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GEÓRGIA

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GEÓRGIA.

A noite de sábado é um alívio.

Sarah e eu nos instalamos no quarto dela para uma maratona de el chapo na Netflix. É a nossa última obsessão, e eu estava ansiosa por isso a semana inteira, já que essa normalmente é nossa programação dos fins de semana, mas hoje à noite estamos prestando metade da atenção.

Cameron está enroscada no banco embaixo da janela,teclando no seu notebook, e eu estou esparramada na cama com Dom Casmurro,de Machado de Assis, aberto no Kindle. Esse livro é considerado um dos maiores livros da literatura universal, além de ter um mistério que até hoje é indecifrado, e estou determinada a terminá-lo antes do fim do semestre, mas está indo bem devagar. E não consigo me concentrar.

Tivemos uma prova mais cedo hoje no colégio, o que já me fez ficar estressada o suficiente, física realmente consegue me tirar do sério e o Nate, um cara meio peculiar, não levantava o braço hora nenhuma, praticamente impossível de colar, e ele era minha última esperança já que era o único inteligente do meu lado.

Minha amiga estica o pescoço em minha direção e aperta os lábios em uma linha fina, retirando os óculos de seu rosto e descruzando suas pernas, me encarando como se procurasse alguma resposta em meu rosto, a olho com a mesma expressão e movimento meus dedos dando a entender para ela falar o que tanto queria.

—Que livro de velho.— Sarah finalmente fala.— Nem pra você ler algum romance descente.

—Você tem que parar com essa mania de julgar todos meus gostos.— Digo e reviro meus olhos.

—Ok, voltando a fita, que estávamos falando de romance.— Ela muda completamente o assunto.—O que está acontecendo entre você e JJ?

—Nada.

—Não adianta mentir pra mim, você franze a sobrancelha e aperta os olhos quando mente. Pode falar tudo.— A loira se joga ao meu lado.

Droga, Sarah sempre me conheceu absurdamente bem, não estava afim de comentar minha relação com Maybank pra ninguém, se o que temos pode se chamar de relação, acho que sim, já que nos relacionamos sexualmente uma vez, estou extremamente confusa sobre tudo, não acho que seria um bom momento e ela percebeu isso pelos meus olhos ao encara-la.

—Por favor.— Ela faz uma voz manhosa.— Juro que não te pergunto mais sobre isso depois. Eu estou confusa pra caralho.

—Estou mais ainda.— Suspiro.

—Não, primeiro vocês se beijam, depois brigam, JJ te chama no instagram, você some por um dia, me manda mensagem falando que estará em casa na manhã seguinte, vejo você indo pro quarto com ele na festa e dias depois você prepara uma surpresa pro aniversário dele, além de que agiram como namorados ontem.— Sarah joga cinquenta palavras no ar e eu tento raciocinar.— Cara, desde quando você parou de me contar os detalhes da sua vida?

—Nós transamos.

—Vocês O QUE?— Ela grita e eu coloco minha mão em sua boca.

—Transamos, fudemos, fizemos sexo. Não entendeu?

—Caralho, meu casal tá mais que vivo, imagina nós duas que somos melhores amigas, namorarmos melhores amigos, juntas.— Ela bate suas mãos feliz.— Agora me conta, como foi?

—Foi bom, quer dizer, bom pra cacete.— Relembro.— Cara, repetir nossa transa está na minha lista de top dez coisas que tenho que fazer de novo.

—E em relação a ele, como você está?— Sarah incrivelmente age como uma psicóloga, suas pernas agora em posição de índio, seu óculos que recém retornou ao seu rosto e um coque bagunçado enquanto toma o resto do café que estava na mesa, então aproveito o momento, realmente preciso colocar minhas ideias na cabeça.

—Eu fico imaginando várias paradas no dia a dia, infelizmente todos pensamentos são sobre ele, parece que eu me derreto e me deixo levar pelo jeito que ele fala. Droga, não estou gostando disso.— Não estou desabafando pra ela, estou analisando minha mente em voz alta.— Claro que eu não estou gostando dele, mas é diferente em relação a alguns homens que já me relacionei.

—Não consigo te entender amiga, mas vou te apoiar.— Sarah põe sua mão em meu ombro o acariciando levemente.—Enfim, só toma cuidado com o JJ, ele é meio explosivo e eu não estou afim de esmurrar a cara dele.

Eu não sou muito de ler pessoas, claramente não entendo Maybank, mas não posso julgar, não sei exatamente como foi a sua infância, e eu realmente faria de tudo pra entender, ele é uma boa pessoa, todos passamos fases complicadas na vida, cada um lida de um jeito e amadurece de acordo com a experiência, tenho quase certeza que seu pai tenha transtorno dissociativo de identidade, isso pode ter afetado sua vida de uma maneira indescritível, ele não é "explosivo" só tenta se proteger de qualquer forma, bom, eu acho.

Saio dos meus pensamentos ao ouvir Sarah gritar em seu telefone, franzo o cenho, parece uma briga de facas entre ela e o Ward, ao mesmo tempo escuto Wheezie batendo na porta pedindo para falarmos mais baixo, essa casa é um caos. Isso explica muito sobre a personalidade de sua família.

—Desculpa.— Disse ela quando finalmente voltou seu olhar para mim.— Rafe é um babaca. Passaram uma moto por cima do celular dele hoje.— Me pergunto isso é possível.— Agora meu pai quer que a gente dívida o meu celular até ele aprender a ser responsável. Não vou dar meu número para aqueles amigos agressivos e trogloditas.

—Ah qual é, eles nem são tão ruins assim, seu irmão é o pior deles.

—Para, você sabe que são. Hoje de manhã peguei Kelce  pegando cinco salgadinhos do armário e comendo tudo como se fosse um dinossauro, nem Rafe estava em casa, não tenho ideia o que essa coisa estava fazendo aqui.

—Nem eu, quero dizer, se nós morássemos juntas, bem longe de Outer Banks a vida seria mais...— Sou interrompida com um alto barulho vindo do andar de baixo.

Sarah e eu nos olhamos e levantamos como o flash, não que eu esteja curiosa com o que está acontecendo, mas sou uma ótima observadora, não posso perder um mínimo detalhe sobre o que acontece nessa ilha, entramos em um escritório, suponho que seja somente um quarto inutilizado já que nunca entrei aqui antes. As paredes cobertas por discos antigos e um grande cartaz dos The Rolling Stones.

Merda.

Ao olharmos pela janela envidraçada, vejo Rafe, Barry e, porra, meu irmão. O que caralhos esse imbecil filho da puta está fazendo com eles? Os três estão brigando aos socos como se quisessem iniciar a terceira guerra mundial. Olho pra minha amiga que está com as unhas em sua boca me encarando, provavelmente perguntando o que deveríamos fazer, eu balanço a cabeça, não seria uma boa intervir, Barry é um cara perigoso, se meu irmão está afim de morrer, que seja sozinho, sou muito bonita pra morrer cedo.

—Nada.— Digo.

Amanhã será um longo dia.

𝐎𝐁𝐒𝐄𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍, 𝐦𝐚𝐲𝐛𝐚𝐧𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora