Babies - Nessian

3- Velhas bolas de neve

Cassian adentrou na pequena cafeteria. Uma senhora de meia-idade estava encostada no balcão com uma xícara nas mãos bebericando do que ele imaginava ser café expresso. 

Quando ela os avistou abriu um sorriso complacente no rosto passando os olhos dele para o bebê em seus braços. Como ele já esperava, a voz da mulher afinou em um tom doce e caricato.

- O que eu posso fazer por essa coisinha linda em seus braços? 

O lugar estava praticamente vazio, exceto pelo casal que estavam sentados meio escondidos nas últimas mesas. Cassian se agarrou um pouco mais em Anya conforme se aproximava da senhora. A bundinha da filha sentava em seu braço, sua mão firmava as costas dela para que não caísse para trás, os olhinhos da bebê devoravam o local por tamanha curiosidade. 

- Um café gelado com leite e bastante chantilly por cima, por favor. 

Disse oferecendo um sorriso fino. Cassian não entendia como a esposa poderia gostar da bebida, ainda mais em um dia frio como o que estava lá fora. Para ele o café devia ser bebido puro e se possível quente, do tipo que queima a língua quando se bebe. Mas depois que Anya nascera, Nestha ficou com um apetite estranho por comidas que ela nunca havia gostado.

Não era de se estranhar já que durante a gravidez, sua mulher comia desde azeitona com sorvete de abacaxi a sanduíche de pepino com limão e rúcula. Ele tremia só de imaginar o gosto, café gelado não era nada comparado com aquilo. 

- É claro que preparo, mas antes me deixe apertar essas bochechinhas fofinhas...

Ultimamente o que ele mais temia eram os hábitos peculiares de Nestha voltarem e de que tocassem em sua filha - sem sua permissão - como estava acontecendo agora. A velha aproximou suas mãos enrugadas e cheias de bactérias da pele imaculada de Anya e quase a tocou antes de Cassian - como um super pai - afastar-se do balcão e dos dedos, que apenas a Mãe sabia onde estavam e tocaram. 

Ele vira num site que o número de idosos que se masturbavam havia aumentado e desde então a informação não saía de jeito nenhum de sua cabeça.

- Não! - A mulher arregalou os olhos. O casal dos fundos viraram os rostos em sua direção com as sobrancelhas franzidas - Quer dizer... - Ele limpou a garganta - O café vai demorar? 

Ela se afastou fechando a cara e abaixando aquelas mãos bobas. Se virando por fim para preparar a bebida.

Que velha atrevida.

Ele e Nestha não eram pais superprotetores, talvez apenas um pouco. Mas acima de tudo queriam o bem estar da filha e apenas a família tinha o direito de tanta intimidade assim. Sua pequena e linda Moranguinho ainda não entendia em como o mundo poderia ser cruel, que enquanto estivesse debaixo de suas asas estaria segura e Cassian temia o dia que Anya voaria com as próprias. Mas ela estava crescendo rápido e amadurecendo como qualquer bebê na idade dela. Um piscar de olhos e já estava com oito meses, engatinhando pela casa e aprendendo como se come com uma colher.

Cassian agradecia todos os dias por poder presenciar esses momentos. Pela filha ter o que ele nunca teve: carinho, amor, um lar e principalmente uma mãe. 

Ele admirava o modo como Nestha a olhava e tratava. Por Anya, Cassian sabia que a esposa faria de tudo. Até mesmo ele admitia que mãe e filha tinham uma ligação inominável, capaz de estremecer as próprias estrelas. A própria Nestha alegara uma vez que era como morrer um pouco a cada dia e ainda assim se sentir viva, um amor que doía e que mexia com a alma e mente e coração. Tão intenso quanto o vento sobre as montanhas e tão profundo quanto o mar.  

Suas meninas sorriam com muita frequência, gargalhavam principalmente e ele não poderia ser mais feliz por isso.

Por fim, Cassian saiu da cafeteria com sua filha nos braços e um café gelado em mãos. Ele fingira não reparar na falta de educação da senhora depois da fatídica tentativa de pegar no que não é seu.