PARTE III

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Baruc acordou ouvindo som de água. Levantou-se com muita dificuldade, sentindo a boca seca e a dor de cada ferimento causado pela queda. Suas roupas estavam rasgadas e sujas de sangue. Conseguiu ficar de pé e foi tateando pela parede de um extenso túnel na direção do som. Ao final do caminho, podia ver uma luz azul.

Mais alguns dolorosos passos, e ele finalmente chegou a uma enorme galeria, cujo centro era ocupado por um lago de águas cristalinas. No lago, Baruc via a água brotar da terra. Uma nascente. Ele quis correr em direção a água para saciar a sede e limpar as feridas, mas hesitou. Não queria sujar aquela água tão límpida.

Mas precisava. Baruc ajoelhou-se às margens do lago e, juntando as mãos em cuia, bebeu da água até que sentisse a sede acabar. Sentou-se ali mesmo no chão e limpou os primeiros ferimentos, de um dos braços. Tão logo a água tocou sua pele, ele viu os ferimentos se fecharem e o sangue desaparecer. Surpreso, encheu novamente a mão de água e limpou o outro braço: mesma coisa. As feridas cicatrizaram, e toda a sujeira desapareceu.

Sem entender como aquilo poderia ser possível, Baruc se pôs de pé e entrou calmamente no lago, até que a água alcançasse seus ombros. Sentiu o mesmo que sentia ao ser acolhido no colo de sua mãe. Seu corpo ficou leve, ele estava seguro.

Mergulhou a cabeça nas águas curativas daquela nascente e, quando retornou à superfície, estava completamente revigorado. Nenhum revés seria capaz de impedi-lo. Baruc sabia que o seu destino era encontrar as Musas. E estava preparado para isso.

***

Ele saiu da caverna seguindo o pequeno curso d'água que partia da nascente e se estendia pelos túneis subterrâneos. Quando emergiu, viu que já era dia. Continuou a caminhada até atravessar a pequena mata ciliar que circundava o curso d'água que acabava por desembocar em um largo rio. As águas da nascente, que haviam curado suas feridas, daquele ponto de vista, eram apenas um dos afluentes do grande Rio Håkon.

Agora bastava atravessar o rio e seguir pela planície do outro lado. Antes, Baruc olhou para trás e viu parte do enorme desfiladeiro de onde havia caído na noite anterior: por muito pouco, aquela caverna teria sido sua tumba.

***

Já passava da metade do dia quando ele encontrou um ponto em que conseguia atravessar o rio em segurança, por cima de algumas pedras. Agora, à sua frente, estava a planície citada por Guillén. E, distante no horizonte, rumo ao Norte, já podia ver o Monte das Musas.

Quando a noite chegou, a água que ele levava nos cantis estava prestes a acabar. Sozinho em toda a extensão da pradaria, ele não via qualquer fonte de comida, e o ronco de sua barriga era o único som que ele ouvia. O caminho de Baruc era iluminado apenas pela luz das Nove Luas. Decidiu se sentar para descansar e tomar um pouco de água, deixando ao menos mais alguns goles para depois.

Distraiu-se analisando as estrelas e suas formações, até que ouviu vozes vindo em sua direção. Colocou-se de prontidão. Sem dúvidas, eram mais de duas pessoas, pois vinham em uma discussão acalorada. Baruc só conseguiu distinguir bem quem se aproximava quando já estavam bem perto dele.

– Acho que não é só a gente que tá perdida – disse uma das garotas do grupo, que agora encarava Baruc.

Todas aparentavam ser pouco mais velhas que Baruc. Com cabelos trançados, elas trajavam vestidos brancos e usavam colares de flores. Sentaram-se com Baruc, e Rosenda – como se apresentou –, explicou que havia alguns dias estavam em busca de um grande rio sagrado, sobre o qual muito se falava na terra delas.

– O Rio Håkon – disse Baruc, prontamente indicando o caminho por onde veio.

O grupo mostrou-se otimista e grato às Parcas por terem colocado Baruc em seu caminho. Ele também contou sua história até aquele ponto. Explicou que estava a caminho da montanha nevada e que seu objetivo era encontrar as Musas.

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⏰ Última atualização: Mar 24, 2022 ⏰

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