Capítulo 48: "Com amor, Simon"

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Frederico

Olhei para Nico, tentando sorrir, apesar de sentir um desconforto cada vez maior no meu coração. A culpa definitivamente não era dele, mas da minha família. Os meus pais não pareciam querer aceitar o fato de eu ser gay, algo que já sabiam há anos e, ainda assim, insistiam para que eu mudasse, entrasse nos padrões estabelecidos por eles como ideais.

— Está tudo bem? — O policial boca suja com quem estava saindo questionou, no momento em que me sentei em sua frente no restaurante. Um lugar inaugurado recentemente com a temática alternativa, voltado pro indie. E não fazia ideia do que era isso. E honestamente tinha me apaixonado pela decoração em tons suaves e um ambiente aconchegante. Nico tinha me convidado pra sair sem muitas palavras, me deixando um tanto confuso.

— Sim.

Sorri largamente ao ver o vinho sendo servido pelo garçom de sorriso simpático. Nico manteve seus olhos em mim, deixando o clima um pouco intenso e ambíguo. Hesitação não era realmente parte da minha personalidade e, por isso, o encarei após pigarrear.

— Não esperava que fosse do tipo que convidava para restaurantes um tanto românticos. — Acabei rindo sem graça. Poderia ter pensado em outro comentário. Algo divertido para tornar o ambiente mais descontraído, só não sabia exatamente o que deveria dizer. O modo como Nico continuava me olhando, me deixava desconfortável. Essa era sua forma em se desculpar e "terminar" o que nem tínhamos começado direito?

— Na verdade foi meu irmão. Ele costuma frequentar lugares assim. — Revelou, desviando o olhar e vi sua orelha, levemente, vermelha. Ele estava envergonhado?

— É um lugar bonito. Seu irmão parece ter bom gosto.

— Não em tudo. — Ele riu de uma forma meio debochada antes de beber um gole do vinho. — O pessoal da delegacia já sabe sobre nós.

Arregalei os olhos, um tanto assustado.

— Você... está bem? — Não soube como consolá-lo. Sair do armário para mim era como perder tudo. Tinha perdido o amor dos meus pais no instante que a palavra 'gay' foi mencionada. Ninguém se tornava policial por ódio, então ele deveria realmente gostar. Suspirei, resignado pela rápida separação. — Como eles reagiram?

— Com piadas escrotas. — Ele disse sem parecer abalado. Comecei a ficar em duvida sobre a situação. — Aqueles desgraçados esqueceram o quanto curto esmurrar suas caras. Deixei um com a cara toda fodida e não demorou em pararem de encher meu saco com isso.

Pisquei, assimilando as informações. Era normal um policial bater no outro assim? Estava tudo bem?

— Seu capitão não disse nada? Você levou alguma suspensão?

— Não. Ele tá pouco se fodendo pra mim. Na verdade, o capitão tá feliz como pinto no lixo porque vou pra homicídios. — Ele deu de ombros como se tudo fosse bobagem. — E eu disse que não ia esconder... sobre a gente. — Ele pigarreou depois de tomar mais um gole de vinho. Perguntei se estava tudo bem para ele e Nico assentiu com o semblante despreocupado.

— Foi difícil? Quando eles descobriram. — Disse me sentindo ridículo, pois fui a única pessoa negando em manter o relacionamento discreto. — Se estiver sendo difícil...

— Sei lidar com uns escrotos. — Nico me interrompeu, mantendo sua voz calma. Erguendo a sobrancelha e sorriu de lado. — Deve tá achando que te chamei pra lamentar. Gato de rua, não sou tão fodido assim. Não gosto de ficar lamentando minhas escolhas, mas, sim, aproveitar o melhor delas. — Pisquei, engolindo em seco, sem saber se tinha sido o vinho ou seu olhar sensual que me deixou inquieto, com o rosto quente e sem palavras. Nico estendeu a mão em cima da mesa, com a palma virada para cima e sorriu como se estivesse me instigando a pular na fogueira. E exatamente como uma mariposa ansiosa pela morte, coloquei minha mão em cima da sua. Seus dedos se entrelaçaram aos meus e tive certeza que escutei alguns murmúrios sobre nós. Poderia ser minha imaginação também.

— Deveria parar de me chamar de gato de rua. — Reclamei até escutar sua explicação, ficando atordoado. Nunca tinha pensando que o policial boca suja pudesse ter um lado tão interessante.

— Porra, gato de rua não é algo ruim. Você já viu algum gato de rua odiado? Quando molhados ficam lamentáveis, mas mesmo que esteja passando fome, continua sendo forte tentando sobreviver.

— Deveria aceitar como um elogio? — Ri diante de seu olhar, um tanto, constrangido. Foi a primeira vez vendo um olhar tão cativante na face do policial boca suja.

— É claro! — Ele também sorriu. Nossos dedos ainda permaneciam entrelaçados em cima da mesa como um casal amoroso tendo um encontro. Continuamos conversando até a comida ser servida, bebemos vinhos e rimos até sairmos do restaurante, duas horas depois. — Tem algo pra amanhã? — Neguei e ele sorriu maliciosamente ao segurar na minha mão. Seguimos para o seu carro, um modelo utilitário simples. Ficamos em silencio durante o breve percurso, apenas o som melodioso da musica preencheu o interior do veiculo.

Estar com Nico era mais aconchegante do que poderia ter imaginado. Nossas conversas coincidiam, apesar de sua boca suja, seu senso de humor era muito interessante, além do seu corpo ser o meu tipo. Deveria agradecer a minha irmã por ter me enviado com ele para aquela ilha.

Assim que estacionou, percebi estarmos indo para sua casa. Sorri ao olhar de soslaio para o policial sentado ao meu lado. Não hesitei ao estender minhas mãos, segurar seu rosto e beijar seus lábios levemente. E rapidamente, Nico segurou atrás da minha cabeça, aprofundando o simples beijo. Nossas línguas entrelaçadas, o som da musica e o som dos nossos beijos trocados aumentou meus batimentos cardíacos e a vontade de tocá-lo. Abaixei uma das minhas mãos, tocando em seu peito, descendo pela sua barriga indo em direção ao seu membro, apertando por cima da calça. O gemido que escapou de seus lábios entre nosso beijo fez com que eu risse de satisfação.

— Aqui ou no seu apartamento? — Perguntei rindo cada vez mais ao ver sua respiração ofegante. Podia sentir o seu membro cada vez mais duro em minha mão.

— Porra, se me provocar, vou te foder aqui mesmo.

Ele afirmou com confiança e acreditei em suas palavras. Nico parecia impulsivo o suficiente para fazer algo assim. Sua língua lambeu meu lábio criando um tipo de eletricidade que percorreu meu corpo, segurei em sua camisa, tentando retomar a razão, sem muito sucesso. Fiquei preso no olhar tentador dele. Nico Palias me encarava como se estivesse faminto e eu fosse sua única refeição após um mês com fome.

Em algum momento, senti ele apalpando minha bunda. Soube se continuássemos no carro poderíamos acabar sendo presos por atentado ao pudor. O convenci de alguma forma a subir para o seu apartamento, mas o caminhada até o destino demorou um pouco. Nos agarramos no carro mais um pouco e depois, novamente, nas escadas. De acordo com Nico, ir pelas escadas iria prolongar o nosso tempo juntos e estimularia alguma coisa, da qual não fazia ideia. Pode ter sido os inúmeros beijos que me fizeram selecionar, vagamente, quais palavras escutar e quais ignorar.

Chegamos em sua casa com as roupas amassadas, respirações ofegantes e excitados demais para sermos vistos por outras pessoas. Nico abriu a porta, me pressionando nela assim que fechou. O barulho da chave sendo arremessada ao chão soou, enquanto suas mãos subiam e desciam pelo meu corpo.

Ergui sua camisa, enfiando minha mão em sua barriga, tocando descaradamente em seu tanquinho, subindo lentamente. Enquanto acariciava seu corpo, impressionado pela dureza de seus músculos, Nico apertava minha bunda, revezando entre beijos profundos e mordidas em meu pescoço.

CONTINUA...

Quando você sorriuOnde histórias criam vida. Descubra agora