Oito ruas. Era essa a distância que tínhamos que percorrer de Cotton Bend até a Jackson High.
Aparentemente eu conseguia reviver minha O vida toda subindo e descendo oito ruas, e oito
ruas eram o bastante para tirar o estranho rabecão preto da minha cabeça. Talvez tenha sido
por isso que não mencionei nada para Link.
Passamos pelo Pare & Compre, também conhecido como Pare & Roube.
Era o único mercado da cidade, e o que tínhamos de mais parecido com um 7 Eleven. Então
sempre que estávamos de bobeira com alguém por lá, tínhamos que torcer para não dar de
cara com a mãe de alguém fazendo compras para o jantar ou pior, com Amma.
Percebi o familiar Grand Prix estacionado na porta.
— Oh-oh. Fatty já está de plantão. — Ele estava no banco do motorista, lendo The Stars and
Stripes.
— Talvez ele não tenha visto a gente. — Link olhava pelo retrovisor, tenso.
— Talvez a gente esteja ferrado.
Fatty era o inspetor encarregado de procurar os alunos da escola Stonewall Jackson High que
matavam aula, assim como um orgulhoso integrante da força policial de Gatlin. A namorada
dele, Amanda, trabalhava no Pare & Roube, e Fatty ficava estacionado lá na porta durante a
maioria das manhãs, esperando que os produtos da padaria chegassem. Isso era um tanto
inconveniente se você estivesse sempre atrasado, como Link e eu.
Não era possível frequentar a Jackson High sem conhecer a rotina de
Fatty tão bem quanto nosso próprio horário de aulas. Hoje, Fatty sinalizou com a mão para
irmos em frente sem nem tirar os olhos da seção de esportes.
Ele estava nos dando uma folga.
— Seção de esportes e um pão doce. Você sabe o que isso significa. —
Temos cinco minutos.
Seguimos no Lata-Velha até o estacionamento da escola com a marcha em ponto morto, na
esperança de passar pela secretaria despercebidos. Mas ainda chovia muito, então na hora que
entramos no prédio, estávamos ensopados e nossos tênis faziam um barulho tão alto que daria
na mesma se tivéssemos entrado voluntariamente.
— Ethan Wate! Wesley Lincoln!
Ficamos de pé pingando na secretaria, esperando os bilhetes de detenção que levaríamos para
casa.
— Atrasados para o primeiro dia de aula. Sua mãe vai usar algumas palavras bem escolhidas
com você, Sr. Lincoln. E não faça essa cara de superior, Sr. Wate. Amma vai te dar uma surra.
A Srta. Hester estava certa. Amma saberia que cheguei atrasado em uns cinco minutos, isso se
já não soubesse. As coisas eram assim por aqui. . Minha mãe dizia que Carlton Eaton, o
diretor da agência do correio, lia qualquer carta que parecesse meio interessante. Ele nem se
dava mais ao trabalho de colar o envelope de novo. Não é como se alguma novidade de
verdade pudesse existir. Cada casa tinha seus segredos, mas todos na rua sabiam quais eram.
Até isso não era segredo.
— Srta. Hester, eu só vim dirigindo devagar por causa da chuva. — Link tentou ser
encantador. A Srta. Hester puxou um pouco os óculos e olhou para Link, nada encantada. A
correntinha que prendia os óculos dela ao redor do pescoço balançou para frente e para trás.
— Não tenho tempo para bater papo com vocês agora. Estou ocupada preenchendo seus
bilhetes de detenção, que é onde vocês passarão a tarde de hoje — ela disse enquanto nos
entregava um folheto azul para cada um.
Ela estava ocupada, sei. Deu para sentir o cheiro do esmalte antes mesmo de dobrar para o
corredor. Bem-vindos de volta..................................................................
Em Gatlin, o primeiro dia de aula nunca muda. Os professores, que conhecem a gente da
igreja, decidiram se éramos burros ou inteligentes quando estávamos no jardim de infância. Eu
era inteligente porque meus pais eram professores universitários. Link era burro porque
amassou as páginas do Livro Sagrado durante a Caça às Escrituras e porque vomitou uma vez
durante o desfile de Natal. Como eu era inteligente, recebia boas notas nos meus trabalhos;
como Link era burro, recebia notas ruins. Acho que ninguém se dava ao trabalho de lê-los. Às
vezes eu escrevia uma coisa qualquer no meio das redações só para ver se meus professores
diriam alguma coisa.
Nenhum nunca disse nada.
Infelizmente, o mesmo princípio não se aplicava a provas de múltipla escolha. No primeiro
tempo, na aula de Inglês, descobri que minha professora de 700 anos de idade, cujo
verdadeiro nome era Sra. English, tinha mandado a gente ler O Sol é para Todos durante o
verão, então me dei mal na primeira prova. Ótimo. Eu tinha lido o livro há uns dois anos. Era
um dos favoritos da minha mãe, mas fazia tempo e eu tinha esquecido os detalhes.
Uma informação pouco conhecida sobre mim: leio o tempo todo. Livros são a única coisa que
me tira de Gatlin, mesmo que por pouco tempo. Eu tinha um mapa na parede, e toda vez que eu
lia sobre um lugar que queria conhecer, eu fazia uma marcação nele. Nova York estava
marcada por causa de O Apanhador no Campo de Centeio. Na Natureza Selvagem me levou a
marcar o Alasca. Quando li Pé na Estrada, marquei Chicago, Denver, Los Angeles e Cidade
do México. Kerouac pode nos levar praticamente a todos os lugares. De tempos em tempos, eu
fazia uma linha para ligar os lugares marcados. Uma linha verde fina que eu seguiria numa
viagem de carro no verão antes de ir para a faculdade, isso se conseguisse sair dessa cidade.
O
mapa e o lance da leitura eram um segredo só meu. Livros e basquete não misturavam por
aqui.
A aula de química não foi muito melhor. O Sr. Hollenback me amaldiçoou escolhendo Emily
Odeio-Ethan para minha parceira de laboratório, também conhecida como Emily Asher, que
me despreza desde o baile do ano passado, quando cometi o erro de usar meu All Star com o
smoking e deixar que meu pai nos levasse no Volvo enferrujado. A janela quebrada que não
fechava tinha desarrumado seu cabelo louro perfeitamente cacheado para o baile, e na hora
que chegamos ao ginásio ela parecia Maria Antonieta ao acordar. Emily não falou comigo o
resto da noite e mandou Savannah Snow me dar o fora por ela a três passos da mesa do
ponche. E
esse foi o fim da história.
Era uma fonte de diversão sem fim para os caras, que viviam na expectativa de que íamos
ficar juntos de novo. O que eles não sabiam era que eu não curtia garotas como Emily. Ela era
bonita, mas era só isso. E olhar para ela não compensava ter que ouvir o que saía de sua boca.
Eu queria alguém diferente, alguém com quem eu pudesse conversar sobre outras coisas além
de testas e coroações no baile de inverno. Uma garota que fosse inteligente ou engraçada, ou
pelo menos uma parceira de laboratório razoável. Talvez uma garota assim fosse um sonho,
mas um sonho ainda era melhor do que um pesadelo. Mesmo se o pesadelo usasse saia de
líder de torcida.
Sobrevivi à aula de química, mas meu dia só piorou. Pelo visto, eu ia ter aula de História
Americana de novo esse ano, que era a única História ensinada na Jackson, tornando o nome
redundante. Eu passaria meu segundo s ano consecutivo estudando a "Guerra da Agressão
Norte" com o Sr. Lee, cujo nome era só coincidência. Mas como todos nós sabíamos, em
espírito, o Sr. Lee e o famoso general da Confederação eram a mesma pessoa. O Sr. Lee era
um dos poucos professores que realmente me odiavam. No ano anterior, por causa de um desafio de Link, eu tinha feito uma redação chamada
"Guerra da Agressão Sul", e o Sr. Lee me deu um D. Acho que os professores liam sim as
redações às vezes, afinal.
