Holland
Tenho 21 anos de idade; deveria me sentir mais adulta.
Aos 15 anos, eu tinha certeza de que, aos 21, não faria mais nenhuma besteira, seria madura o suficiente para possuir um bom discernimento e tomar boas decisões. Mas cá estou eu, colhendo os frutos das boas decisões que tenho tomado.
*
AgoraCaem canivetes do céu. Esse foi o termo que decidi usar... CANIVETES... A chuva está tão forte e gelada que sinto que as gotas são pequenas facas tentando rasgar minha pele. E piora: estou sem guarda-chuva, sem blusa de frio, com apenas uma regata branca muito fina que, a essa altura, está mais invisível que a própria Mulher Invisível do Quarteto Fantástico. Só quem já passou por isso vai entender meu drama.
"Merda, droga, droga, droga..." - praguejar mentalmente me alivia o estresse.
Sou a única em toda a universidade que faz uso do transporte público, nem mesmo os ativistas que bancam os "super preocupados com o meio ambiente" abrem mão do conforto poluente de seus carros. Todos são mimadinhos que ganharam carro no aniversário de 18 anos - a maioria pelo menos. Ou seja, estou totalmente sozinha, não só no ponto de ônibus; a rua se encontra deserta, chuvosa e completamente escura.
- Se eu morrer desse jeito, será tão ridículo! - penso alto, falando comigo mesma - Deus me proteja, cuida de mim e me leva pra casa em segurança - rezo baixo, mas gritaria se fosse contribuir para com a realização da minha oração.
Passo por esse frio mais gelado do que o coração anêmico do Lorde das Trevas de TPM por minha própria culpa. Se eu não tivesse o péssimo hábito de pegar meus colegas da universidade e depois fugir deles como o Rabicho foge dos Marotos, já estaria em casa.
"Puta que pariu, Holland" - ralho em meus pensamentos - "Por que você tem que ser piranha?" - rio; eu não sou tão contra essa minha característica.
Dylan - meu amigo que era só amigo até passarmos uma tarde na praia e acabar em sexo - insistiu, quase implorou para me levar em casa, tão empenhado que fez parecer que sua vida dependia disso. Talvez ele só quisesse mais uma noite de sexo, ou talvez soubesse que eu poderia morrer soterrada pela tempestade despencando na noite escura em meu caminho para casa. Eu disse "não" tantas vezes que acabei tendo que ser extremamente grosseira. Homens têm o péssimo hábito de não entender um "não", de achar que estamos fazendo "doce" ou que temos a obrigação de sermos receptivas. Mas, acreditem rapazes, um "não" sempre será um "não", e eu tinha dito "não"!
Dylan não é o tipo de cara que insiste até se tornar invasivo, mas acha que por sermos amigos e por termos transado algumas vezes, tem o direito de tomar conta da minha vida ou cuidar de mim, tirando isso, ele ainda pode ser um ótimo confidente. Recusei sua carona porque não queria lhe dar falsas esperanças, iludi-lo ou ter que transar por causa de um favor.
Ele foi embora... e eu... eu pretendia fazer o mesmo: ir para casa, tomar um bom banho quente, dar uma revisada em algumas matérias da universidade e depois dormir tanto que chamariam os bombeiros para me acordar - isso se alguém sentisse minha falta. Eu só não imaginava que seria pega por uma tempestade escrota e que o ônibus que passa todos os dias no mesmo horário atrasaria logo hoje.
- Mas que PORRA! - praguejo - Isso, grita mesmo sua louca, chama a atenção de algum assaltante, imbecil - me repreendo, estou tão zangada comigo mesma.
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Independe: "Foi escrito com marcador permanente, então é para sempre!"
Roman d'amour"Um romance sáfico que se desenvolve de forma natural e simples até deixar de ser e se tornar a fonte de recaídas, crises e ataques... Se quiserem saber mais, leiam rsrsrsrs" - MayDell "Mais aleatório que o Multiverso" - Feiticeira Scarlate. "Muitas...