Capítulo 1

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Pov Marília:

No que tinham me metido?

Cada nervo do meu corpo estava congelado, não tinha forças para agir. Eu estava ali como o prêmio mais caro da noite. Tudo que eu queria era sair daqui, correr rápido para fora desse lugar, não aceitar ser leiloada como um objeto. No entanto, já era tarde demais para isso, eu não tinha nenhum direito de escolha.

Enquanto estava na coxia daquele grande teatro esperando o fatídico momento onde minha vida iria acabar, conseguia ouvir os murmúrios e cochichos das pessoas ali, para eles, eu era uma aberração. Esses comentários já não me afetavam mais, foram anos ouvindo as mesmas coisas, eu só passei a não me importar.
Fecho os olhos por um momento deixando com que as lágrimas caiam de forma involuntária sobre o brilhoso e comprido vestido vermelho. Torcia, internamente, para que tudo fosse um pesadelo, para que ela entrasse correndo por aquelas portas e me livrasse daquela situação horrível. Que ela tivesse mudado de ideia.

Tudo uma mera ilusão.

Abro os olhos sentindo minhas bochechas quentes por conta das lágrimas, um frio congelante por todo o meu corpo. O medo me consumia, respiro fundo e vou para dentro do camarim, demoraria para chegar o meu momento de “brilhar”.

Me olho no espelho e depois de tantos dias, um resquício de sorriso surge em meus lábios. Eu estava linda. Meu cabelo loiro estava solto causando um efeito cascata em minhas costas nuas, com ondulações por todo ele. O vestido vermelho sangue modelava as curvas do meu corpo trazendo um ar de sexualidade. Nos pés, um scapin preto e no rosto uma maquiagem leve na qual apenas meus lábios eram marcados pelo forte batom vermelho.

“essa é a única coisa que a tornará apresentável. Ponha logo o vestido mais bonito, as melhores jóias e tudo mais, essa aberração renderá muito dinheiro” – Ouvia isso com frequência dele, Fernando. Quem era? O homem mais podre que poderia existir, o organizador daquele evento. O ser que aceitou o maldito contrato e me trouxe até aqui. Afinal não a muito o que esperar de uma pessoa tão desprezível, alguém como ele nunca rejeitaria uma boa quantia em dinheiro.

A porta do camarim é aberta com agressividade, levanto minha cabeça e através do espelho o vejo. Seu olhar era frio, e em seus lábios pairavam um sorriso demoníaco. A cada passo que ele dava em minha direção, eu me encolhia internamente. Eu tinha nojo de mim todas as vezes que ele chegava perto. Suas mãos passam em meu rosto e fecho os olhos para não vomitar.

- Sabe, Marília? Se olharmos num geral, você até que é bonitinha. Eu te foderia com força se você não fosse um monstro. – Ele fala bem perto de mim enfatizando a última palavra. – Bom está na sua hora, vamos logo aberração. Acho que nunca ganhei tanto dinheiro quanto vou ganhar hoje. – Saímos dali e eu sabia que meu fim estava mais perto do que nunca agora.

As luzes estavam fortes, cada pessoa ali usava uma máscara que cobria qual era a sua verdadeira identidade. Muitos homens, poucas mulheres. Mesmo com o utensílio de plástico tapando o rosto, era possível identificar os olhares daqueles nojentos sobre mim. Muitos elogios, se assim posso classificar, eram direcionados a mim.

Será que se estivessem sem as máscaras, eu os identificaria? Talvez alguns. Eram famosos, ricos, grandes empresários ou uma união das três coisas. E todos aqui estavam com um único objetivo, me levar para casa. Fechos os olhos por meio segundo quando escuto Henrique falar, estava na hora e a cada palavra o meu desejo era apenas um, sumir.

Respiro fundo e levanto a cabeça. O olhar deles sobre mim me deixava agoniada, com ainda mais medo e aflição. O quanto estariam dispostos a pagar por uma jovem de 20 anos, virgem e interssexual?

- Se acalmem damas e cavalheiros, vocês terão oportunidade de leva-la. - Ele me olha com aqueles olhos cobertos por luxúria e sede de dinheiro, com um sorriso vitorioso, ou melhor, demoníaco nos lábios. O mesmo sentimento que Fernando emanava minutos atrás. - Essa é Marília Mendonça, uma jovem bonita, virgem e com algo que poucos vão acreditar, ela é interssexual. - Ele dá um sorriso satisfeito com a reação do público que vai a loucura. Me encolho internamente a cada nova expressão.

- Quanto estão dispostos a pagar por ela e sua preciosa diferença? - Agora era Fernando que lançava essa pergunta. Engraçado que me chamava de aberração por conta da minha condição e agora está dizendo que é preciosa? Hipócrita maldito.

- Eu pago 50 mil! - Um homem diz alto levantando sua plaquinha. Não via seu rosto, mas pela altura imaginava ser alguém de idade. - 55 mil, uma mulher mais trás diz levantando sua plaquinha.
Será que a curiosidade e o desejo levam as pessoas a tamanha loucura assim?

Os lances continuavam e a cada valor meu corpo tremia ainda mais. Meu subconsciente dizia que dava tempo de fugir, mas o que eu faria se fugisse? seria morta. Mas pensando bem a morte seria melhor do que a violação que eu corpo sofreria.

- Eu pago 250 mil... - um homem na primeira fileira falou levantando sua placa - UAU, mais alguém? - O silêncio se instaura no lugar - Dole uma, dole duas, dole... - Antes de bater o martelo fechando a compra uma voz se instaura no lugar.

- Eu pago 500 mil...

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Sejam bem vindos a minha primeira obra autoral. Espero que gostem e estou sempre aberta a críticas construtivas e ideias.
Amo vocês!

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