Achei um lugar atrás ao lado de Link, que estava ocupado copiando as anotações da aula na
qual ele dormira antes dessa. Mas ele parou de escrever assim que sentei.
— Cara, você soube?
— Soube de quê?
— Tem uma garota nova na Jackson.
— Tem um monte de garotas novas, uma turma inteira de o ano, imbecil.
— Não estou falando das garotas do 1º ano. Tem uma garota nova no nosso ano.
Em qualquer outra escola, uma garota nova no 2º ano não seria novidade. Mas estávamos na
Jackson. E não tínhamos uma garota nova no nosso ano desde o 3º ano fundamental, quando
Kelly Wix veio morar com os avós depois que o pai foi preso por gerenciar um esquema de
jogatina no porão da casa deles em Lake City.
— Quem é ela?
— Não sei. Tive aula de Cívica no segundo tempo com todos os nerds da banda, e eles não
sabiam nada além de que ela toca o violino ou algum instrumento assim. Queria saber se ela é
gata.
Link tinha a mente limitada, como a maioria dos caras. A diferença era que a mente limitada
dele estava diretamente ligada à boca.
— Então ela é uma nerd de banda?
— Não. É música. Talvez tenha o mesmo amor que eu por música clássica.
— Música clássica?
Link só tinha ouvido música clássica no consultório do dentista.
— Você sabe, os clássicos. Pink Floyd. Black Sabbath. Os Stones.
Comecei a rir.
— Sr. Lincoln. Sr. Wate. Lamento interromper a conversa de vocês, mas eu gostaria de
começar, se vocês concordarem.
O tom do Sr. Lee era tão sarcástico quanto o do ano passado, e o cabelo oleoso penteado de
forma a tentar cobrir a careca e as marcas de suor nas axilas continuavam horríveis. Ele
distribuiu cópias do mesmo planejamento que provavelmente usava há 10 anos. Participar de
uma encenação da Guerra Civil era obrigatório. Claro que era. Eu podia pegar emprestado o
uniforme de um dos meus parentes que participaram de encenações por diversão nos finais de
semana. Que sorte a minha.
Depois que o sinal tocou, Link e eu ficamos no corredor perto dos nossos armários na
esperança de dar uma olhada na garota nova. Pelo que ele , falava, ela já era sua futura alma
gêmea e companheira de banda e, provavelmente, companheira de algumas outras coisas que
eu nem queria saber. Mas a única coisa que conseguimos ver foi Charlotte Chase usando uma
saia jeans dois números menores. Isso significava que não íamos descobrir nada até a hora do
almoço, porque nossa próxima aula era LSA, Linguagem de Sinais Americana, e falar era
rigorosamente proibido.
Ninguém era bom o bastante nos sinais para sequer soletrar "garota nova", principalmente
porque LSA era a única aula que tínhamos junto com o resto do time de basquete de Jackson.
Eu estava no time desde o oitavo ano, quando cresci 15 centímetros no verão e acabei ficando
uma cabeça mais alto do que todo mundo da minha turma. Além do mais, é preciso fazer
alguma coisa normal quando os dois pais são professores. No fim das contas, eu era bom em
basquete. Eu sempre parecia saber por onde os jogadores do outro time iam passar a bola, e
isso me dava um lugar garantido para sentar no refeitório todo dia. Na Jackson, isso valia
alguma coisa.
Hoje aquele lugar valia ainda mais porque Shawn Bishop, nosso armador, tinha visto a garota
nova. Link perguntou a única coisa que importava para qualquer um deles:
— E então, ela é gata?
— Muito gata.
— Gata estilo Savannah Snow?
Como se tivesse sido combinado, Savannah, o padrão pelo qual todas as outras garotas da
Jackson eram avaliadas, entrou no refeitório de braços dados com Emily Odeio-Ethan, e todos
ficamos olhando porque Savannah tinha 1,72 metros com as mais perfeitas pernas que já
tínhamos visto. Emily e Savannah eram quase uma pessoa só, mesmo quando não estavam de
uniformes de líder de torcida. Cabelos louros, bronzeados artificiais, chinelos e saias jeans
tão curtas que mais pareciam cintos. Savannah tinha as pernas, mas era o top do biquíni de
Emily que todos os caras queriam conferir no lago durante o verão. Elas nunca pareciam
carregar livros, só pequenas bolsinhas de metal enfiadas debaixo do braço, que mal tinham
espaço para um celular, isso nas poucas ocasiões em que Emily parava de mandar mensagens
de texto.As diferenças entre elas se resumiam às posições na equipe de líderes de torcida. Savannah
era a capita, e também era base: uma das garotas que sustentavam duas outras líderes de
torcida na famosa pirâmide dos Wildcats.
Emily era uma voadora, a garota no topo da pirâmide, a que era jogada de 1,50 a 1,80 metros
no ar para dar uma pirueta ou outra maluquice que poderia facilmente resultar em um pescoço
quebrado. Emily arriscaria qualquer coisa para ficar no topo daquela pirâmide. Savannah não
precisava.
Quando Emily era jogada, a pirâmide ficava bem sem ela. Quando Savannah se movia dois
centímetros, a pirâmide toda desabava.
Emily Odeio-Ethan reparou que olhávamos para elas e me encarou com raiva. Os caras riram.
Emory Watkins deu um tapinha nas minhas costas.
— Tá podendo, Wate. Você conhece Emily, quanto mais ela olha com raiva, mais gosta da
pessoa.
Eu não queria pensar em Emily hoje. Queria pensar no oposto de Emily.
Desde que Link tinha falado na aula de História, aquilo estava na minha cabeça. A garota
nova. A possibilidade de alguém diferente, de algum lugar diferente. Talvez alguém com uma
vida mais significativa que a nossa e, provavelmente, que a minha.
Talvez até alguém com quem eu tenha sonhado. Eu sabia que era uma fantasia, mas queria
acreditar nela.
— Vocês souberam da garota nova?
Savannah sentou no colo de Earl Petty. Earl era o capitão do time e namorado de Savannah de
tempos em tempos. Agora, eles estavam juntos.
Ele passou as mãos pelas pernas alaranjadas dela tão alto na coxa a ponto de a gente não
saber para onde olhar.
— Shawn estava nos contando. Disse que ela é gata. Vão colocá-la na equipe?
Link pegou umas batatas da minha bandeja.
— Improvável. Vocês têm que ver o que ela está vestindo.
Golpe um.
— E como ela é pálida.
Golpe dois. Ninguém é magra demais ou bronzeada demais pelos padrões de Savannah.
Emily sentou ao lado de Emory, inclinando-se sobre a mesa um pouco demais.
— Ele contou pra vocês quem ela é?
— O que isso quer dizer?
Emily fez uma pausa para efeito dramático.
— Ela é sobrinha do Velho Ravenwood.
Ela não precisava de efeito para dizer isso. Era como se tivesse retirado todo o ar do recinto.
Alguns caras começaram a rir. Pensaram que ela estava brincando, mas eu vi que não estava.
Golpe três. Ela estava fora de questão. Tão fora que eu nem conseguia mais imaginá-la. A
possibilidade de minha garota dos sonhos aparecer sumiu antes mesmo que eu pudesse
imaginar nosso primeiro encontro. Eu estava fadado a mais três anos de Emilies.
Macon Melchizedek Ravenwood era o recluso da cidade. Vamos apenas dizer que eu
lembrava o bastante de O Sol é para Todos para saber que o Velho Ravenwood fazia Boo
Radley parecer um cara extremamente popular.
Ele morava em uma casa velha em ruínas, na fazenda mais antiga e abominável de Gatlin, e
acho que ninguém o via desde antes de eu nascer ou mais.
— Está falando sério? — perguntou Link.
— Completamente. Carlton Eaton contou para minha mãe ontem quando trouxe nossa
correspondência.
Savannah assentiu.
