O problema é que Valentina era diferente da maioria das pessoas. Não só pelo motivo óbvio que nenhuma pessoa é igual e que, claro, ela era uma princesa real. Valentina também era princesa de um outro Reino e isso poucas pessoas entendiam. Inclusive seus pais.
Sua família era tradicional, como uma família real deveria ser. Mas a princesa não se contentava com respostas impostas, ela precisava encontrar, sozinha, as suas. Foi aí que descobriu esse outro Reino.
- Pai, fui em uma igreja protestante.
- Como assim Valentina? Eu e sua mãe sempre lhe mostramos um caminho, nós temos nossa fé, porque foi buscar em outro lugar? Ríspido respondeu o pai.
- Porque eu preciso buscar meu próprio caminho pai, eu preciso ter o direito de escolher o que eu quero pra mim pai!
- Você é uma princesa minha filha, precisa pensar no reino.
- Estou pensando! Mas o que adianta o reino forte e eu não? Preciso ser mais do que a princesa que segue os caminhos do seu pai. Sei que seu reino foi brilhante mas não quero ser sua sombra...
- E o que isso tem a ver com religião, Valentina?
- Com religião, nada. Mas com liberdade, tudo.
- Hum. Grunhiu o rei e deixou a filha sozinha na sala de estar.Valentina sabia que não seria fácil. É preciso quebrar paradigmas e ela tinha descoberto que só assim acharia a liberdade, mesmo que vivesse encarceirada no palácio.
Estava fazendo a corte pelo reino, comprimentando as pessoas quando viu uma pequena porta. Dentro daquele lugar devia haver metade dos jovens de todo reino. O pai nunca lhe falara daquela igreja. O rei era tradicional, seguia os costumes religiosos que seus bisavós aprenderam com os bisavós deles e que passaram para ele, por puro costume. Talvez por isso, Valentina nunca havia se prendido a alguma crença, religião, Deus.
Decidiu entrar. Ficou bem no fundo. Falavam sobre vida eterna. Falavam sobre amor e sobre amar.Valentina era diferente porque apesar de nenhuma base religiosa, tradicional ou algo do tipo, sempre foi muito, digamos, careta. Não aceitava algumas coisas. Conseguia ser muito racional e ainda assim se doava ao extremo. Não apostava em nada que era passageiro.
Esse papo de vida eterna, vida em abundância lhe parecia interessante. Passou a ir todos os dias naquele lugar, ouvia e aprendia muito. Mudou alguns conceitos, reforçou outros. Mesmo com a dificuldade que tinha em fazer amigos sendo princesa, fez alguns amigos. Conheceu pessoas do reino de seu pai que nunca havia visto antes. Tornou o rei mais próximo dos jovens.
- Pai, amanhã você poderia ir comprar umas coisas comigo ?
- Comprar o que Valentina? Peça para Alaor, nosso motorista. Compre o que quiser.
- Não pai, preciso que você vá comigo. Disse a menina puxando a blusa de linho fino do pai, como se fosse uma criança de dois anos que pedia um doce.
Rei Aguiar sabia que não podia perder um dia de trabalho mas, ao mesmo tempo, sabia que a filha tinha algum motivo para querer que ele fosse com ela. A filha nunca pedia nada.Saíram então naquela tarde levados por Alaor.
- Onde vão, Vossa Excelência? Perguntou Alaor, olhando para o banco de trás onde e o rei e sua filha estavam sentados.
- Isso é com a mocinha aqui, meu amigo. Respondeu o rei que, realmente, tinha Alaor como um bom e antigo amigo.
- Rua das Flores, Alaor. Respondeu a princesa.
- Rei, me parece muito sábio reservar um tempo para passear com sua filha, tenho certeza que todo o reino o verá com bons olhos. Alaor sempre tinha conselhos sábios ao rei.Alaor foi parando exatamente onde havia deixado a princesa todos esses dias. Sabia o que ela queria, sempre apoiava as decisões da pequena.
- Esteja com o coração aberto, Vossa Excelência. Disse Alaor quando o rei já tinha descido do carro. Aguiar olhou confuso, sorriu e acenou.
- Filha porque me trouxe nessa igreja? Já sabe o que eu penso sobre isso. Não podemos comprar nada aqui.
- Podemos sim, vou te explicar melhor. Mas preciso que você compre minha ideia, pai.
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Quase conto de fadas
RomanceViver como princesa pode ser o sonho de muita garota por aí, mas para Valentina não é tão legal assim. Ela insiste em falar que o conto de fadas que se cria é sempre mais legal do que o que se vive.