A chegada

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Valentina estava de férias então podia acordar um pouco mais tarde. Às oito horas da manhã. Tinhas as aulas de idiomas, etiqueta e história que nunca entravam de férias.

Escutou o barulho de vários carros, algo que fez com que acordasse aos sustos, afinal, ali era sempre muito calmo e silencioso.

Deu uma espreguiçada que fez com que algumas almofadas caíssem de sua enorme cama. Se lembrou da confusão do dia anterior. De repente começou a ouvir risadas e pessoas conversando. Foi até a janela e disfarçadamente puxou o canto da cortina de renda branca. Haviam quatro carros, todos eles oficiais. Oficiais de realezas. Ah não. Era verdade. O príncipe de sei lá onde e futuro não marido estava chegando pela manhã. Fechou a cortina ao perceber que alguém olhara para a sua janela. Bem bonito por sinal. Não. Ia fazer 21 anos não queria se casar.

Se jogou na cama, olhando fixamente a parede. Como poderiam querer que ela se casasse? Não sabia nem se gostava de Camilo ou Jeremias. Sabia sim. Só tinha dúvidas às vezes. O problema é que odiava gostar de alguém, odiava se sentir vulnerável por alguma coisa e principalmente por alguém. Também não podia ficar entre os dois, cada hora era um que decidia sumir. Não entendia nenhum dos dois e entendia menos ainda o que sentia. Mas casar era demais . Nem a faculdade que faria já estava decidida, imagina, carregar o nome de uma família ? Não, sem chance!

Ouviu baterem na porta. Ficou quieta, poderia fingir que estava dormindo e seria deixada em paz.

- Princesa, hora de levantar! Tem quase uma multidão lhe esperando!

Era a governanta Leonor. Ficou em silêncio.

- Princesa, acorde, por favor! Dizia Leonor batendo na porta freneticamente.
- Me deixe Leonor!
- Princesa, precisa se arrumar, temos visitas!
- Não vou receber ninguém!
- São pessoas importantes e seu pai está exigindo sua presença! Disse a mulher arrumando a saia preta e a gola da camisa branca, um tanto preocupada porque sabia que esse seria um daqueles dias que não conseguiria controlar nada. Se incomodou com o silêncio.

- Abra a porta, princesa! Vamos !

Valentina gostava de Leonor e sabia que ela só estava cumprindo ordens, dificultar seu trabalho não resolveria o problema de ter ou não que se casar. Valentina abriu a porta e voltou correndo para a cama.

Leonor já foi direto em direção ao closet.

- Princesa, você está recebendo um príncipe! No sentido real e no figurativo. Meu Deus, que rapaz bem apessoado! Ah, se tenho sua idade... Valentina não conteve os risos. Leonor passava pelos cabides entre  todos os vestidos, parecendo não achar nenhum bom o suficiente.
- Ele é bonitão mesmo. Príncipe de um lugar aqui perto, Vossa Excelência seu pai, comentou. Bem bonito mesmo. Tem os olhos do pai viu ? E a pele clara da mãe... E tão educado... Um sorriso encantador !

Ai meu Deus, aquele menino parecia que tinha mesmo conquistado o coração de Leonor.

- Aqui está. Coloque esse e desça por favor. A governanta disse já indo em direção a porta. Ah, e não se esqueça de lavar o rosto, escovar os dentes, passar uma maquiagem e um batonzinho. Deu uma piscadela e desceu as escadas.

Já estava acordada então decidiu realmente acatar as ordens. Estava olhando fixamente para o espelho pensando em como seria aquele dia. Fechou a porta do quarto e vestiu a roupa que Leonor havia separado. Ela um vestido branco com um espartilho rosa claro, que reaçava as curvas de Valentina. Pusera apenas uma vez e recebera inúmeros elogios. A parte de traz do vestido era trançada e a princesa demorou um pouco para arrumar arrumar aquelas fitas . Foi no banheiro, lavou bem o rosto. Deixou a água escorrer livremente. Quem sabe ela lavaria também alguns problemas...

Voltou para a frente do espelho. Passou um pó de arroz e deu um jeito no rosto. Não entendera porque deveria estar tão arrumada e mais ainda, não entendera porque estava acatando todas as ordens.

Começou a pentear os longos e negros cabelos.

Alguém bateu na porta que estava aberta. Era um garoto. Bonito inclusive.

- Com licença Vossa Excelência. Disse o menino entrando no quarto.

Valentina olhou e deu um sorriso amigável porém meio forçado.

- A princesa está se arrumando apenas para tomar café da manhã com seu novo amigo? Disse o jovem, com as mãos estendidas para que a princesa colocasse a sua em cima da dele. Tinha um tom cordial e sarcástico. A princesa gostara dele. E realmente era bonito.

Colocou sua mão nas mãos do rapaz e deixou que ele a guiasse, como próprio do tratamento a uma princesa. Nunca tinha visto um sorriso tão bonito. Nem olhos tão acolhedores e nem mãos tão fortes . Exceto as de Jeremias, mas enfim... O rapaz, por algum motivo, fazia seu coração bater mais rápido.

- Não é sempre que se recebe visitas para o café da manhã. Disse a princesa tentando ser legal.

- Tudo bem, mas duvido que você colocaria esse vestido para tomar café da manhã com sua melhor amiga. Realmente, são esses os efeitos dos leões, estou acostumado.

Os dois riram. Por um momento Valentina esquecera que aquele café da manhã estava mais para uma "reunião de negócios" e o problema era que o projeto a ser vendido era o seu futuro, seu casamento. Falar em leão lhe trouxera a tona o que estava acontecendo. Ele sabia o que fazia ali. Ele sabia que era para tratar de negócios. Ele sabia que a importância ali era convencê-la de que ele valia a pena e que poderia não ser uma tremenda tragédia casar assim. Com aquele sorriso era fácil acreditar. Mas será que ele estava gostando da ideia de um possível casamento ou só estava sendo divertido pra ver se melhorava um pouco as coisas, ou colocava o problema em baixo do tapete? Não soubera responder mas havia colocado uma coisa em sua cabeça: perguntaria para ele na primeira oportunidade.

Seguiram em silêncio mas não um silêncio constrangedor. Um silêncio agradável desses que pouquíssimas pessoas conseguem proporcionar.

Entraram na sala de jantar. Ele segurando a mão da princesa. Não demorou dois minutos para que o sorriso brotasse nos lábios de Aguiar Loverdok. E menos tempo ainda para que o sorriso estivesse em Frederico Bittencourt, pai de Arthur. Quem não sorriu foi Annelle Mathew .

Quase conto de fadasOnde histórias criam vida. Descubra agora