— Minha mãe ouviu a mesma coisa. Ela foi morar com o Velho Ravenwood há alguns dias,
vinda da Virgínia ou de Maryland, não lembro.
Todos continuaram a falar dela, das roupas e dos cabelos e do tio dela, e do quanto ela
provavelmente devia ser esquisita. Isso era o que eu mais odiava em Gatlin: o fato de que todo
mundo tinha alguma coisa a dizer sobre tudo que você falava, fazia ou, nesse caso, vestia.
Fiquei encarando o macarrão na minha bandeja, nadando em um líquido laranja gosmento que
não se parecia muito com molho de queijo.
Dois anos, oito meses e a contagem continua. Eu tinha que sair dessa cidade.
Depois da escola, o ginásio estava sendo usado para o teste de líderes de torcida. A chuva
tinha finalmente parado, então o treino de basquete foi na quadra externa, com o concreto
rachado, os aros das cestas tortos e poças de água da chuva da manhã. A gente tinha que ter
cuidado para não bater na rachadura que percorria o meio da quadra como o Grand Canyon.
Fora isso, dava para ver quase todo o estacionamento e observar a maior parte da interação
social da Jackson High enquanto a gente se aquecia.
Hoje eu estava com a mão boa. Acertei todos os sete arremessos que fiz da linha de lance
livre, mas Earl também estava bem, fazendo cesta sempre que eu fazia uma.
Swish. Oito. Parecia que era só eu olhar para a rede e a bola ia direto para lá. Alguns dias
simplesmente eram assim.
Swish. Nove. Earl estava irritado. Percebi pelo modo como ele batia a bola com mais força
cada vez que eu arremessava. Ele era nosso outro centro.
Nosso acordo não-verbal era: eu o deixava comandar o time e ele não me perturbava se eu
não estivesse com vontade de ficar de papo no Pare 8c Roube todo dia depois do treino.
Chegava uma hora que enchia o saco falar das mesmas garotas e comer Slim Jims.
Swish. Dez. Eu não errava. Talvez fosse genético. Talvez fosse outra coisa. Eu nunca tinha
entendido, mas desde que minha mãe morreu, parei de tentai' entender. Era espantoso que eu
tivesse chegado a ir ao treino.
Swish. Onze. Earl resmungou atrás de mim, batendo a bola com ainda mais força. Tentei não
sorrir e olhei para o estacionamento quando fiz o arremesso seguinte. Vi um emaranhado de
cabelos pretos e compridos atrás do volante de um longo carro preto.
Um rabecão. Fiquei paralisado.
Então ela se virou, e pela janela aberta pude ver uma garota olhando em minha direção. Pelo
menos pensei ver. A bola bateu no aro e quicou em direção à cerca. Atrás de mim, ouvi um
som familiar.
Swish. Doze. Earl Petty podia relaxar.
Quando o carro se afastou, olhei para a quadra. O resto dos caras estava de pé ali como se
tivessem acabado de ver um fantasma.
— Aquela era...?
Billy Watts, nosso ala, assentiu, segurando na cerca de metal com uma das mãos.
— A sobrinha do Velho Ravenwood.
Shawn jogou a bola para ele.
— É. Exatamente como disseram. Dirigindo o rabecão dele.
Emory sacudiu a cabeça.
— Ela é gata mesmo. Que desperdício.
Eles voltaram a jogar bola, mas quando Earl fez o arremesso seguinte, começou a chover de
novo. Trinta segundos depois, fomos pegos no meio de uma tempestade, a mais forte do dia.
Fiquei lá de pé deixando a chuva acabar comigo. Meu cabelo molhado caía sobre os olhos,
bloqueando o resto da escola, do time.
O mau presságio não era apenas um rabecão. Era uma garota.
Por alguns minutos, eu tinha me permitido ter esperanças. De que talvez esse ano não seria
como todos os outros anos, de que alguma coisa fosse mudar. De que eu teria alguém com
quem conversar, alguém que realmente me entendesse.
Mas tudo que tive foi um dia bom na quadra, e isso nunca tinha sido o suficiente.