Um - Angelle

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- Onde é que está? - Me pergunto enquanto esvazio minha mochila a procura das chaves de casa.

Como sempre, encontro no fundo da mochila. Repito para mim irritada que devo guarda-las em um lugar mais fácil das próximas vezes enquanto recolho as coisas que espalhei no chão e agradeço por não ter vizinhos, afinal, seria difícil explicar por que estou neste estado sem criar pânico ou envolver a polícia. Giro as chaves na fechadura, abro a porta e entro tirando os sapatos. Minhas meias estão molhadas e com um forte odor de esgoto, bem como o resto de minhas roupas e cabelo. Caminho rapidamente para o banheiro tentando fazer o mínimo possível de sujeira e com todo cuidado para não escorregar. Olho para o espelho e percebo que minha situação é mais deplorável do que imaginava. Meus cabelos castanhos estão sujos com algo que parece lama, assim como meu rosto e roupas. Tem um pouco de sangue seco em minhas bochechas e um pequeno corte em minha testa. Malditos vampiros. 

Tomo um dos banhos mais demorados de minha vida. Por que esse cheiro é tão difícil de tirar? Recolho minhas roupas sujas e coloco-as em um saco de lixo e em seguida limpo os rastros de agua suja e lama que deixei quando cheguei. Me sinto esgotada. Nunca fiquei tão feliz em saber que terei dois dias de folga antes de voltar ao trabalho. 

Me jogo no sofá ainda com roupão de banho e uma toalha enrolada no cabelo e fecho os olhos. Todo o meu corpo dói e sinto como se não dormisse há dias. Faz tempo que uma missão não me dava tanto trabalho. Ligo o som. Está tocando "Gonna Fly Now" do Bill Conti. Aos poucos o som começa a ficar distante e adormeço enquanto o refrão da música da toca.

"Gonna fly now

flying high now

gonna fly, fly, fly, fly."

***

Estou caindo. Tento me segurar em alguma coisa, mas não tem nada perto. Eu poderia facilmente cair graciosamente de pé, como um gato, mas não consigo me mover. O chão está cada vez mais próximo. Fecho os olhos e espero o impacto.

O chão é duro. Todo o meu corpo dói devido a queda. Tento me levantar. Minhas roupas pretas estão avermelhadas por conta da terra e me sinto tonta. Me levanto com dificuldade e fico um tempo parada apenas tentando me lembrar de respirar. Olho para cima me perguntando de onde cai e vejo apenas o céu nublado acima de mim. Não demora até que a primeira gota de chuva atinja meu rosto e uma forte chuva caia sobre mim. É melhor procurar abrigo. Onde é que estou?

Caminho por um tempo, e paro novamente. Está ficando escuro e é difícil enxergar por causa da chuva. Sinto um arrepio e luzes vermelhas começam a se acender na escuridão a minha frente. São muitas. Minha espada. Onde está minha espada? As luzes começam a se mover e dou um sorriso amargo ao perceber que não tenho como me defender. Então este será meu fim? As luzes se aproximam e consigo distinguir vultos. Como esperado, os pontinhos vermelhos não são luzes, são olhos...

***

Acordo com um salto. Meu pescoço está molhado de suor e meu telefone toca em algum lugar. Atendo contra minha vontade já sabendo que coisa boa não deve ser.

- Por favor fique calma... - Diz a voz do outro lado da linha. - Sei que fizemos um acordo e você sabe que não costumo voltar atrás com minha palavra... E eu não ligaria se não fosse importante... Então... 

- Estou a caminho. - Digo de forma rispida desligando o telefone. Eu sabia que a ideia de ter uma folga era boa de mais para ser verdade. 

Malditos vampiros.

A maldição Dos Cabelos Prateados - O Segredo De Angelle RoyOnde histórias criam vida. Descubra agora