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    - Então madrinha, o que mais a senhora tinha para me falar? - Lyanna perguntou assim que Indras deixou a casa delas.

    - Eu acho que seria mais fácil eu mostrar do que tentar te explicar - Sarah disse se levantando da cadeira e já se encaminhando para a porta da casa, - Vamos?

     Lyanna se levantou seguindo sua madrinha para fora de casa. As duas foram andando para de trás da casa, e logo entraram numa trilha que tinha lá perto, não demorou muito para que dessem de cara com a parede de troncos trançados que impediam de se entrar nas profundezas da floresta.

    - Todas as bruxas conseguem passar por esses troncos naturalmente, mas a maioria vive com medo de usar seus poderes ou simplesmente nem sabem usar eles, vivem com uma “coleira” sendo dominadas pelos vampiros - Sarah passava a mão pela parede e ia explicando para a jovem bruxa, - Somente aqueles que não querem fazer mal a floresta, que entendem que tem que haver equilíbrio entre as raças, conseguem passar desse ponto.

    - Eu não tinha a mínima ideia disso, eu imaginava que não podíamos mais entrar na floresta e pronto - Lyanna respondeu espantada com a informação.

    - A grande maioria acha isso mesmo, os vampiros fazem questão de espalhar essa informação, já que eles não conseguem passar de jeito nenhum por essa barreira, nem colocar fogo nem nada.
   
    Sarah pegou na mão de sua afilhada e a colocou na parede de troncos, se afastou um pouco e foi passando as seguintes instruções:

    - Feche os olhos, se concentre na parede, no que você sente e nos sons que você ouve, se concentre na sua respiração, no poder que há em você, se foque nisso.

    Lyanna fez exatamente o que Sarah falou, começou a se concentrar no modo que sua respiração saía e entrava em si, nos sons que ouvia, no toque da parede em sua mão, o centro da sua testa começou a ter um leve brilho, e quase dava para ver a marca das bruxas nela. Logo a bruxa sentiu um tremor na sua mão e abriu os olhos vendo os troncos trançados tremerem, ela deu alguns passos para trás e viu os troncos se soltarem e abrir passagem.
   
    - Uau, que incrível - Lyanna respondeu feliz olhando para trás e vendo Sarah dando um sorriso e acenando positivamente com a cabeça.

    - Foi sua primeira vez, mas logo a parede vai se abrir para você assim que se aproximar e precisar - Sarah disse encostando no braço da bruxinha e a puxando para dentro da floresta.

    As duas iam andando para dentro da floresta, Sarah de uma maneira concentrada no caminho e Lyanna observando tudo à sua volta, vendo que que as árvores ali eram diferentes, e que alguns pequenos animais como coelhos, gatos e lagartos paravam para ver elas passarem.

    Elas pararam perto de um rio que passava ali, e a jovem bruxa ficou encantada com o lugar, nunca tinha estado em um lugar tão lindo, cheio de árvores enormes, flores roxas e azuis, o som do rio passando, alguns peixinhos pulando na água.

    Um corvo passou voando bem baixinho da onde elas estavam, circulou as duas e pousou na grama com graça.
   
    - Olá, Edmund - Sarah disse chamando a atenção de Lyanna e a fazendo olhar para o corvo.
   
    O corvo fez um movimento de cabeça e logo foi se transformando em um homem num piscar de olhos, e antes onde se encontrava o corvo estava um homem alto, quase 1,85, bem branco, de cabelos loiro escuros e bem curtinhos, olhos bem pretos, vestia uma calça, uma blusa um pouco comprida e larga, ambas pretas, e estava descalço.

    - Olá, Sarah, Lyanna.

    - Mas o que aconteceu aqui? - Lyanna perguntou se sentindo perdida com o que acabou de acontecer.

    - Este é Edmund, era o familiar da sua mãe, agora o meu - Sarah respondeu apontando para o homem.

    - Seu familiar? - a jovem perguntou espantada.

    - Normalmente os familiares de bruxas morrem com elas, mas sua mãe não queria deixar vocês duas desprotegidas quando ela partisse, então acabou fazendo uma transferência de familiar, o que é bem raro, mas de algum modo isso deu certo - o homem respondeu.

    - Mamãe, sempre pensando em tudo.

    - Era uma mulher incrível, vejo muito dela em você pequena ama, mas tem os cabelos do seu pai - Edmund disse dando uma pequena risadinha.

