Eternal Darkness - LIVRO UM | WangXian

Capítulo Dezessete: Daquelas Linhas Funerais

"Que você não descanse, enquanto eu viver. Você disse que eu te matei – me assombre, então." ― Emily Brontë, O Morro dos Ventos Uivantes.

A escuridão cercava Wei WuXian em um véu de sombras que o consumia por completo, deixando-o à deriva no próprio corpo. Era sempre assim que ele se sentia quando tinha pesadelos com a noite que havia mudado tudo — a noite em que sua mãe e sua irmã morreram. Ele sempre sonhava com essa mesma memória, ou uma variação dela; em todas, haviam os corpos, o sangue, o horror e desespero que tomavam seu corpo...

Wei WuXian lembrava-se de tudo e quase nada daquela noite. Era como se o trauma fosse tão profundo, que era impossível de ignorar ao ser tocado, mas ao mesmo tempo, o fizesse esquecer tudo com muito mais frequência. Ele se lembrava vividamente das escadas, dos degraus de madeira brilhante manchados por sangue escarlate, pingando sobre o carpete e descendo lentamente degrau por degrau, enquanto os corpos delas jaziam mais acima, inertes, com o peito aberto em uma profusão de sangue e horror — haviam arrancado ambos os corações, deixando um rastro de sangue.

Mas por quê? Por que alguém faria isso com a mãe deles? Com a irmã? Eles não tinham inimigos. Eram uma família bem respeitada. Ninguém ousaria mexer com os Wei e Ravenwood nem em um milhão de anos, e mesmo assim... Wei WuXian lembrava-se do desespero que sentiu ao ouvir Jiang Cheng gritando por uma casa que estava em completo silêncio a não ser pelo ranger dos pilares ao vento, que sussurrava nos cantos da casa e chacoalhava as janelas.

E nada além da escuridão poderia o consumir...

As batidas na porta o arrancaram do sono em um impulso que lançou adrenalina pelo seu corpo. O quarto estava em escuridão — ele havia voltado para a casa do lago, que era a melhor residência para Wen Ning dentro da universidade, enquanto Xie Lian e Hua Cheng dividiriam um dormitório, e Jiang Cheng iria para o seu próprio —, e sombras noturnas dançavam nas paredes, delineando os móveis e cantos de madeira. As batidas aumentaram, dessa vez com mais força e desespero.

Wei WuXian levantou-se, jogando o lençol para o lado, e ignorando a confusão que habitava na sua mente após o sonho, saiu do quarto e foi até a porta em meio à escuridão — já conhecia a casa suficientemente bem para não esbarrar em nenhum móvel —, e assim que a abriu, foi recebido com uma visão que o assustou.

Lan WangJi estava ali, o peito subindo e descendo em um ritmo desenfreado, como se tivesse corrido até aqui, o cabelo desgrenhado e os olhos marejados, o rosto pálido e as roupas amassadas — absolutamente nada como Lan WangJi era normalmente...

— O que foi? O que aconteceu? — Wei WuXian perguntou no exato instante em que as luzes se acenderam, e Wen Qing apareceu saindo do quarto que dividia com Wen Ning, que vinha atrás dela. — Por que você está assim? E como você passou pelos inspetores?

Lan WangJi tremia, abrindo e fechando a boca para falar algo, mas aparentemente nada saía... Wei WuXian segurou o braço dele, lembrando-se do momento que tiveram há... duas horas? Nem fazia tanto tempo que ele e a sociedade haviam ido descansar após uma noite tão cheia de revelações e perigos — ele ainda sentia o braço formigar, mas graças à Reparação de Wen Qing, não havia uma única marca —, então como tudo poderia ter dado errado em tão pouco tempo?

O que tinha acontecido?

— Entre — Wen Qing disse para Lan WangJi, puxando-o para dentro e olhando uma última vez para a floresta e a escuridão antes de fechar a porta. Ali dentro, a luz âmbar da lâmpada iluminou-os, deixando os olhos de Lan WangJi mais claros, porém não menos desesperados. Foi Wen Ning quem perguntou, aproximando-se lentamente com a cadeira de Lan WangJi. — Por que você está assim? O que aconteceu?