ɑ fugɑ.

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                   É noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher vago e belo e voluptuoso, num bailado erótico, com o cenário dos astros, mudos e quedos. Os fios dela que quase não apareceriam diante do anoitecer, mesmo com as luzes do teto refletindo no louro, estavam jogados para a esquerda e como uma cascata caiam por teu ombro do mesmo flanco, deixando assim o lado contrário livre para o dourado das borboletas. A tanto já havia se acostumado que permitia-se dividir o próprio corpo com elas. Entretanto sentira algo estranho, como se algo lhe estivesse esvaindo tão lentamente quanto o cair da areia de uma enorme ampulheta.
Virou-se hesitante, com aquele arrepio na nuca que fizera as outras borboletas voarem e assim ficarem planando ao teu redor. As outras, não todas. Pois quando agachara-se lentamente pôde ver ao piso, jogada um pouco para longe pela pouca brisa que as janelas deixavam entrar, uma delas. Apenas o teu corpo de asas agora não tão brilhantes como antes eram, estava sem vida.

                   ──── Mas que... ── não terminara a própria frase, estava em completo estado de choque. Nunca antes tivera visto uma delas morta, até aquele instante pensara que todas eram imortais. - Seu olhar se ergueu desconfiado, buscando uma explicação em qualquer lugar que fosse. E encontrou, mesmo que não fosse a verdadeira. Um homem esbelto parado, o mais perto que havia de ti, a olhando com um sorriso no rosto, certamente resultado da piada que a mulher do teu lado havia acabado de lhe contar ( mas que Chrysalis não ouvira ). Não costumava pensar muito sobre possibilidades ou buscava pela resposta mais lógica de todas, por isso apenas agiu como achou ser correto! Ergueu-se e rapidamente foi até ele, deferindo em teu rosto um forte tapa, apenas para ela pois certamente mal o causara dor, junto com uma expressão irritada. ──── Você matou minha borboleta! ── não era exatamente tua, elas simplesmente sempre estiveram ali. A Reverie possuia este pensamento de que elas se mantinham ali pois atraiam-se por coisas bonitas assim como moscas atraem-se pelo fedor de algo. Que aquilo a tornava especial e ela de tal sentimento. - A feição do homem se mostrava mais raivosa que a dela e ao falar, isso se tornara mais evidente: "Eu não matei este inseto!"

                   Ele deu um passo ameaçador, e Chrysalis podia ser burra mas não era idiota. Sabia quando tinha ferrado tudo. E ela podia até se importar com as borboletas, mas importava-se mais consigo mesma. Era uma sobrevivente. Por este motivo deu as costas para o rapaz que acusara com rapidez, dando início àqueles passos não muito velozes devido ao par de saltos. Com uma mão apertando a própria bolsa contra o abdômen e a outra segurando a saia do vestido para que não viesse a cair, fingia não ouvir os chamados do homem atrás de ti. Clamando por ela e alertando que chamaria a segurança por sua agressão impulsiva. E foi do lado de fora do lugar que ocorria o evento, que ela o viu encostado contra o próprio conversível. Sabia de quem se tratava, acompanhava e invejava a família real já se fazia muito tempo.
                    Pietro. Ele que odeia o convento. Odeia as freiras que o olham como se fosse uma abominação. Odeia o clima de Avellion, e a forma com que os jardins o fazem ter crises de espirro. Odeia não estar com a bengala, e ter que ser coroado por uma instituição de pouca merda. Mas se esqueceu de como deve odiar as coisas. Se esqueceu do ardor incandescente brotando no peito, da falta de ar, e de como o lado racional se dissipa, porque tudo é tão tedioso, não é? Então arrastara os pés para fora do salão, abrindo as portas de vidro da sacada, descendo as escadas, e assim acabando naquela situação.

                   infeliz, diria o destino.

                   ──── Me tire daqui, eu imploro. ── costumava ser orgulhosa, odiava pedir ajuda, mas teu senso de auto-preservação era maior que qualquer soberba. Com a respiração ofegante pela falta evidente de exercícios físicos constantes, ela o olhava diretamente nos olhos. Algumas borboletas pousavam em teus cabelos, mais bagunçados do que estavam antes, e outros já estavam na derme do recém coroado fazia um curto tempo, teriam anunciado à chegada da jovem como serviçais de reis.

𝐄𝐅𝐄𝐈𝐓𝐎 𝐁𝐎𝐑𝐁𝐎𝐋𝐄𝐓𝐀; prꪱncᥱrosᥱ.Onde histórias criam vida. Descubra agora