Capítulo 14: 3º dia - "Lírios d'agua"

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Frederico

Nico Palias era um desgraçado! Foi a única coisa que passou pela minha mente quando vi seu olhar imerso em provocação. Ele agia como se eu constantemente estivesse intimidando-o, o que era uma pura mentira. No máximo, provocava para ver que tipo de reação esse policial grosseiro poderia ter. O problema estava em como ele respondia. Se ele fosse cada vez mais grosso ou mais estupido, acabaria me afastando e o ignorando, só que Nico parecia envolvido demais nesse lance de provocação.

Não entendia exatamente o motivo dele querer ser sempre superior como se precisasse disso para se afirmar como pessoa. E isso não era da minha conta. Os problemas dele não me diziam respeito.

Mas eu era curioso. Curioso demais para ficar quieto, esperando esquecer as insanidades dele, afinal estava em uma ilha sem sinal de celular, sem internet e sem distrações. Tudo que restava eram os seminários estranhos, buscar pistas em tempos livres, casais anormais e Nico.

Oficialmente: não tinha outras opções.

Meu objetivo na nova aula era permanecer em silencio até encontrar um momento oportuno para compartilhar qualquer absurdo a fim de deixa-los mais confortáveis comigo. Como um futuro jornalista sério, precisava me ater aos fatos e não simplesmente contar mentiras sem qualquer fundamento. Escutei as reclamações de alguns casais, surpreso pela maioria ser tão... boba.

Eles poderiam conversar em casa sem precisar pagar tanto para um retiro de casal. Eles eram tão ricos e ociosos ou existia mais alguma coisa? Talvez eu precisasse me aproximar de cada um deles para investigar. Sim, isso seria minha próxima tarefa!

E, é claro que meu entusiasmo pareceu atrair má sorte, pois não demorou para a Heloísa atacar Nico e, em seguida, voltar sua atenção para mim. Eu não estava preparado! Apesar de ter imaginado uma resposta falsa com detalhes verdadeiros quando comecei a abrir a boca, vomitei toda a verdade descontroladamente.

Acho que, no fundo, queria confessar o quanto doía o fato dos meus pais não me aceitarem. Confessar que para eles, eu era um fracasso por ter assumido uma sexualidade que eles julgavam errada para os padrões deles.

Confessar que eu me sentia culpado por não ser o que eles esperavam.

Mas todos os meus pensamentos cuidadosos foram destruídos pela forma nada sutil de Nico. Ele poderia simplesmente ter ido embora, mas insistiu de me chamar de querido para me provocar e vencer alguma disputa, da qual nunca tinha participado!

Começava a imaginar a possibilidade dele ser paranoico. Como um daqueles loucos obcecados em ser perseguido e vigiado. Perfil ele tinha.

Minha irmã realmente me enviou um grande problema. Suspirei, ignorando o olhar vitorioso dele ao me ver em silencio. Heloísa, por outro lado, sorria satisfeita pela nossa interação nada saudável. Era possível que ela quisesse ver os casais separados para lucrar ainda mais?

Capitalista imoral!

Continuei em silencio o restante do tempo, prestando atenção nos discursos dos outros casais até que Nico se levantou, atraindo a atenção de todos. Novamente, ele saiu antes de tudo acabar e escapou. Nico Palias era um policial grosso sem qualquer pingo de educação.

— Hoje a noite é muito especial. Haverá uma festa para vocês interagirem e se sentirem mais confortáveis. — Heloísa disse quando todos se levantaram. Uma festa seria perfeita para me esgueirar pelo lugar alegando estar bêbado. Sorri satisfeito ao escapar, buscando pelo meu, suposto, namorado, o qual havia desaparecido. Desgraçado!

Nico tinha declaro com tanta convicção que deveria ficar ao lado dele, mas ele era o único que fugia constantemente. Que tipo de proteção era essa afinal?

Bufei, incrédulo pelo comportamento louco dele.

— Frederico, certo? — Uma mulher gritou, me forçando a parar. Olhei para trás e sorri ao ver a mulher de cabelos pretos e roupa extravagante. — Sou Solange Alcantara. — Disse estendendo sua mão em minha direção. Apertei, sorrindo suavemente, esperando o motivo dela se apresentar com tanta simpatia. Poderia ser tudo, menos idiota. Nenhum dos casais parecia simpáticos uns com os outros. — Seu relato foi um tanto comovente. Sabe, sou produtora em uma emissora e estava pensando em um novo tipo de programa. Um que vai falar sobre como é ser gay no novo século. Gostaria de participar? Ah! Esqueci de falar: será um tipo de reality show com poucos episódios.

Isso era sério? As pessoas estavam sendo tão relapsas em buscar atrações para os programas?

— Obrigado, mas não acho que seja meu estilo. — Me neguei rapidamente. Meu sonho era ser jornalista e não participante de reality.

— Tem certeza? Acho que você e seu parceiro seriam uma excelente atração. Pense nisso. — Ela piscou tentando ser sensual, eu acho, antes de se afastar e retornar para o lado do homem que, supostamente, era seu marido.

Por algum motivo, começava a não acreditar em nada do que eles diziam. 

CONTINUA...

Gostaram da capinha nova? To muito orgulhosa!! Foi feita pela CriarArt (se puderem seguim no instagram criararttt)

Mil bjss

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