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Descobertas muitas vezes levam um certo tempo a serem digeridas, e quando se resolve abraçar dúvidas e incertezas em busca de uma sensação maior, pode ser que demore para entender o que significa pertencer.

Como desapegar daquilo que é certo e correr para o desconhecido? É tão fácil nos apegarmos a algo e acabar nos sentindo dependentes em função daquilo, a mente pulsando em um turbilhão de pensamentos a cada fração de segundo.

Quando sentimos dor nas nossas vidas é muito fácil nos sentirmos isolados, desabrigados, e vulneráveis. Todavia, o pertencer é sempre um conceito irreal, para não dizer efêmero.

Quantas vezes Adora sentiu que não pertencia a lugar algum, buscando abrigo naquela que lhe tirava risos durante o dia e lhe aquecia durante a noite, ou até mesmo quando passavam a madrugada inteira acordadas sussurrando segredos entre as paredes escuras do quarto compartilhado na horda. Nunca imaginou que sua vida tomasse proporções como estas atuais, porém não há como dimensionarmos o futuro, tudo o que podemos fazer é ficar nas mãos do presente. Participar de algo além do ordinário pode ser o início de um novo pertencimento.

Naquela noite quando tomou aquela decisão, sabia que mais uma vez tudo em sua vida mudaria, a ideia ainda era assustadora, não sabia como se portar diante tudo, e temia por todos os receios e até mesmo anseios escondidos em seu coração, durante todos seus anos de vida, poucas coisas foram de sua escolha, tudo que lhe foi acometido, foi passado em forma de dever, seja como cadete da horda, ou como a Princesa do Poder na rebelião, ela tinha que fazê-lo, não tinha outra opção, tinha que ser ela, tinha que manter tudo receptivo e resiliente.

Porém, se teve algo que aprendeu com Mara, foi que o que torna tudo diferente e tangível, é a forma como lidamos com isso, é tudo que conduz o ritmo de cada ação partilhada, ser egoísta às vezes também pode ser heróico. Não há porque temer o pior, não há também razões para não esperar o melhor. Agora ela tinha uma decisão, uma que era de sua total liberdade de escolha, e no fundo desejava inteiramente que algo bom saísse daquilo, pois seria egoísta mais uma vez por mais temeroso que parecesse.

Glimmer sabia só de olhar para Adora, os conflitos que a amiga travava internamente pois eles transbordavam pela feição dela, Adora nunca foi boa em controlar a ansiedade e era visível o temor que ela sentia após ter tomado sua decisão. O jantar acabou e assim alguns preparativos foram iniciados para a viagem, antes de Adora sair, Glimmer pediu para que ela a acompanhasse, e assim a loira fez acompanhou a amiga e Bow até uma sala reservada do castelo. Catra ficou para trás, resolvendo mais alguns pontos sobre a viagem dimensional com Entrapta e Teela.

O fogo da lareira na sala aquecia o clima frio da noite eteriana, as luzes baixas deixava o ambiente aconchegante, Adora se sentou no sofá logo segurando uma almofada no colo, Glimmer encarava a lareira enquanto Bow permaneceu em pé, ele também conhecia Adora o bastante para saber o que martelava na cabeça dela.

– Entrar em contato com o que há de mais profundo em nós e descobrir quais foram os verdadeiros vínculos rompidos não é nada fácil, não é mesmo? - Glimmer se virou sorrindo singelamente para a amiga sentada no sofá.

– E-eu... eu - titubeou, não esperava por aquela pergunta e não sabia ao certo o que dizer aos amigos.

– Está tudo bem Adora, é normal que esteja nervosa. - Bow sentou ao lado dela, e pode enxergar todas as incertezas que ela tinha nos olhos, afagou o ombro dela ternamente em forma de apoio, esperando paciente a resposta da melhor amiga.

Grande parte da vida consiste simplesmente em compartilhar coisas, informações, experiências, mas como compartilharia isso com os amigos se nunca teve esse tipo de experiência, se alguém a perguntasse o conceito de pais não saberia responder, entretanto aprendeu com os amigos que família é onde o coração habita, e ela os amava do fundo de seu coração, eles faziam parte de sua família. Quando tudo era sufocante demais eles estavam lá para ajudá-la a continuar, acolheram uma desertora da horda e confiaram nela com suas vidas, e apoiavam suas decisões, até mesmo depois de tudo acolheram aquela que antes achou que seria a única família que teve algum dia, mesmo depois dos erros Catra estava em Lua Clara e ocupava expressivamente um lugar naquela família.

I never hated you Onde histórias criam vida. Descubra agora