Frederico
Nunca fui uma pessoa particularmente medrosa em minha vida. Não tinha medo de escuro, altura, insetos ou algo assim, mas quando me esgueirei pelo lugar com Nico comecei a temer pela minha vida. Nunca tinha pensado seriamente sobre a morte ou as consequências de ser pego pelos bandidos – traficantes, na verdade – se algo desse errado. Ir para a ilha foi minha escolha, mas não a de Nico.
Meus olhos pousaram nele, um tanto confuso, sobre o arrependimento em ter forçado ele a vir para tal lugar. Se não fosse pela proteção excessiva da minha irmã, Nico não estaria comigo. Suspirei ao falar com ele em voz baixa.
— Isso tudo... não era bem como esperava que fosse. Talvez seja melhor você ir. Inventa uma desculpa pra Heloísa e eu vejo outra forma de ficar.
Abaixei os olhos, desconfortável com sua forma nada suave de me encarar. Nico tinha erguido uma sobrancelha, curvado os lábios em algum tipo de sorriso desdenhoso e não havia qualquer emoção em seus olhos. O silencio tornou a situação ainda mais incomoda.
— Sou tão incapaz aos seus olhos? — Sua pergunta me pegou de surpresa. Nunca tinha pensado nisso, estava apenas preocupado pelo perigo da situação.
— Não é sobre ser incapaz, mas sobre o quão perigoso isso tudo é. — Expliquei depois de ficar surpreso pelo seu questionamento. Poderia ter imaginado muita coisa, mas nada sobre ele acreditar que o via como incapaz ou algo assim. Além de tudo, confiava em minha irmã. Sabia que ela jamais enviaria alguém que não pudesse me proteger, então isso demonstrava o quão qualificado e bom no trabalho, Nico conseguia ser. — Nunca pensei em você como alguém incapaz, Nico.
Falei com seriedade, encarando-o com firmeza. A ultima coisa que pretendia era fazê-lo acreditar em uma mentira. Naquela ilha infernal éramos o apoio um do outro e não deveríamos brigar por algo tão ridículo.
— Honestamente, entre nós dois, você é o único que realmente pode fazer algo aqui, seja encontrar pistas ou prender os suspeitos. Tudo o que posso fazer é escrever uma historia, sem nem saber se será publica no final. Estou apostando tudo o que tenho nessa matéria e, ironicamente, posso nem conseguir algo. É ridículo, certo? Na verdade, meu pai chamaria meu comportamento como destrutivo.
Nico ficou em silencio, me olhando fixamente, tornando impossível desviar os olhos dele ou falar algo. Nico Palias tinha esse estranho poder de parecer controlar as pessoas com seu olhar. Isso era uma habilidade adquirida na policia ou genética?
— Ele não está errado, mas também não está certo. — Nico comentou, finalmente, tirando os olhos de mim e me permitindo respirar um pouco aliviado. Realmente não estava acostumado com algo tão intenso. — O seu pai.
Revirei os olhos, quase, perdendo a paciência. Não era tolo ao ponto de não perceber quem era a pessoa de quem falava.
— Seu comportamento é realmente destrutivo. Nunca se deve apostar tudo em uma única opção. Mas, também, você não deve ficar parado, esperando por algum milagre.
E, finalmente, o boca suja sorriu antes de fazer sinal para que eu ficasse em silencio. Abaixamos a cabeça e encaramos o lugar, onde tinha visto as pessoas entrarem da outra vez. Ficamos agachados, escondidos entre arvores e arbustos em uma posição constrangedora. Nico ficou ao meu lado como se toda aquela situação fosse corriqueira, enquanto eu tentei não coçar minhas pernas ou gritar diante de cada som estranho ao redor. A respiração de Nico parecia cada vez mais próxima dando uma estranha sensação como se fossemos íntimos demais.
Quando tudo isso acabasse iria procurar alguém para sair. Sim, estava apenas solitário e carente.
— Tem alguém saindo do lugar. — Ele murmurou em meu ouvido quando se aproximou de mim. O cheiro de seu perfume entrou pelas minhas narinas, desconcentrando minha atenção por alguns segundos. Olhei para seu rosto, impressionado pela perfeição de sua pele. Não havia manchas ou qualquer marca. Os loucos eram realmente favorecidos. Franzi a testa, lembrando do inicio da adolescência quando tinha mais espinha que cabelo na cabeça.
