Passaram alguns dias desde que estive com o Santiago, desde que saímos de casa dos pais dele, quase não voltámos a falar. Não sei ao certo quanto tempo passou, os meus dias são divididos entre enjoos, trabalho e sono. Mas hoje não me podia esquecer que dia é, vamos falar com os pais biológicos do Santiago. Ou pelo menos tentar.
Combinámos encontrar-nos no apartamento dele a seguir ao almoço, para irmos juntos. Ao chegar à morada que o Santiago tem, sinto-o nervoso e dou-lhe a mão. Ele toca à campainha. É uma casa pequena num bairro onde a maioria das casas estão a precisar de obras. Uma senhora vem à porta.
– Em que vos posso ajudar? – pergunta, sorridente.
O Santiago fica pálido e aperto-lhe ligeiramente a mão, num sinal de "estou aqui, não estás sozinho".
– É a Dona Ester? – questiona ele, num tom baixo.
– Sou sim. Há algum problema?
– Não. Quer dizer, mais ou menos...
– Gostaríamos de conversar um bocadinho consigo, pode ser? – intervenho, ao ver o Santiago sem saber o que fazer.
Ele olha para mim e agradece, gesticulando apenas a palavra "obrigado".
– Claro, podem entrar – diz, dando-nos espaço para passar.
Olho em redor, é uma casa pequena e acolhedora, com alguma decoração já envelhecida, mas bastante bem organizada.
– Podem sentar-se. Filha, podes ir para o quarto, para poder falar com estes jovens.
– Sim, mãe. Boa tarde e fiquem à vontade – diz uma menina, que parece ser mais ou menos da minha idade.
Reparo na forma como o Santiago olha para ela, a sorrir. Não nego, eles têm parecenças. Não sei o que lhe estará a passar na cabeça, mas fico feliz por o ver mais descontraído.
– Desculpem, querem beber alguma coisa? Ou comer?
– Não, obrigada, estamos bem – responde o Santiago.
A senhora não tira os olhos dele.
– Bom, tenho um assunto bastante delicado para falar consigo. Antes de mais, o meu nome é Santiago.
A senhora não diz nada e deixa que seja o Santiago a falar. Ele explica tudo, de uma forma diferente daquela que explicou aos pais dele, mas na mesma cuidadosa. Quando termina, a senhora olha para as mãos e sorri.
– Meu querido, se isso for verdade, nem sabes como me sinto feliz. Fico feliz por saber que o meu bebé não partiu e que está bem, foi criado por uma família, com certeza, maravilhosa. Na verdade, és bastante parecido com o meu marido quando era novo, por muitos breves momentos, ainda pensei que pudesses ser algum filho perdido dele, ainda que sempre tivesse confiado completamente nele.
Ela pega numa moldura do canto da sala e entrega-nos. Um jovem na casa dos 20 anos que, se não soubesse, poderia dizer claramente que era o Santiago, a preto e branco. Ele olha para a Dona Ester com uma expressão que representa pensar exatamente o mesmo.
– O seu marido não está cá? – questiono.
– Infelizmente, o Felisberto faleceu há uns anos, quando a nossa filha mais nova ainda era pequena. Depois de termos perdido o nosso filho, tentámos ter outro bebé, fiquei grávida passados dois anos de uma menina. Quando ela tinha 4 anos, tivemos um acidente e ele não resistiu aos ferimentos.
– Lamento imenso – digo.
– Significa que não vou conhecer o meu pai biológico... Lamento pela sua perda.
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Amar em Pecado (Concluído)
RomanceAlice Freitas, de 23 anos, está novamente à procura de emprego, depois de ser despedida pela sexta vez, em apenas 5 anos. Devido ao desaparecimento do seu pai, Alice ajuda a mãe nas contas e tenta proporcionar o melhor à sua irmã mais nova, Rebeca. ...