Frederico
Ficar agachado no meio do mato, quase ser morto e ficar constantemente em perigo não era o meu plano ao decidir ir até a ilha, mas tudo isso tinha acontecido e nada poderia ser feito. E nem em meus maiores sonhos ou pesadelos, imaginei que poderia ficar na frente de Nico Palias, tentando salvar sua vida. Muitas coisas inesperadas começaram a acontecer, uma atrás da outra e, curiosamente, não me vi sendo contrario as mudanças cada vez mais peculiares.
Mas, na verdade, o que realmente me assustou foi o fato de estar disposto a salvá-lo, não apenas pelos motivos certos, mas também pelo medo em perde-lo. Mas isso nem sequer fazia sentido. Tudo que eu tinha com ele foi uma noite imerso em droga, brigas ocasionais e posturas nada convencionais devido aos pedidos de Heloísa. Não tínhamos nada e definitivamente continuaria assim quando saíssemos da ilha, mas, por qual motivo insistia como um lunático?
Sabia que deveria ser algum tipo de síndrome como de Estocolmo. Somente isso poderia me salvar de alguma apaixonite aguda crônica destinada a infelicidade. Quanto mais corríamos para longe do perigo, maior era minha determinação em manter distancia dele, só que tudo ficou pior quando sua mão tocou em minha cabeça e o escutei tentando me animar.
Estava destinado a me foder?
O tempo se arrastava, o cansaço aumentava e minha convicção enfraquecia. Se eu morresse naquele lugar, Nico nunca desconfiaria sobre minha facilidade em me atrair pelas pessoas e isso me pouparia o constrangimento, o que não seria ruim. Acabei rindo levemente antes de tocar na mão dele repousada no chão. Não movi nenhum dedo com receio dele se afastar e indo contra meus pensamentos, Nico segurou minha mão, transmitindo seu calor e, talvez, tentando me acalmar.
— Vai ficar tudo bem. — A voz dele baixa soou meio provocativa ou eu estava com tanto medo que comecei a ficar louco. Suspirei como se concordasse com seu comentário.
— De qualquer forma, obrigado por tudo.
— Tá falando como se a gente fosse morrer.
Da forma como tudo estava acontecendo, a probabilidade era muito alta, mas Nico poderia ser do tipo negacionista. O tipo que negava até que o sol brilhava no espaço.
— Sim, erro meu. — Resolvi concordar, já que poderia ser seu ultimo pedido. Isso era algo trágico a se pensar. — Mas se esses minutos forem os nossos últimos, eu quero fazer algo. — Nico virou o rosto, me encarando inexpressivo. Soltei sua mão, lambi os lábios e antes que ele corresse, segurei em seu pescoço e colei nossos lábios. Um ultimo beijo antes da morte soava muito dramático, porém quis descobrir como seria beijar Nico depois de tudo. Depois das drogas, do sexo e próximo da morte.
E foi melhor do que imaginei.
Não sabia o motivo para Nico me beijar de volta e, muito menos, o porquê enfiou a língua na minha boca, misturando nossas salivas.
Sua mão deslizou pela minha perna e seguiu até minha cintura, onde pressionou. O modo como me apertou fez com que as lembranças do nosso momento intimo retornasse de uma forma alucinante. Lembrei dos meus gemidos, das mordidas dele em meu corpo, sua respiração em meu pescoço, seus dedos contra a minha pele e o modo como seu corpo se movimentava. Cada detalhe parecia uma maldição cravada na alma.
E como toda maldição era necessário algum feitiço para quebra-la; e nesse caso seria beijá-lo pela ultima vez.
— Alguém está se aproximando. — Nico falou assim que o beijo acabou. Continuamos próximos, senti cada respiração sua e sorri, resignado pelo meu destino. A morte em si não me preocupava, mas estava triste por nunca ter realizado meu sonho de ser um jornalista que fizesse a diferença.
— Está tudo bem. — Segurei a mão dele, apertando-a com força. Nico deve ter sentido minha mão tremendo, já que me beijou novamente.
Fechei os olhos e, curiosamente, não vi minha vida passar em frente aos meus olhos, pelo contrario, tudo que lembrei foram os últimos dias acompanhado pelo policial boca suja.
Estava preparado para morrer quando a voz impaciente da minha irmã surgiu. Abri os olhos, atordoado e a vi parada com um colete a prova de bolas, segurando uma arma enorme e acompanhada de alguns policiais atrás dela.
— O que...
Olhei para tudo aquilo em duvida e nem me importei com Nico puxando sua mão com rapidez, se levantando e olhando para mim inexpressivo. Então, tudo tinha acabado? Eu ainda iria viver?
Um misto de constrangimento e alivio tomou conta de mim. Ri sem graça ao me levantar e olhar para Francesca.
— Está tudo bem? Está ferido? — Neguei rapidamente. — Já que resgatamos a pessoa mantida em cárcere privado, qualquer prova obtida é legal.
Pisquei, um tanto confuso e olhei para Nico como se tentasse encontrar alguma resposta.
— O lugar que encontramos.—Nico falou visivelmente impaciente. Nem sequer parecia a pessoa que me beijou segundos antes. Suspirei ao informar o lugar com extremo detalhe sobre o tudo.
Minha irmã sorriu ao mandar os outros policiais para o lugar e ficou ao lado de Nico, escutando o breve relatório dele sobre os últimos dias. E nada do que era dito continha qualquer informação sobre mim ou das aulas loucas de Heloísa.
O ultimo beijo antes da morte parecia cada vez mais ridículo.
CONTINUA...
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Quando você sorriu
Romance***AVISOS: Contém linguagem inadequada para menores de 18 anos, amor entre dois homens, drogas ilegais e homofobia. *** Essa história é o primeiro livro da série amores gregos (para maiores informações sobre os tipos de amores gregos, me segue no in...