    - Conheceu o pai dela? - Sarah perguntou assustada.

    - Você até podia ser a melhor amiga dela, mas eu era seu familiar, quem dividia uma pequena parte da alma com ela - Edmund respondeu causando um pequeno bufo e rolar de olhos de Sarah.

    - Você nunca vai falar quem ele é, não é mesmo? - a humana perguntou.

    - Não, ainda não é o momento da menina saber, e eu não acho que você vai morrer de curiosidade.

    - Abusado.

    - E quando vai ser o momento de eu saber quem é meu pai, ele ainda está vivo? - Lyanna perguntou, queria tanto essa resposta.

    - Logo, mas ele está vivo.

    - Já que você não vai falar mesmo, vamos para o que interessa, trouxe Lyanna hoje pois acho que chegou a hora dela ter seu familiar, amanhã provavelmente seus poderes irão despertar, e ela vai começar sua jornada.

    - O mundo espiritual está realmente movimentado esses dias, a energia da deusa está em toda a parte, assim como outros deuses, o povo da floresta tem se sentindo inquietos, deve ser esse o motivo, a guerra se aproxima, a nova era irá começar logo para o alívio de todos nós.

    - O que o mundo espiritual tem haver com isso? - Lyanna perguntou.

    - Muito mais do que vocês duas imaginam, mas isso é para outro dia, e para outra pessoa explicar - o corvo disse se aproximando da bruxa e pegando em suas mãos, olhou para elas e logo em seguida puxou a menina para perto do rio, fez com que ela se abaixasse e colocasse as duas mãos na terra lamacenta que estava ali, - Agora pequena bruxa, feche os olhos, pense nas suas fraquezas, medos, qualidades, pense no que você vai querer em um familiar, em alguém que vai dividir sua alma e conhecer todas as suas profundezas, então o chame.

    Edmund saiu de perto da bruxa e puxou Sarah para dar alguns passos para trás também. Lyanna olhou por sobre os ombros e viu os dois parados ali, fazendo sinais para ela prosseguir com o que o corvo tinha falado para ela.

    Respirando bem fundo e fechando os olhos, Lyanna começou a pensar em como se sentia assustada, com medo de fracassar, que sentia um grande peso em seus ombros e que adoraria alguém para dividir suas angústias, que a ajudasse a se sentir melhor. Não queria alguém para fazer as coisas por ela, mas sim alguém para estar lá se ela caísse, alguém talvez para saber todos os seus segredos assim como Edmund sabia todos da sua mãe.

    Enquanto Lyanna se perdia em pensamentos, sua marca da bruxa apareceu forte em sua testa, um forte vento começou a soprar, fazendo as folhas dançarem  ao redor da bruxa, a água do rio por um momento parou de correr, o corvo e Sarah sentiram um pequeno tremor na terra, mas como tudo começou de uma maneira rápida, logo acabou.

    A bruxa abriu seus olhos e olhou ao seu redor para ver o que tinha acontecido, e se alguém tinha aparecido para ela.
   
    - Funcionou? - ela perguntou olhando para os dois que estavam alguns passos atrás dela.
   
    O corvo fez um movimento de cabeça para ela olhar para o outro lado, e olhando bem para o outro lado do rio, Lyanna viu duas figuras se aproximando, ainda estavam encondidas pelas sombras das árvores, mas conforme foram se aproximando, a jovem bruxa pode perceber que se tratava de um homem e uma mulher, ambos negros, estavam totalmente nus, os dois tinhas os cabelos raspados, corpos atleticos e vinham andando de uma maneira hipnotizante.

    Mesmo chegando perto do rio eles não pararam, continuaram a andar e passaram andando sobre as águas, focados em chegar perto da bruxa. Lyanna se sentia espantada e hipnotizada pelas duas pessoas que vinham em sua direção, olhou um pouco para baixo e viu um fio branco saindo dela e indo em direção a essas pessoas e entrando dentro dos seus corpos, logo sentiu um aperto dentro de si como se sua alma estivesse se entrelaçando, sentiu os sentimentos das pessoas que se aproximavam, sentiu a força delas e a magia que eles emanava.

    Assim que os dois chegaram bem perto de Lyanna, ambos se colocaram de joelhos na frente da bruxa, as duas mãos apoiadas no chão e a cabeça totalmente baixa.

   - Minha senhora!

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