— Ei, qual a porra do seu problema? — Ele voltou a murmurar em meu ouvido. Sua respiração roçando em meu pescoço, me arrepiou.
— Nada. Eles estão indo para o outro lado. — Murmurei, pigarreando levemente tentando espantar tais pensamentos assustadores. Vi a atenção dele se voltar para os dois homens que se afastavam rapidamente como se estivessem com pressa. — Devemos aproveitar para entrar?
Ele demorou dois segundos para concordar. Levantamos com rapidez e seguimos em direção a porta escondida entre algumas arvores e arbustos, o que realmente não foi o melhor esconderijo deles. Ao nos aproximarmos da porta, Nico tirou o seu estojo de arrombamento, tocou na maçaneta e se ajoelhou em frente a porta. Em pouco tempo, a porta estava aberta, e eu mais uma vez impressionado.
— A policia realmente ensina isso? A arrombar casas. — Perguntei curioso, afinal nunca soube que minha irmã possuía tal habilidade.
A expressão no rosto de Nico era como se eu fosse um lunático perguntando em que ano estávamos. Qualquer policial podia fazer algo tão ilegal assim?
— Só estou curioso. — Murmurei baixinho.
— Nem todos sabem isso, mas alguns aprendem isso. — Confessou. — Mas nunca deve ser feito com o intuito de buscar novas provas, porque são inadmissíveis no tribunal.
Assenti, impressionado não pela sua explicação, mas pela ausência de xingamento e palavras bastante formais usadas. Foi a primeira vez, que eu me lembrava, de Nico ser tão normal em minha frente. Talvez vendo meu silencio, Nico deu de ombros e entrou no local.
Se eu esperava alguma coisa, tudo que encontrei acabou sendo muito maior. Não havia ninguém no lugar, mas em cima das quatro mesas presentes era possível encontrar comprimidos e pó. Obviamente tudo eram drogas. Olhei para alguns sacos pequenos com o símbolo de fogueira, recordando o que Nico tinha falado sobre uma nova droga estar sendo distribuída nos últimos dois anos.
— Eles que fabricam? — Acabei perguntando com a voz baixa, não esquecendo de tirar o celular do bolso e tirar fotos de tudo. Registro era muito importante para uma matéria que colocaria meu nome no mundo jornalístico. Sem querer, fotografei Nico parado, encarando uma das mesas. A pose, seus olhos e sua expressão ficaram perfeitas. Se eu pudesse publicar com certeza iria coloca-lo como a capa da minha matéria.
— É melhor sairmos. — Nico falou de repente, despertando-me e eu concordei. Era perigoso demais ficar parado em tal lugar, esperando os bandidos voltarem. Ele se esgueirou com cuidado, abriu a porta o suficiente para verificar se mais alguém estava próximo e logo saímos, retornando ao nosso esconderijo anterior. — Eles devem ter câmeras.
Sua sentença curta foi o suficiente para que eu tremesse assim que me agachei no mato. Isso significava que iria morrer?
Eu não queria morrer sem ter realmente me apaixonado, feito minha família enxergar o meu valor e sem ter ganhado um premio importante.
— E tudo foi muito fácil.
— Isso é um problema? — Não conseguia entender a mente dos policiais. Encontrar provas era problema agora?
— Pessoas assim não cometem erros e sempre deixam outros para trás. Para cuidar de tudo.
— Então tudo isso...
— Pode ter sido uma armadilha pra gente. — Ele falou, mas o sorriso em seu rosto me deu calafrios. Nico sorria como um maníaco sedento por sangue. E parecia entusiasmado demais para alguém encurralado por uma possível traficante procurada.
CONTINUA..
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Quando você sorriu
Romance***AVISOS: Contém linguagem inadequada para menores de 18 anos, amor entre dois homens, drogas ilegais e homofobia. *** Essa história é o primeiro livro da série amores gregos (para maiores informações sobre os tipos de amores gregos, me segue no in...