Eternal Darkness - LIVRO UM | WangXian

Capítulo Seis: Em Meu Coração, Um Rumor Não Sabido

"Um clássico é um livro que nunca termina de contar o que tinha para dizer." ― Italo Calvino.

A mesa da biblioteca na qual Lan WangJi, Willem e Aisha estavam encontrava-se rodeada de livros, papéis e canetas. Era uma tarde de quarta-feira, quase uma semana depois de Lan WangJi ter contado o que viu na floresta. Hoje, ele estava sentado na mesa com vista para a floresta, e observava vez ou outra o vaivém das folhas em borrões de laranja, o céu azul-pálido permeado por finas nuvens; as ondas do mar permaneciam na sua própria orquestra pessoal do outro lado da biblioteca.

A semana passou sem maiores incidentes. Ele não via Wei WuXian com frequência, tampouco Hua Cheng ou Xie Lian. A torre de clássicos ficava do outro lado do Pavilhão Central, uma parte do prédio a qual ele nunca ia; o único contato que tinha era Jiang Cheng. Entre as aulas de Zacharias e as tarefas da sociedade de Willem e Aisha, eles se enfurnavam na biblioteca até tarde da noite, jantando no dormitório com conversas aleatórias que sempre divergiam para um ponto.

Eles tinham um objetivo: descobrir o segredo de Wei WuXian e os outros. Era óbvio que seria mais fácil para Lan WangJi, já que ele tinha contato com todos eles nos encontros da sociedade, mas ele próprio não sabia até que ponto estava disposto a ir para isso. Jiang Cheng não estivera na floresta naquela madrugada, mas era difícil não olhar para ele e sentir. Saber que ele sabia também. Algo no seu interior lhe dizia que o irmão de Wei WuXian certamente sabia o que seria o Além-Mundo e os rituais esquisitos.

Eles também haviam visto Tobias quase todos os dias, sorrindo e aparentemente normal. Não havia nenhuma marca de corte em seus braços — eles conseguiram ver apenas uma vez, já que todos começavam a usar roupas mais quentes contra a temperatura baixa —, e nenhum resquício das suas súplicas nos olhos. Mas Lan WangJi não esquecia o que via. Porque ele tinha visto... o que quer que aquilo fosse.

— Não há nada sobre rituais demoníacos na biblioteca — Willem resmungou, sua voz baixa, ao se sentar do lado de Lan WangJi. — Não que seja algo que devemos esperar encontrar em qualquer lugar. Mas seria bom agilizar o trabalho, né?

Hoje, Willem usava um suéter azul por cima de uma camisa branca — uma raridade —, e calças jeans. Lan WangJi não conseguia dizer o que estava acontecendo com o amigo, mas o sentia mais pálido do que antes. Willem sempre tivera a pele branca como algodão, mas houvera uma camada de ouro sobre ela — provavelmente dos dias na fazenda de seus pais —, e agora que já estava ali em Glasgow há quase um mês, talvez estivesse ficando pálido... Mas Lan WangJi não acreditava muito nisso.

Ele agora sabia que Willem tomava algum remédio, pois ele próprio havia dito isso na madrugada em que Lan WangJi voltou ao quarto. Ele só não sabia porquê. Aisha certamente sabia, mas... às vezes, era difícil entender a bolha de intimidade que existia antes de Lan WangJi. Ele obviamente não se intrometeria, jamais. A questão de Willem com os remédios era algo exclusivo dele, e ele contaria quando estivesse pronto. Da mesma forma que Lan WangJi, um dia, falaria sobre o motivo da gola alta que usava no momento, dos lenços e dos cachecóis.

Mas ele rezava para esse dia nunca chegar.

— É óbvio que não vai ter, né, Will — Aisha suspirou do outro lado de Lan WangJi. Ela usava o belíssimo uniforme da universidade, seu longo cabelo preso num rabo de cavalo. — Acho que ninguém em Glasgow pensou em fazer algo assim.

— Bem, então nós deveríamos.

— É realmente difícil encontrar algo — Lan WangJi disse. — Mas esse foi apenas o começo. Acho que podem existir outras formas de... achar algo que se pareça com o que eu vi.