Capítulo 31

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O homem fica a olhar para mim, até que vejo algo no olhar dele mudar.

– Alice? – questiona, perplexo.

– Como assim? – pergunta o Santiago.

– Não acredito que já estás assim... – diz o meu pai, tentando-me abraçar.

Afasto-me. Saio do escritório e corro até à saída.

– Alice, estás bem? – pergunta o Santiago, ao surgir atrás de mim.

Olho para ele e não preciso de dizer nada.

– Vamos embora, não te vou fazer ficar aqui – diz.

– Não, Santiago, tens um negócio para tratar. Eu espero cá fora por ti. Não quero voltar a olhar para ele...

Ouço a porta a abrir.

– Alice, vamos conversar um bocadinho.

– Não quero falar contigo e não me podes obrigar.

– Sou teu pai, queria pelo menos saber um pouco sobre ti.

– Perdeste esse direito no dia em que saíste de casa e nunca mais disseste nada. Passaram-se 10 anos. E nunca quiseste saber de mim nem da Rebeca, nunca ligaste ou deste notícias. Provavelmente já nem te lembravas que eu existia.

– Alice, as coisas são complicadas e a vida acabou por se meter no meio. Quando dei por mim, já tinha passado muito tempo e era difícil contactar-vos.

– Tinhas o dever de cuidar das tuas filhas, mas foi mais fácil fugir e não voltar. Assim não te dávamos trabalho.

– Eu não saí de casa por causa de vocês...

– Eu sei porque é que saíste, não precisas de te justificar – interrompo.

Ele fica a olhar para mim. Olha de relance para o Santiago e volta a olhar para mim.

– Santiago, fico no carro à tua espera – digo, virando costas.

Afasto-me e ouço-os falar, mas não percebo o que dizem. Entro no carro e, em menos de um minuto, o Santiago também entra. Dá indicações ao condutor e seguimos viagem calados.

De repente, sinto a minha raiva esvair-se e fico exausta. Uma revolta que há muito estava guardada volta a fazer-se sentir. Há mágoas que não somos capazes de apagar e esta é uma delas. Nenhum pai tem o direito de abandonar um filho. Nos dias que correm a distância nunca é motivo para a falta de contacto. Só mesmo a falta de vontade...

– Anda, Alice, temos uma coisa a tratar – diz o Santiago, quando o carro para.

Saímos e vamos diretos a uma clínica de análises.

– O que é que estamos aqui a fazer? – pergunto.

– Bem, havia um assunto a atormentar-me há imenso tempo, agora é possível tirar as conclusões.

Fico a olhar para ele sem perceber e ele continua.

– Então, a namorada do meu tal amigo, o do restaurante, trabalha aqui. Venho falar com ela para tentar fazer um teste de ADN. Supostamente não é possível, mas ela talvez possa fazer um jeitinho. Não consigo voltar sem saber e não consigo fazer um teste em Portugal, com o meu pai, porque não há um motivo.

– Mas tens amostra dele?

– A velha técnica de ficar cabelo preso no relógio. Tive de lhe dar um abraço e estava a ver que não arrancava nenhum, com cabelos grandes é bem mais simples. Pelo menos nos filmes.

– Aquilo que tu te lembras... Mas isso não demora ainda algum tempo?

– Eu nem sei se ela realmente me vai conseguir ajudar, mas pelo menos tento.

Amar em Pecado (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora