A confusão era sempre muito grande. Valentina volta e meia se pegava pensando em Jeremias porém, sabia que apesar de gostar do Boaventura, quem o pai realmente sonhava pra filha era Camilo. Rapaz tão bom, família tão tradicional. Valentina gostava dele também. Bom, na verdade, hoje era como um garoto qualquer. Era indiferente apesar do muito que sentira por ele.
Camilo era o tipo que todas as meninas do universo sonhavam e que com certeza se casaria com uma princesa. Foi o que Valentina pensou por algum tempo... O que mais mexia com ela eram os olhos azuis. O cabelo preto, com um topete jogado não ficava atrás. Ah, o estilo vindo de revistas a fazia sonhar também.
Valentina era, como já dito, comum. Usava sempre o mesmo tipo de roupa. Gostava de ser mais discreta, mas verdade seja dita, vez ou outra sentia vontade de usar um short curto ou um batom vermelho. Sempre acabava optando pela "honra ao reino".
Camilo era alguém que cumpria o pedido do rei Aguiar de honrar o reino, talvez por isso o pai o estimava tanto . Sem contar que o pai também era Rei, não rei propriamente dito, mas o pai de Camilo liderava um país vizinho, que fazia fronteira com Longívea. Um lugar que, de tão perto, parecia que era parte de Longívea. E sim, os interesses do Rei Aguiar também eram políticos.
Em outras épocas, Valentina morreria com a ligação de Camilo... Mas sabia que o menino, apesar de sentir alguma coisa por ela - talvez, apenas atração, ou achava engraçada. Algo do gênero. - não deixaria tudo que tinha tão fácil por ela. E quando falo: tudo que tinha, lê-se: todas as meninas aos seus pés.
Embora pareça, Valentina não pensava isso com inveja, rancor ou qualquer outro sentimento. Na verdade, o entendia. Ele apenas não estava disposto.
Em uma tarde de verão Valentina não aguentou, com o gênio forte que tinha chegou no menino, quase de peito estufado e exigiu:
- Olha, eu gosto de você. Gosto mesmo, mas preciso saber o que acontece de verdade. O que pode acontecer de agora em diante.
Valentina falava isso porque perto dela, Camilo era um santo. Mandava poesias, como ótimo escritor que era. Seu olhar é onde me perco antes de dormir, mesmo que fique apenas gravado em meu coração, seu sorriso me lembrará das esperanças de viver e morrer de amor.
- Valentina, você sabe que eu gosto de você com todo o coração. Te acho incrível. Mas não posso te fazer chorar.
Valentina entendera. Valentina admirava Camilo por não enganá-la. Mas não conseguia entender porque pra ele era tão difícil escolher. Bom, talvez a parte mais confusa seja explicar a relação de Valentina-Camilo-Ester.
Ester: amiga das aulas de idiomas ( latin, mandarim, espanhol, francês, alemão, russo...)que dividia o coração de Camilo entre as duas. Ester era uma boa amiga, tinha bons conselhos, era animada e alegra e estava sempre disposta a ouvir o que a princesa tinha pra contar. Colocava os longos cabelos cor de fogo pro lado e deitava de lado na cama de Valentina. Disposta a ouvir cada vírgula do que a princesa tinha a dizer.
Camilo era mesmo um fofo, mandava volta e meia chocolates, flores... Um ditado diz que quando a esmola é demais o santo desconfia e a princesa já era desconfiada por si só...
Valentina estava saindo de casa quando recebeu um buquê de flores. Um buquê com uma carta e a carta continha a poesia que Camilo sempre lhe mandara. O problema é que estava saindo para ir estudar com Ester, as duas faziam aulas de francês juntas e tinham um teste na segunda feira. Quando Valentina batia na porta, o entregador chegou. Desconcertado pois acabara de entregar o buquê para a princesa entregou um igual para Ester.
O moço estava realmente sem jeito. Sabia que algo estava errado, confuso por ver a princesa e, com cara de que algo estava estranho. Valentina tinha ainda mais certeza disso. Conhecia os boatos sobre Camilo. Mas teria que ser justo com Ester, sua amiga ? Ele sabia o que ela sentia. Será que ele estava brincando ?
Ester pegou o buquê, sorriu para o moço. Olhou a cartinha, começou a falar para Valentina entrar e rapidamente colocou o buquê de lado.
- De quem ganhou esse buquê, Ester?A amiga confusa, olhando para baixo com o canto dos olhos e toda sem jeito, fingindo não se preocupar respondeu bagunçando o cabelo:
- De algum admirador secreto.- Respondeu rápido e deu um sorriso-. Vamos estudar sobre verbo no passado do indicativo né?Poderia estar disfarçando mas Valentina entendera rápido o que estava acontecendo. Camilo enviara o mesmo buquê para a amiga e, por ter a ouvido tantas vezes falar do rapaz, Ester não quis contar quem era. Não queria machucar a amiga. Inventara um história. Não sabia se ficava brava pela amiga não contar a verdade ou se entendia sua preocupação. Talvez faria o mesmo.
- Como que se usa o verbo no pretérito mesmo , Valy ?
Valy era o apelido que seu pai usava em casa e alguns amigos da infância também. Além de pessoas que queriam puxar saco. Talvez, nesse momento, o caso fosse esse.
Camilo a deixava realmente confusa, às vezes tão bom menino, tão amável outrora tão cafejeste e previsível.
- Precisa do auxiliar. -Sorriu.
Foi pra casa sem tomar o café de costume. Seu estômago estava meio ruim. Não soubera dizer se era algo que comeu ou mesmo decepção . Sabia que amor tem destas coisas, mas na verdade amor era uma palavra forte demais pra descrever o que sentia por Camilo. Passou a noite revirando na cama, o lençol de linho egípcio amanheceu no chão, com várias almofadas bagunçando quase todo quarto. Às vezes o exterior é apenas um espelho do que acontece dentro de nós.
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Quase conto de fadas
RomanceViver como princesa pode ser o sonho de muita garota por aí, mas para Valentina não é tão legal assim. Ela insiste em falar que o conto de fadas que se cria é sempre mais legal do que o que se vive.