Ao chegar em casa, paro a bicicleta na frente e destranco a porta do nosso apartamento pequeno e aconchegante, dando de cara com Eponine sentada de frente para um buquê de rosas vermelhas, com Cécile dormindo em seus braços.
Minha primeira reação é surpresa.
Deixo minha bolsinha em cima do sofá e cumprimento vovó, que mesmo resfriada, prepara algo cheiroso e bonito para a gente comer.
— O que são essas flores? — finalmente questiono minha tia, estacionando na sua frente com a testa enrugada.
— Como assim, Rose? — arrebita o nariz, balançando sua recém nascida no colo. — 15 anos dentro de uma floricultura e ainda não reconhece rosas quando vê algumas?
Reviro os olhos para sua brincadeira e sem me importar, puxo o cartão de debaixo da cesta de papel bem arrumada.
Espera...
Parece o buquê que vendi para Bastiel, minutos antes.
Para quem é?
Abro o pequeno papel amarelado de propósito e reconheço a caligrafia bonita de algum lugar, mas não sei dizer ao certo.
As letras são emendadas e do tipo cartas de amor dos filmes, onde todos escrevem para seu par romântico como se tivessem feito curso de caligrafia.
— Hum? — murmuro sozinha ao ler as palavras. — Mas que...
— Nada de palavrões na minha casa, mocinha! — berra vovó, como se essa fosse a coisa com a qual eu mais devesse me preocupar no momento.
— Não era palavrão.
Minha cabeça gira e fecho o papel, devolvendo-o ao seu lugar entre as rosas.
Eponine sorri para mim, sem parar de balançar seu pequeno pacote enrolado em uma manta colorida.
— Viu só? Estava endereçado para você. — tira a franja dos olhos com a mão livre. — Pelo visto alguém tem um admirador secreto. Ouviu isso, mãe?
Sinto meu rosto ficar vermelho. Minhas bochechas coram.
Ouço a colher de pau dar tapinhas na panela e vovó solta um muxoxo.
— Isso não é tão bonitinho quanto parece. — começa ela. — O garoto pode ser um stalker, ou...
Eponine gargalha e eu pego minhas flores de cima da mesa, trilhando caminho para o meu quarto.
Preciso ficar sozinha.
— O que você sabe sobre stalkers, mãe?
— Ah, você não entende. — alega Vó, ríspida. — Rosie é inocente, e precisa se manter assim.
— Claro, claro. E eu sou uma virgem que só vai fazer sexo depois do casamento. — Eponine debocha. — Ops, ah não! Engravidei e pari um neném sem querer.
Vovó diz algo que sai abafado quando fecho a porta do meu quarto e deslizo para o chão, dando uma fungada no perfume reconhecido que elas exalam.
Rosas vermelhas. As mais belas flores de todos os tempos, que significam amor, paixão e interesse óbvio.
Tão, tão lindas!
Devaneio ao reler o pequeno papel, sem saber o que deveria pensar disso. Ou sobre que garoto o mandou.
Você não sabe, mas eu gosto de você. Eu realmente gosto de você.
Essas flores são para te lembrar disso. Não é engraçado como a garota da floricultura nunca as recebe, apenas as vende?
Se sinta importante hoje, Rose.
Rosas para Rosie. Sei que são suas favoritas. Espero que goste.
Ass: Admirador Secreto.
— Ei, Eponine? — grito do quarto, minhas mãos tremendo de nervosismo.
Meu coração está descontrolado.
Abro a porta apenas para colocar a cabeça para fora e poder enxergar minha tia.
— Você não viu quem deixou isso aqui?
Ela nega com a cabeça e dá de ombros, largando a pequena Cécile no berço, tranquila.
— Não faço idéia. Não faz muito tempo. — faz sinal para a janela. — Alguém tocou a compainha e eu tentei espiar quem era, mas saiu correndo. Estava usando uma jaqueta azul e tinha cabelo grande, eu acho.
Mordo o lábio inferior, encarando o chão.
Foi Bastiel quem me deu as flores? Ele nem se lembrava do meu nome!
A jaqueta azul do time de futebol. Ele estava a usando na loja.
Merda.
Que história de admirador secreto é essa? Deveria me sentir lisonjeada, mas só me sinto nervosa.
Era o que me faltava.
Lilases: a flor da cor lilás significa respeito, devoção, sinceridade, piedade, espiritualidade, transformação e purificação.
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Rosas Para Rosie ✔
Romansa[Conto] Rosie não é nem de longe a garota mais legal e extrovertida que conhece. Ela trocaria uma festa e uma bebedeira por ficar trabalhando na floricutura da avó até tarde, sem nem pensar. Porém as coisas mudam como as flores crescem na primavera...