07. Falha

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(GAVIN)

Eu nem tinha como expressar a dor, compaixão e necessidade de proteção que havia se apossado de mim.

Desde que eu a peguei no colo no momento que poderia ser seu último, estava agindo da forma mais protetiva que podia. Mesmo com medo e angustiado, sabia que deveria priorizar sua segurança e estabilidade mental.

Eu iria falar com o doutor Solloman naquela tarde, também. Ele era o melhor terapeuta que já havia visto, e ajudou Donovan de uma forma que fez a total diferença. Tinha certeza de que ele também poderia ajudar a menina, mesmo que agora ela estivesse tão em choque que nem conseguia falar. O próprio Donovan concordaria com isso, também, que ela necessitava de atenção médica.

Pessoas mentalmente quebradas costumam descontar no próprio corpo depois de um tempo. Alguns comem sem parar, outros comem de menos; outros ficam à beira da exaustão de propósito, bebem muito, fumam exageradamente. Existem várias maneiras de demonstrar colapso, algumas mais sutis que outras. Mas automutilação era a pior, ao meu ver. Era a maneira mais direta, crua e cruel de se punir, deixando cicatrizes horríveis no processo.

Os braços dela eram finos, mas dava pra ver que a maior parte do antebraço até o pulso estava repleto de linhas horizontais. Não apenas cicatrizes, mas faixas avermelhadas bem recentes. Era um hábito antigo, ao que parecia, e mesmo assim não foi o suficiente. Retalhar o próprio braço a aliviou durante um tempo, mas até isso não foi efetivo.

... Ela escolhera a morte.

Aliás, "escolher" é uma palavra inadequada e sem sentido, já que ninguém morre por opção; muitos entregam os pontos porque não vêem saída, e o desespero faz com que atitudes assim sejam tomadas. Qual seria o nível de desespero dela? Será que eu poderia ajudá-la? Será que havia mesmo um modo de fazê-la viver?

Eu a queria viva. De verdade.

Coloquei as fatias de pão na torradeira e pus as xícaras na mesa. Fazia um tempo que não recebia alguém, e todo esse preparo doméstico me pegou de surpresa. Bom saber que eu ainda era um bom anfitrião.

Assim que peguei a garrafa térmica e comecei a servir o café, tive um sobressalto terrível.

Eu não deveria tê-la deixada sozinha.

Era simples: deixei uma garota que quase se suicidara na noite anterior num ambiente fechado, longe de qualquer supervisão, com uma maneira relativamente fácil de acabar o que havia começado bem ali na sua frente. Um convite cruel e explícito, um que eu não havia previsto. O desespero que subiu na minha garganta parecia me sufocar.

Senti as mãos suando frio ao largar tudo e ir correndo para o banheiro. Não me incomodei em bater na porta, apenas a escancarei de uma vez.

Horror. Horror infernal.

Não.

Não.

Não!!!

A água da banheira estava suja, não apenas de terra e afins, mas com traços óbvios de sangue.

E dentro dela, a imagem turva porém inconfundível de um corpo afogado. Algumas bolhas estouravam na superfície.

O mundo simplesmente parou de girar.

Ainda Não AcabouOnde histórias criam vida. Descubra agora