Quase conto de fadas

O sonho

Por algum motivo, Valentina ficara com Arthur em sua cabeça. Não sabia dizer se isso era bom ou ruim. Ótima ou péssima ideia.
  Assim que o rapaz saira de seu quarto dizendo que era melhor que ela descansasse, que não queria ter que salvá-la de novo, Valentina deitou-se e logo pegou no sono.
  Sonhara. Mas o sonho não era desses que te leva para as nuvens, estava mais para aqueles sonhos que te deixam confusa entre o que é real, o que pode acontecer e o que você quer que aconteça.
  No sonho Valentina estava casando-se. Estava deslumbrante. O cabelo solto até a cintura com cachos e pequenos pontos de luz. O vestido era de uma seda pura que realçava suas poucas curvas e a deixava parecendo realmente uma princesa. Estava entrando em uma igreja gigante de braços dados ao pai. Olhava os convidados e podia ver alguns colegas das aulas de idioma, outros das aulas de literatura e via também Ester. Ester estava deslumbrante em seu vestido vinho contrastante com o ruivo dos cabelos. Espera. Ao lado de Ester estava Camilo. Camilo Nunes. De se esperar já que o rapaz mandara flores pra ela. Mas Camilo chorava. Chorava feito criança. Sussurrava um não, inaudível.
Quando Aguiar e Valentina chegaram no altar quem estava ao seu lado era Jeremias. Por um instante Valentina se decepcionou, foi como se o mundo tivesse desmoronado e ela tivesse um buraco aberto aos seus pés. Mas Valentina amava Jeremias, ele sempre fora o amor de sua vida, primeiro e único. Mas não, Valentina estava tentando segurar as lágrimas. Não entendia porque se sentia sufocada, queria gritar, queria sair correndo mas estava tão chocada -talvez com seu próprio sentimento- que não conseguia mexer um dedo. Precisava apenas se esforçar para não chorar no altar!

Quando olhou para trás sua gatinha Lolis entrava com as alianças. Estava tudo muito bonito mas Valentina olhava para os lados desesperada, procurando uma saída, algum lugar para onde pudesse correr... Valentina olhou pra frente novamente, com as alianças nas mãos mas o coração na garganta. Jeremias fazia carinho em suas mãos enquanto a segurava e isso a irritava um pouco...

- Valentina, pare!

Quando olhou pra trás uma felicidade súbita encheu seu coração, uma felicidade tão grande que fez com que derrubasse as alianças no chão, uma felicidade tão grande que a fez soltar Jeremias e sair correndo, segurando o vestido...

- Arthur!

E com esse grito toda a casa ouviu o correu para saber o que acontecera! Quando deu por si, sua cama estava rodeada: seus pais, Frederico, Annelle e sim, Arthur estava ao seu lado...
- Princesa, foi só um pesadelo! Disse Arthur ao perceber que a princesa estava ofegante e confusa.
  Valentina deu um pulo, sentando-se na cama.

Todos a olhavam, mas Annelle olhava para fora da janela. Parecia ignorar e odiar Valentina.

- É, me desculpem... Me desculpem pelo susto... Me desculpem... Eu já...

Frederico começou a rir.

- Menina você quase nos matou de susto duas vezes em um mesmo dia! Mas que bom que está tudo bem! Aguiar, Marcella e Annelle, podemos voltar ao escritório, já está tudo bem!

Marcella deu um beijo na testa da filha e dando um sorriso para o marido disse:
- É claro, temos trabalho no escritório!

- Acho melhor eu ficar aqui para certificar de que a princesa não nos dará outro susto! Respondeu rapidamente Annelle com um sorriso falso tentando convencer Frederico.
- Anne, precisamos dos seus serviços no escritório. Mas não se preocupe, tenho certeza que Arthur pode fazer companhia para Valentina, não é meu filho?
- Com toda certeza pai!
Valentina sabia que estava vermelha e sabia que todos notariam, então olhou para baixo, tentando desviar os olhos do incontentamento de Annelle Mathew.

Todos saíram do quarto. Menos Arthur.

- Acho que ela gosta de você. Disse Valentina.
-  Anne? Bom, ela precisa entender que para mim ela é como uma irmã... Fomos criados juntos e hoje ela ajuda meu pai com a contabilidade...
- Ela me odeia.
- Não, ódio é muito forte. Ela só tem ciúmes. Mas também, depois de me gritar daquela forma...
- Ah é... Não... Não era... Não era nada demais! Disse Valentina.
- Você já está completamente vermelha de novo e algo me diz que nessa situação, é porque tem alguma coisa sim... Me conte o que sonhava.
- O sonho?
- Sim Valentina, você gritou meu nome assustada... O que sonhava?
- Ah... O sonho... Hm... Era... Era... Eram zumbis! Isso! Zumbis! Tinham vários correndo atrás de mim! E aí eu te vi! Você poderia me ajudar a fugir deles! Foi isso! Por isso te gritei! Zumbis!
- Hmmmmmmm... Já não basta te salvar na vida real, preciso salvá-la em sonho também?

Valentina riu. Sim, ele a salvara, só não entendera porque.