Clássicos

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Bem antigamente, nem letra as músicas tinham. Sim, era como uma trilha sonora gigantesca! "As Quatro Estações", de Vivaldi, tinha 48 minutos, sem ter que recorrer a repetição chiclete de acordes.

Bem, naquela época não tinha radio edit para limitar a sua música a dois minutos. Não tinha gravadora pra dizer que "uma música de 48 minutos não é comercialmente viável...". Não tinha crítico pra dizer que "uma música com dezenas de acordes diferentes é complexa demais para o brasileiro médio".

Trezentos anos depois, o cara continua sendo tocado por aí. O que dizer sobre?

Já no século 20, as músicas eram mais curtinhas. E isso é paradoxalmente incrível, porque se Vivaldi, Beethoven e companhia conseguiam escrever músicas que quase uma hora, quase sem repetir trechos, os artistas do século 20 gravavam músicas de três minutos, que só usavam três acordes.

De ser por isso que os solistas de jazz e rock ficaram tão famosos. Eram o "oasis da arte criativa" no meio daquele deserto de C/Em/G. Pelo menos havia algumas boas letras. Não é tão difícil citar 20 bons letristas do século 20, independente do seu gênero preferido.

Então veio o século 21. "Bom-xi-bom-xi-bom-bom-bom" até tinha uma crítica social, mas o refrão não nos iludia, o pior estava por vir: "tcherere", "tchu-tchu", "tcha-tcha" e muita "raba" na sua cara.

Quanto aos solos? Perda do precioso tempo de rádio. Só temos dois minutos, e vamos aproveitar da seguinte maneira: onomatopeias, bundas, e alguém bêbado porque cansou de ser amante. É só estamos nos primeiros vinte anos do novo século.

Se hoje, ouvimos Vivaldi e Bach e temos uma experiência quase metafísica, fico pensando como será em 2300, quando alguém ouvir um clássico do passado sobre um cara que chamava a mulher de safada e lhe dava um tapão na raba...

— Isso sim que era música, não os lixos de hoje...

Deus amado, ainda bem que não vou chegar vivo ao fim desse século. A finitude é uma benção!

Crônicas de um escritor extremamente rabugentoOnde histórias criam vida. Descubra agora