Hoje é dia 2 de fevereiro e finalmente as nossas bebés vão para casa. O Santiago ontem teve consulta no médico e confirmaram que nunca mais voltará a andar, a fratura danificou a medula e nada há a fazer. Ainda lhe questionei se queria tentar ver tratamentos inovadores noutros países, mas respondeu-me que agora era assim e não se importava, não queria continuar a lutar por voltar a andar. Aceitou tão bem a sua condição, que só me consigo sentir orgulhosa. Ainda assim, notei alguma tristeza e só mesmo levar as nossas filhas hoje para casa para dar alegria às nossas vidas.
Em nossa casa já estão à nossa espera os nossos pais e os amigos mais próximos (isto é, os meus amigos e o Marcos, amigo dos dois e único amigo que o Santiago quis presente). O Santiago falou com a mãe biológica, contou tudo o que aconteceu nos últimos tempos e ela prometeu que nos iria fazer uma visita em breve. Eu levo as duas cadeirinhas com os dois seres pequeninos para o carro. Elas ainda são tão pequeninas, que quase não se veem no meio das mantas.
– Quem diria que, afinal íamos ter duas bebés – comenta o Santiago, a caminho de casa.
Rio-me.
– A Leonor escondeu-se sempre, nem sabia que isso poderia acontecer.
– Assim vão sempre ter companhia, vão sempre poder fazer companhia uma à outra.
Na chegada a casa, os avós vão logo para junto das netinhas e aproveito para conversar um pouco com os meus amigos, que já não vejo há imenso tempo e mal temos falado.
– Então quando é que vocês vão dar um primo às gémeas? – questiono à Vera e ao Marcos.
– Ainda podem esperar muito tempo – diz a Vera.
– Talvez daqui a uns anos, agora temos as vossas meninas para aproveitar – diz o Marcos.
– Elas vão querer brincar com mais crianças... – diz o Santiago.
– Têm-te a ti.
O Marcos responde de uma forma tão espontânea, que libertamos uma gargalhada e até nos esquecemos que agora temos de ter cuidado com o barulho.
– A Salomé também pode dar uns primos – diz a Vera, a tentar desviar o assunto.
– Tenham lá calma, que nós ainda nem vivemos juntos.
A conversa flui por umas horas, até que vão todos embora, em último a minha mãe e a Rebeca.
– Se precisarem de alguma coisa, liguem. A qualquer hora – diz, despedindo-se.
– Sim, mãe, não te preocupes.
Vamos ao quarto das bebés ver se estão bem, dormem tranquilamente, e seguimos para o nosso quarto. O Santiago vai tomar banho e eu fico deitada em cima da cama. Quando termina, deita-se ao meu lado e coloca um braço por cima dos meus ombros.
Dou-lhe um beijo demorado.
– Alice, preciso de falar contigo sobre uma coisa – diz.
– Que se passa? – questiono, olhando para ele.
– Eu queria muito estar contigo, tu sabes, mas não consigo...
– Shhh... Eu sei. Não te preocupes. Uma relação não é só isso e estou bastante feliz como estamos.
– O médico disse que devo voltar a conseguir, mas vai demorar.
– Nós podemos esperar. Temos a vida toda. Não tenho pressa. Não te preocupes – digo, dando-lhe mais um beijo.
– Amo-te tanto, Alice.
– E eu a ti, Santiago.
Ficamos apenas abraçados durante imenso tempo, no silêncio da noite. Somos interrompidos por um choro. Levanto-me automaticamente.
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Amar em Pecado (Concluído)
RomanceAlice Freitas, de 23 anos, está novamente à procura de emprego, depois de ser despedida pela sexta vez, em apenas 5 anos. Devido ao desaparecimento do seu pai, Alice ajuda a mãe nas contas e tenta proporcionar o melhor à sua irmã mais nova, Rebeca. ...