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POV Sheilla

Sheilla sabia que era patético ficar recarregando sua caixa de entrada a cada minuto. Ela estava meio insegura por ter respondido o e-mail de Gabriela tão rápido, ela não queria dar a impressão que não tinha mais nada para fazer, mas a ideia de que a artista poderia responder logo a incentivou. Conformo o tempo passava, Sheilla começou a se sentir desconfortável com a sua própria impaciência.

Ela colocou no notebook em cima da mesa e tentou se concentrar no livro que estava lendo anteriormente, mas depois de um tempo as palavras pararam de fazer sentido e seus pensamentos voltaram para o assunto em questão.

Ela prometeu a si mesma que pararia de responder a artista, ainda que ela achasse que não conseguiria não responder. Com cada e-mail enviado e recebido, a possibilidade de ser ela mesmo parecia aumentar. E o que antes parecia natural não responder, agora era impossível.

- Talvez ela para de me escrever - Sheilla considerou, apesar de isso a assustar mais do que ela desejava.

Anonimato era uma luxuria da qual ela já havia desistido a muito tempo, e agora que ela tinha provado o gosto disso, não importasse o quão errado isso era, ela não conseguiria mais abrir mão. E esse era o motivo pelo qual ela não conseguiria parar de responder a artista. Ela estava curiosa sobre Gabriela Guimarães. Uma parte dela, ainda que pequena e irracional, queria ser sua amiga.

Sheilla suspirou e colocou o livro no criado-mudo. Depois de uns minutos encarando a parede, tentando pensar em qualquer coisa que não fosse o e-mail, ela finalmente desistiu e pegou o notebook. A caixa de entrada demorou alguns minutos para carregar, mas quando carregou, Sheilla se surpreendeu com um e-mail que estava a sua espera.

Querida Shei,

Permita-me admitir o meu alívio pela explicação de sua ‘dupla existência’, eu e minha amiga fomos criativas quando a esse assunto. E eu não acho que você queira saber o que a gente pensou.

Enfim, eu não sei dizer se ficar olhando para o meu desenho por muito tempo é estranho ou não. Eu sou conhecida por encarar peças de arte por muito tempo (embora que nenhuma seja minha, a não ser no processo criativo). Isso sendo estranho ou não, é bom saber que você gosta. E se você quer saber, você anda fazendo milagres na minha auto-confiança.

Eu nunca pensei que abrir mão da minha arte fosse uma coisa triste, de verdade. Normalmente eu fico tão feliz quando alguém gosta o suficiente para compra-las que eu não ligo de abrir mão. Mas é quando eu começo a pensar no que vão fazer com as minhas coisas que eu realmente me preocupo.

Geralmente eu gosto de pensar que as minhas coisas estão em alguma moldura bem bonita, iluminadas de maneira correta, claro. É tudo questão de iluminação.

E eu acho que confio em você para tomar conta do meu pedaço de arte sem uma foto para comprovar isso. Você não parece o tipo de pessoa que trata mal a arte.

Então, sobre a minha vida…

Eu e meu namorado estamos andando em uma estrada emburacada há muito tempo. Eu não tenho certeza se a culpa é dele, ou minha, ou de ambos. Ele é ambicioso de uma maneira ‘Estou indo para Harvard para me tornar advogado’, e eu sou ambiciosa da maneira ‘eu estou esperando os meus sonhos se tornarem realidade’. Eu acho que a gente não encara as coisas da mesma forma. Ele valoriza a ‘carreira adequada’, com o dinheiro acima de tudo, e eu não acho isso certo.

Hoje à noite nós fomos jantar na casa dos meus pais, e ele basicamente contou para toda a minha família que nós estamos noivos (o que nós não estamos) e que ele não se importava e em ser uma artista porque quando nós nos casássemos ele já teria terminado a faculdade. Meu pais ficaram super felizes com a ideia, como se ainda estivéssemos nos anos 50.

The Blind Side Of Love - Sheibi (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora