Capítulo 4

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Any

Manhattan, NY, 08 de janeiro de 2022

Não preguei o olho a noite inteira. Ainda bem que hoje é sábado, senão eu não teria condições de trabalhar. Peguei meu café e fui pra janela como de costume. Vi as movimentações dos prédios em frente e tive muita vontade de pegar minha câmera, já estava virando um vício isso, mas me lembrei do dia anterior e de como o homem estava furioso.

Fico me perguntando o porquê da agressividade. Pensando bem, lembrando da abordagem dele, o cara queria saber quem tinha me enviado para espioná-lo. Espionar? Eu? Sorrio incrédula. Esse cara deve ser algum fugitivo da polícia.

Já sei quem pode me ajudar. Senhor Paul, o porteiro. Bom, não era bem ele que estava trabalhando ontem à noite, mas esse coroa conhece todo mundo.

Visto uma roupa rapidamente e já desço para encontrá-lo.

Quando chego na portaria, o senhor Paul estava regando as plantas.

- Bom dia.

- Como vai, senhorita Any?

- Estou bem. - Sem rodeios lhe pergunto sobre o homem do prédio em frente. Descrevo-o para que o senhor Paul tenha certeza de quem falo. - Ele se chama Dante, é alto, branco, cabelos pretos até o ombro e olhos claros. Parece italiano.

Ele levanta a mão me interrompendo.

- Aquele é Dante Moretti. - Eu disse, esses porteiros sabem de tudo. - Não se envolva com ele, senhorita Any. Conselho de um amigo que lhe quer bem.

- Não, não é isso...

Paul estava visivelmente incomodado com meu interesse no homem. Parecia um vovôzinho super protetor. E logo depois entendi o porquê. Ele disse que Dante era sobrinho de um conhecido mafioso chamado Dom Giovanni Moretti e apesar de inúmeras denúncias contra ele, a polícia nunca conseguiu provas para incriminá-lo.

Eu gelei. O cara era sobrinho de mafioso, claro que ele era da máfia também!

Puta merda, tomara que ele ignore minha existência. Vou apagar seu vídeo. Vou apagar tudo que gravei.

Volto depressa ao meu apartamento e sento no sofá pensando no que vou fazer.

Será que me mudo? Esse apartamento é tão bom... seria um pena sair daqui logo agora que me ajeitei.

Tento me acalmar, não posso tomar decisões precipitadas. O que me resta agora é torcer para que ele não cisme com a minha cara.

Ai ai, Any.... em que merda você foi se meter, garota? Tu mexeu na porra de um vespeiro e de lá saiu um italiano assassino e mafioso, pronto para estourar seus miolos a qualquer momento.

Dante

Casa de Dom Giovanni Moretti

A segurança do meu tio foi triplicada. O velho veio me atender com mais cinco trogloditas a tira colo.

- Vamos meu filho, temos muito o que conversar. - Diz ele me cumprimentando com um beijo no rosto.

Caminhamos em silêncio até o escritório do Dom. Ele não queria que ninguém ouvisse o teor da reunião, nem mesmo seus segurança, por isso os deixou de fora da sala quando entramos.

- Então você está desconfiado que alguém amou pra você, meu sobrinho?

- Sim. - Respiro fundo. Preciso passar segurança. - Eu não cheguei aonde cheguei sendo amador, tio. Eu sabia perfeitamente o que aquele acordo significava para a família. A troco de quê eu mataria os gêmeos?

Meu tio está inquieto. Me pediu que relatasse novamente o que havia acontecido. Eu já havia contado, mas ele queria ouvir tudo novamente, mas agora olhando nos meus olhos, prestando atenção nos detalhes, na minha fala e meus trejeitos. Uma titubeada minha e o velho ia pensar que eu estava mentindo, mas eu não tenho o que esconder e ele me conhece o suficiente pra saber que é verdade.

Começo falando sobre o encontro com os gêmeos e que logo de cara percebi que os dois estavam tensos, mas segui adiante com a conversa e repassando informação do acordo que seria selado entre os Moretti e os Denaros. Relato como fui bruscamente interrompido por eles e sem mais nem menos apontaram uma arma para a minha cabeça, gritando que não haveria acordo, já que eu estava traindo a confiança de todos.

- Se disseram que você estava traindo a nossa confiança é porque alguém repassou alguma informação para eles.

- Acredito que tenha saído daqui. Mas eu não sei por onde começar a procurar.

Conversamos por mais de duas horas e meu tio, como sempre, aquela mente ágil e perspicaz, já tinha bolado um plano. Se desse certo, em menos de um dia teríamos a certeza se foi armação interna ou dos próprios sicilianos.

Ao sair do escritório, fomos até a área gourmet, perto da piscina. Minha tia já estava por lá preparando o almoço. Amo as comidas dela, sempre muito deliciosas. Minha descendência italiana grita alto quando ela prepara suas massas. E hoje teria a deliciosa Bucatini all'amatriciana, uma perdição!. Era feita com uma massa longa, tipo um spaghetti grosso. O molho a base de tomates, guanciale e queijo pecorino... Melhor impossível! E esse prato é sua especialidade, pois é típico de Amatrice, cidade da região central da Itália, onde mora praticamente toda família da minha tia Antonella.

Ela me abraça assim que me vê. - Vai almoçar aqui, Dante?

- Com certeza. A senhora acha que vou perder sua deliciosa Bucatini?

- Está namorando alguém, sobrinho?

Ela não perde tempo, sempre querendo me ver casado.

- Ainda não. - Olho para o meu tio, que se diverte com meu olhar de súplica para me ajudar a fugir do papo.

De longe escuto vozes agudas me chamando. São Riccardo, Eduardo e a pequena Sofia que correm na minha direção e pulam no meu colo quase me derrubando.

- Dante!

Eu rio segurando os garotos de cabeça pra baixo enquanto Sofia se agarra na minha perna.

Dou graças a Deus por meus primos terem aparecido. Fui salvo de uma conversa constrangedora pelos diabinhos.

 Fui salvo de uma conversa constrangedora pelos diabinhos

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