Capítulo 7

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Any

Pego o papel e vejo o telefone dele escrito. É surreal como eu quero que ele vá embora ao mesmo tempo que desejo imensamente que ele fique e me foda a noite toda.

Meu medo não vem somente da lembrança da arma apontada para a minha cabeça, mas também de saber que ele é de uma família mafiosa. Duvido muito que não esteja envolvido com algo de ilícito. Será que ele já matou alguém? Pergunta idiota, Any, com certeza já.

Olho para a janela do apartamento dele e noto uma movimentação lá. Não pode ser o Dante, ele acabou de sair daqui. Não me contenho, então pego a minha câmera e dou zoom para observar melhor. Eu vejo dois homens armados vasculhando os cômodos.

Tem alguma coisa errada.

Aponto a câmera pra rua e vejo Dante entrando em seu prédio. Não penso em nada, apenas teclo o número dele no meu celular e em alguns segundos escuto sua voz jocosa do outro lado.

"Não aguentou de saudades"...

Mando ele calar a boca e aviso que tem gente armada em seu apartamento.

Silêncio do outro lado da linha.

— Dante, você está aí?

Ele diz que está voltando, pede que eu saia da janela e apague todas as luzes. Em alguns minutos ele chega. Seu semblante está completamente diferente de antes. O homem sedutor, que há pouco brincava comigo e falava cheio de sorrisos, agora tinha uma fúria em seu olhar, principalmente quando viu através da minha câmera os homens que invadiram sua casa.

— Esses filhos da puta. Sabia que era gente de dentro.

— Dante…

Ele se vira para me dar atenção, mas eu não consigo falar nada. Dante, então, vem até mim e segura meu rosto com as duas mãos. Seus olhos azuis fixam nos meus e um sorriso confiante me acalma um pouco.

— Você acabou de salvar minha vida, minha linda. Estou em dívida com você. - Me dá um beijo na testa e se afasta. - Não chegue perto da janela, ok?

Meu coração está acelerado. Eu permaneço em pé, perto da bancada da cozinha. Meio que não sei o que fazer. Começo a pensar que se eu não tivesse visto os homens no apartamento dele, Dante poderia estar morto agora.

— Any….

Ele interrompe meus pensamentos.

— Oi?

— Preciso do vídeo que gravei aqui.

Dante traz minha câmera. Busco meu celular com o olhar, mas não acho.

— Espera.

Vou até o meu quarto e encontro o aparelho em cima da cama. Pego rapidamente e quando me viro dou de cara com Dante, que me seguiu. Acabo trombando com ele, que reclama rindo e passando a mão no peito.

— Desculpa, eu não percebi você vindo.

— Calma, você está nervosa.

— Eu não sou ingênua, Dante, sei bem o que está acontecendo.

— Senta aí. - Ele me conduz até minha cama e tenta, mais uma vez, me acalmar. - Você está segura. Ninguém sabe onde estou, ninguém sabe de você, então não se preocupe que nada vai acontecer.

Dante me entrega a câmera e pede que eu envie para seu celular o vídeo que ele gravou.

— Já faço isso.

Enquanto mexo na câmera, ele vai novamente para a sala. Escuto Dante falando pelo celular com alguém. Diz que o plano deu certo e que irá mandar um vídeo para o e-mail.

De que plano ele está falando?

É como se desse um estalo no meu cérebro. A vinda dele aqui hoje foi toda programada para isso. De alguma forma Dante sabia que iriam invadir seu apartamento e me usou para gravar esse momento.

Ele aparece de repente na porta do meu quarto.

— Conseguiu mandar o vídeo?

Fito seus olhos azuis por uns segundos e digo que já estou mandando. Prefiro não confrontá-lo. Se a vinda dele aqui foi somente por esse motivo, então pode ser que ele me deixe em paz.

Um misto de alívio e decepção toma conta de mim ao pensar que talvez a gente não se encontre mais.

Melhor assim.

— Já foi. - Digo deixando a câmera em cima da cama.

Ele checa o celular e confirma o recebimento. Volta para a sala enquanto eu permaneço no meu quarto.

Olho a tela do meu celular para ver as horas e me surpreendo, pois já passa das dez da noite. Nem senti a hora passar. A tensão me fez esquecer completamente do tempo. Respiro fundo e repito mentalmente que vai ficar tudo bem... até que ouço Dante falar que não volta hoje para casa.

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