que Kara fazia em suas costas contribuiu. Poderia ficar a noite inteira daquele jeito e não reclamaria.
 
— Se ela continuar com essas bobagens, eu não vou aguentar e vou embora — falou ainda abraçada a Kara.
 
— Você não vai me deixar, não. Eu mando ela embora e você fica — se afastou do abraço só o suficiente para a olhar. — Se você for embora e levar meus filhos, eu vou entrar na justiça pela guarda deles — viu Lena dar um sorriso simples.
 
— Mais uma gracinha dela e você fica sem irmã.
 
— Sempre quis ser filha única e meus filhos não precisam de uma tia — analisou o rosto da morena afastando alguns fios que caíram na frente dos olhos de Lena. — Mais calma, meu anjo?
 
Seus olhos se encontraram. Lena estava capturada pela frase “meu anjo”.
 
— Lena?! Lena Luthor?
 
A morena olhou ao redor para ver quem a tinha chamado pelo nome correto.
 
— Não acredito — se afastou de Kara. — Imra Ardeen.
 
— É por causa dela que você fala aquilo? — Kara perguntou vendo uma morena se aproximar.
 
— É ela mesma. Minha melhor amiga da faculdade.
 
Terminando de falar, sentiu Imra a abraçar.
 
— Nós duas aqui, no mesmo hotel, na mesma hora. Não sabia que frequentava esses lugares — começou puxar Lena em direção a tenda onde ela estava. — Quero te apresentar uma pessoa. Lena, esse Mike, meu marido. Já deve ter ouvido falar dele, o que inventou o Ipod.
 
Nunca tinha ouvido falar dele.
 
— Claro, o inventor do Ipod. Muito prazer.
 
— Você está deslumbrante — Imra olhou Lena de cima a baixo. — Ainda bem que consertou os dentes. Muito melhor.
 
— E você continua a mesma Imra de sempre — tentou sorrir, mas já estava irritada de novo.
 
— Ah! Eu encontrei outro dia com a Veronica Sinclair. Coitadinha. É divorciada e tem um filho. É mãe solteira. Que desastre. Você se casou?
 
Olhando para trás, percebeu que Kara tinha se aproximado da tenda. Havia embarcado numa mentira a pedido dela, agora ela teria que retribuir seu favor.
 
— Casei. Eu me esqueci de apresentar — foi até Kara e a puxou para se aproximar. — Imra, essa é Kara Danvers, minha esposa.
 
— Oi. Oi. Oi. E aí, Ipod, como é que vai? — cumprimentou o casal e depois passou um dos braços pela cintura de Lena.
 
— Me diga — Mike olhou para Kara. — O que é que você faz?
 
— Ela é cirurgiã plástica. A melhor de National City segundo os jornais. Digamos que eu me dei muito bem — falou convencida por finalmente poder ter saído por cima. — O papo tá bom, mas nós temos que voltar para as crianças.
 
— Vocês tem filhos? — Imra perguntou e as duas assentiram. — Então estão casadas há muito tempo?
 
— Temos dois filhos. E sim, somos casadas há muito tempo. Eu lá sou doida de deixar essa mulher? — olhou para Lena.
 
— Vamos combinar um jantar qualquer dia.
 
— Vamos sim. Agora temos que ir. Tchau, Imra. Tchau, Mike — Lena disse rapidamente querendo sair dali.
 
De mãos dadas, elas se afastaram da tenda. Kara notou que Lena tinha ficado nervosa ao encontrar Imra, estava há um tempinho calada e nem mesmo havia percebido que estavam indo para o lado contrário da mesa.
 
— Nossa mesa é para o outro lado, irritadinha.
 
— Primeiro sua irmã. Agora Imra. Quem vai ser a próxima pessoa a me estressar? — parou de andar e olhou para Kara esperando uma resposta.
 
— Provavelmente a Alex. Se acalma, Lena — pediu de forma carinhosa. — Acabei de saber que somos casadas, não quero ficar viúva porque você deu um piripaque. Temos dois filhos pra criar, esqueceu? Quer um abraço anti estresse?
 
— Estou com a impressão que você está fazendo de tudo para colocar suas mãos em mim hoje.
 
— Só estou cuidando da minha mulher — abriu os braços. — Sei que você quer me abraçar. Não precisa fingir que não — sorriu quando Lena se aproximou e pode rodeá-la de forma carinhosa. — Já te disseram que você é gostosa de abraçar?
 
— Não — se aconchegou mais nos braços da loira.
 
— Lena Luthor, você é gostosa de abraçar — sussurrou para ela. — Você se encaixa direitinho em mim.
 
Como não se acalmaria novamente com Kara sendo tão carinhosa e atenciosa? Ela era seu sopro de ar fresco em dias quentes. Não dava para negar.
 

 
 
Odeio Mike em fic, mas o personagem é meia boca igual a ele, por isso coloquei.
 
:)

Esposa de MentirinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora