Através da Minha Lente

Capítulo 1

Any

Manhattan, NY, 07 de janeiro de 2022

Acordo com o despertador às 7h da manhã, como de costume. É difícil levantar quando se tem o quarto como refúgio pessoal. A cama de casal com lençóis brancos e macios é extremamente aconchegante, principalmente em dias mais frios. Olho ao redor respirando fundo, as paredes são de um verde suave, criando uma atmosfera de tranquilidade. Há mesas de cabeceira com lâmpadas de leitura em cada lado da cama e do lado esquerdo um grande armário embutido guarda minhas roupas, enquanto uma pequena escrivaninha perto da janela serve de espaço para meus momentos de trabalho e reflexão.

Vou ao banheiro para lavar o rosto e escovar meus dentes. Apesar de pequeno, é funcional e elegante, com azulejos brancos e cinzas formando um padrão clean e moderno. Uma planta pequena no parapeito da janela adiciona um toque de frescor, e a luz que entra durante o dia faz com que o espaço pareça maior do que realmente é.

Caminhando pelo corredor, chego à sala, ela possui uma bancada de mármore branco, que divide o ambiente da cozinha, que é um dos meus espaços favoritos na casa. Abro um dos armários de madeira clara para pegar alguns utensílios. No centro da cozinha há um pequeno balcão com duas banquetas. Lá é onde preparo meu café. Coloco o pó e a água na cafeteira, deixo a magia acontecer enquanto sentada em uma das banquetas, me perco em pensamentos enquanto olho para os azulejos geométricos que revestem a parede atrás do fogão. A cafeteira apita avisando que o café acabou de passar. Sem espera, despejo meu precioso líquido preto na caneca. Não adoço. Às vezes uso canela, mas é raro. Gosto do café puro e muito quente.

Enquanto caminho pela minha sala, sou imediatamente envolvida por uma sensação de conforto e aconchego. As paredes da sala são pintadas em um tom suave de azul, lembrando o céu em um dia claro, e são decoradas com quadros de paisagens que capturam a serenidade da natureza. Esses quadros são de fotos que eu mesma tirei e mandei emoldurar. No canto esquerdo, uma estante de madeira clara, abarrotada de livros e pequenas plantas, adiciona um toque de vida e cor ao ambiente. O sofá de linho cinza ocupa o centro da sala, convidativo e perfeitamente posicionado em frente a uma mesinha de centro de vidro, onde uma vela aromática exala um perfume leve de lavanda.

A luz natural entra generosamente pelas grandes janelas que ocupam quase toda a parede oposta à porta de entrada. Essas janelas são emolduradas por cortinas de linho branco, que balançam suavemente com a brisa, deixando entrar a claridade que ilumina o espaço de maneira quase mágica. Abaixo das janelas, há um sofá de tecido bege onde adoro me sentar nas manhãs tranquilas, com uma xícara de café nas mãos. Dali, observo os outros apartamentos em frente, imaginando as histórias que se desenrolam por trás das cortinas. Fico divagando sobre minha vida atualmente. Meu apartamento é mais do que um lugar onde moro; é um reflexo de quem sou, aos poucos sendo carregado de memórias e detalhes que fazem dele um verdadeiro lar.

Às vezes não acredito que consegui minha tão sonhada liberdade. Amo meus pais e tenho muito o que agradecer a eles, se não fosse pelos dois, hoje eu não estaria aqui nesse prédio maravilhoso em Manhattan, a um passo de realizar meu próximo sonho, a independência financeira.

A verdade é que eu já queria sair de casa há tempos. Faltava um trabalho decente e quando consegui o emprego dos sonhos, a coragem para morar sozinha brotou rápido. Me mudei há pouco mais de um mês no intuito de ficar mais próximo da galeria onde vou trabalhar. Sonho um dia expor minhas fotografias lá, mas é só uma questão de tempo.

De repente minha atenção se volta para o prédio em frente ao meu. Puxo minha câmera, que fica no tripé perto da janela e olho pela lente ajustando o zoom da imagem. É ele. O Deus grego.

Como pode ser tão lindo, minha Deusa? Os cabelos negros e lisos até o ombro, olhos intensos e marcantes, um maxilar bem definido e uma boca carnuda que chama a atenção. Seus ombros largos dão a ele uma postura imponente, e o abdômen, perfeitamente esculpido, revela as horas dedicadas na academia para definir cada um daqueles gomos. Enquanto o observo da janela da minha sala, meu café quase esfriando na xícara, não consigo evitar imaginar como seria conhecê-lo de perto.