Já fazia algum tempo que me sentava de frente a uma mesa fria, quase vazia, que apenas acomodava minha solidão, um papel e algumas canetas falhas... ...tão falhas quanto as baboseiras que se passavam por meus pensamentos tardios em noites frias.
Bem, em dias como aqueles, meu amigo costumava se juntar a mim, falando um pouco de groselhas até o cair da noite. Geralmente andávamos por aí, chutando pequenas pedras que teimaram em fugir para longe de nosso pés. Ah, belas noites aquelas, mas que não existiam mais.
Que pensamentos malditos, me puxando para um passado que já deveria ter esquecido... Que saco!
O que devo dizer a mim mesmo? Aquela era única cura para a esquizofrenia de pensar em sentir seus dedos deslizando pela palma de minha mão.Voz desconhecida- o que sente? Digo, dizendo tudo isso e sem ao menos demonstrar alguma emoção- disse o grisalho, deixando que o óculos repousasse na ponta de seu nariz.
- como não? O que vê a aparência de um homem cansado, cansado de pensar, que apenas quer descansar- disse o rapaz de pele morena, ainda olhando a caneta que passava entre seus dedos.- nem sempre foi assim, caro doutor.
Doutor- entendo, mas o que sua companheira acha disso?- perguntou mudando sua posição na cadeira. O velho queria presenciar aquilo mais de perto.
- companheira...já faz algum tempo que não a vejo, acho que ela cansou de fingir para si o que já sabia... ...sua doçura impedia que eu levasse um pé na bunda, mas eu não pude a ver infeliz, não, eu não pude me ver infeliz- um suspiro fugiu de si, fazendo com que olhasse para cima, implorando que sua voz não ficasse embargada- aquele sorriso me fazia feliz, seu eu perdesse aquilo, perderia minha cor por inteiro, então naquele momento senti seus dedos escorregarem pela palma de minha mão e eu não pude a segurar, eu apenas a deixei abrir suas asas, a vendo voar... ...-parou de falar por um momento, deixando que todo aquele turbilhão o acertasse em cheio.
Doutor- entendo... Entretanto, como se sente depois daquilo?- o próprio se encontrou perdido nos pensamentos de seu paciente.- senhor?..senhor?
-oh, desculpe, acho que me distrai em pensamentos- se desculpou, recebendo um sinal para continuar- saber que ela me amava me deixou vivo, mas saber que o seu amor se dissipou como o vento, fez com que doesse, foi minha morte, foi o abismo que eu caí e sabe, eu não tinha uma corda para me salvar, então apenas sigo tentando escalar- antes que o grisalho tornasse a voltar a falar, foi interrompido pela fala do mais jovem- eu sabia dos riscos,mas me joguei em um escuro não profundo que não pude controlar.
A caneta voltou a tocar o papel e escrevendo algo, tomando o tempo indecifrável, trazendo o grisalho curiosidade, isso até o barulho estridente romper o silêncio interminável, fazendo com que o grisalho se levantasse.
doutor- nosso tempo acabou, mas volto a te esperar, hmmm na terça, as duas da tarde?- presumiu, vendo o homem acenar, enquanto sumia pela porta de seu consultório, deixando o pequeno papel a mercê de sua curiosidade.
Doutor- vejamos...- disse ao ler atentamente o que aquele frágil papel continha.
"Foi em um campo de girassóis que a encontrei. Foi em uma noite quente que ouvi seu pedido. Foi em uma cadeira de balanço que descobri o que queria.
Ainda estarei aqui, foi uma promessa querida, ainda te espero a cada noite que passa... ... Te amarei para sempre e mais um dia"
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Contos do Lobo
Short StoryAVISO. essas estórias terão cenas de sexo, violência sexual, violência, sangue, palavras de baixo calão e darão gatilho emocional, então caso tenha receio de ler, não leia. serão contadas estórias diferentes, algumas terão finais inesperados, o...