Prólogo

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Desde minha mais antiga memória , lembro-me desse sentimento. Dessa necessidade que sempre tive de me sentir importante para alguém, de saber que minha existência não era inútil como a senhora Laurent dizia. Ela insistia que órfãos não deviam criar expectativas nem acreditar que seriam alguma coisa, porque não seriam. Eles eram destinados a uma vida onde não seriam amados nem aceitos por ninguém e o maior sinal desse triste fato era que todos nós naquele orfanato, havíamos sido abandonados ao nascer. Essa história seria mais simples se ela estivesse certa. Mas, infelizmente, ela não estava.

Corro sem olhar para trás. O vento frio açoita meu rosto e braços nus dolorosamente. Posso sentir os galhos se partindo sob meus pés descalços e a terra molhada. Eles estão doloridos e machucados pela longa corrida, mas não paro. Não posso parar. Cada segundo perdido o deixará mais próximo.

Quando nos encontramos pela primeira vez, ele não me conhecia. Não tinha como conhecer, afinal, naquela época nem eu mesma sabia quem eu era. Se ele soubesse tudo teria sido diferente e as coisas não estariam como estão agora. Se ele soubesse não teria feito o que fez aquele dia e nossas histórias não teriam se cruzado desta forma. Mas ele não sabia...

Em algum lugar distante ouço um lobo uivar. Como eu queria ser um lobo uivando para a lua esta noite. Mas não sou. Sou uma garota em fuga.

Paro. Uma bifurcação . É difícil lembrar o caminho na escuridão da noite. Tudo parece igual e as grandes árvores não ajudam a identificar a trilha correta. Escolho a da direita e continuo correndo. Se escolhi certo, devo chegar logo. Tem que ser o caminho certo.

Sinto meus pés escorregando na lama. Minhas pernas cansadas cedem e logo estou caída no chão. Sinto algo quente escorrer por meu rosto. Uso as mãos para limpar e percebo que estou chorando. Concentre-se. Não é hora para pensar  no passado. Pare de pensar e concentre-se em correr. Finalmente consigo visualizar o fim da floresta e o penhasco a frente. O fim da linha. Se meu coração não estivesse batendo tão forte conseguiria ouvir o som da água correndo vários metros abaixo. Finalmente alcanço a borda e arrisco-me a olhar para trás. Vejo próximo das árvores o vulto de alguém que se aproxima, mas já é tarde de mais. Deixo meu corpo ceder ao cansaço enquanto pende para trás. Tudo parece acontecer em câmera lenta até que meu corpo bate dolorosamente na água gelada e afundo sendo puxada pela correnteza. 

Finalmente estou livre.

A maldição Dos Cabelos Prateados - O Segredo De Angelle RoyOnde histórias criam vida. Descubra agora