8 - Segredos

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"Mágoa = emoção que se manifesta devido a um sentimento de tristeza ou dor emocional despertada por traições, mentiras, ofensas ou desapontamentos."

*
Miley

7 anos atrás

Eu fui magoada tantas vezes que mal consigo contar, e todas essas vezes foram por pessoas que diziam me amar. Mas as piores foram as vezes em que eu me magoei, me decepcionei comigo mesma e não consegui evitar.

Estou parada há meia hora no meio-fio de um cruzamento, a cinco quarteirões do meu colégio, encaro fixamente o semáforo e suas cores, impressionada com a metamorfose neon entre amarelo, vermelho e verde, imaginando onde estão os sensores, as câmeras.

"Como sabem que é hora de ficar vermelho? Devem ter um sistema sincronizado. Entre todos os semáforos da cidade? E se o sistema falhar? Agora está verde de novo!" - eu pensava, obcecada.

No primeiro trago, senti. Foi questão de meio minuto; toda a tensão deixou meu corpo, como uma energia esvaindo pelas pontas dos meus tênis largos, substituída por uma imensa satisfação interior. Foi delicioso. As provas saíram da minha cabeça, as discussões em casa, as brigas e os sermões, a pressão em ser a melhor da turma, a decepção dos outros sobre minhas recentes mudanças de comportamento e estilo. Tudo se foi, e eu me senti satisfeita comigo mesma, sem nenhuma voz, somente o silêncio na minha cabeça.

- A brisa bateu errado, né, Miller - observou meu colega da escola, um cara magro, na cabeça alguns dreads pingados, na cintura uma pochete escondida debaixo da camiseta enorme. Esse sem nenhum motivo para ter minha confiança. O único motivo para estar comigo no meio da rua, era porque vendia erva da boa. Não respondi, ele estava errado. Eu nunca tive uma brisa errada e por isso sempre quis mais.

Riley ia me dar carona naquele dia, mas seu pai homofóbico agrediu Ryan por causa das roupas que ele vestia - agressões que foram tomando proporções gigantescas conforme ficávamos mais velhos - e eu perdi minha carona em cima da hora. O que não foi problema algum; tínhamos vários motoristas. Na verdade, veio a calhar, pois meus pais e Trace pensaram que eu já estava no caminho do colégio, o que me permitiu ir andando e encontrar meu traficante adolescente no caminho.

Eu juro que minha intenção era fumar só um, mas quando dei por mim, já tinha matado uns três becks.

- Temos que ir pra aula - o cara magro adolescente estendeu a mão, esperando pelo dinheiro - Vai querer mais alguma coisa ou tá de boa?

- Tô de boa - entreguei o dinheiro e coloquei a mão no bolso do meu imenso moletom preto, procurando por mais um beck. Pretendia acendê-lo antes que a brisa passasse. Eu não podia deixar passar; estava tão calma, relaxada e em paz, não podia deixar passar - Pode ir, vou entrar no segundo tempo - minha voz se arrastava para fora das minhas cordas vocais com tanta dificuldade que me fazia rir.

- Esse já é o segundo tempo, Miller - ele disse e não dei a mínima.

Sentada eu estava, e sentada eu fiquei. A rua era pouco movimentada, sem saída, com casas imensas onde ninguém entrava, a não ser os moradores, vigiada por câmeras de segurança cobrindo quase todo o perímetro. Contudo, eu sabia que, na esquina em que estava, as câmeras permaneciam desligadas porque a casa que mantinha o sistema de segurança ativo fora vendida e não havia ninguém morando lá naquele momento. E, sinceramente, eu não me importaria nem mesmo se houvesse câmeras. Quem ousaria chamar a polícia para a filha do senhor Miller, que é dono da empresa de advocacia que atende a maior parte dos moradores da região?

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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