Sequestrada

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Antonella narrando

Respiro fundo, morrendo de vontade de sentar e descansar. Falta apenas uma mesa para ir embora; quem demora tanto para jantar? Eu quero limpar tudo logo e ir para casa. O restaurante fica aberto das sete da manhã até o último cliente do dia sair, que hoje calhou de ser às nove da noite.

Comecei aqui há menos de uma semana e já estou exausta. Pelo menos a gorjeta vem compensando. Já consegui ajudar um pouco meus pais. Minha mãe é do lar e cuida de mim e do meu pai, que trabalha bastante, mas nunca nos faltou nada. Quis começar a trabalhar para ter uma liberdade financeira, poder comprar o que eu quero, dar presentes aos meus pais e melhorar algumas coisas em casa.

— Nella, você já pode limpar a mesa — diz o dono do lugar, contando o dinheiro do caixa. Pego meu pano e borrifador.

Eu até gostava de ser chamada de Nella, mas passei a odiar que meu chefe me chame assim. Ele diz que meu nome completo é muito forte e que, para ser atendente aqui, tem que aparentar doçura e delicadeza, incluindo o nome.

Termino tudo e confiro as outras mesas. Sigo para o vestiário e coloco minhas roupas, deixando o vestido ali. Despeço-me do chefe antes de sair pelos fundos, abro a porta pesada e me assusto com o frio da noite. Aperto a alça da minha bolsa e ando apressada em direção ao ponto de ônibus, esperando que não demore.

Ao andar mais ou menos uma quadra, começo a estranhar um homem que anda atrás de mim, sem pressa de me ultrapassar e seguir seu caminho. Começo a andar mais rápido e ele aumenta sua velocidade também. Sem dar chance ao azar, começo a simplesmente correr e gritar.

Tem um mercado não tão longe daqui; se eu estiver com sorte, vai estar aberto e eles irão me ajudar. Sinto ele chegar mais perto e me jogo na rua, passando entre os carros.

— AJUDA! — grito desesperada, e um homem sai do seu carro correndo até mim. — ELE, ELE ESTÁ ME PERSEGUINDO!

Grito, e quando o meu salvador se vira para o perseguidor, ele simplesmente corre, entrando em um beco.

— Você está bem? — ele pergunta, segurando meus braços. Assustada demais, não consigo responder. Eu o conheço. Se não me engano, é um dos clientes do All Pink, isso, o homem que puxou minha mão. Lembro do cabelo quase preto e dos olhos escuros.

Me solto dele, olhando em volta.

— Obrigada — falo baixo e começo a andar.

— Aonde vai? — ele pergunta, e ando mais rápido ainda.

— Embora, obrigada pela ajuda — digo mais alto pela distância que faço.

— Está tarde, eu te levo para casa — ele dá uma corridinha até mim, mas não paro. — Senhorita... eu nem sei seu nome, pode me dizer?

— Olha só — paro, olhando brava para ele, que cara insistente. — Eu nem te conheço. Muito obrigada por me ajudar, mas eu me viro agora. Passe bem, senhor.

— Russo, mas pode me chamar de Giovanni — ele diz, estendendo a mão. Reviro os olhos sem pegar.

— Eu preciso realmente ir, senhor Russo — complemento com seu nome, e ele parece feliz com isso. Que homem sorridente, já está me irritando.

— Eu insisto em te levar. Acho que já sofreu perigos demais em uma noite, senhorita. Eu te deixarei em casa.

— Não precisa — falo pela última vez e me viro, indo embora.

Escuto seus passos e, antes que eu me vire pronta para ofendê-lo, sou agarrada por trás:

— SOCORRO!

Meu grito é impedido por um pano que colocam em minha boca. Me debato, tentando me livrar do sacripanta, mas vou perdendo a força.

— Calma, querida, respira fundo.

O que ele fez comigo? Sinto um desespero enorme ao não conseguir mais me mexer. Inicio uma batalha para manter os olhos abertos, mas acabo perdendo rapidamente. Sinto quando me erguem e carregam com força. Sinto vontade de gritar que a pessoa está me apertando com muita força, mas não consigo.

Ninguém vai me ajudar? Justo hoje não tem ninguém nessa rua? Que vontade de matá-lo! Mas o que mais me causa medo é o que esse biltre fará contra mim. Sou colocada em algo, mas sinto meu corpo tombar. A dor no meu pescoço é grande, e entro em desespero por não saber o que está acontecendo comigo.

— Calma, meu amor, não precisa cair — esse maluco me chamou de amor? Meu Deus, ele é um psicopata!

Eu ouvi falar sobre um que matava mulheres à noite; será que é ele? Sinto quando ele me ergue e tenta ajeitar novamente. Eu preferia já estar morta. Não quero sentir o que ele vai fazer comigo. Será que ele sabe da má dosagem de seja lá o que me deu?

— Vamos ser felizes juntos. Eu não queria admitir, estava inseguro com isso tudo, sabe? Mas meu pai disse que é a melhor chance. Agora os pais não obrigam as filhas a casar, então seria mais difícil. Mas você vai ver, eu sou um bom marido.

Esse cara está fora de suas razões? Tenho certeza de que usou algo ilícito e está fora de si, por isso a confusão. Começo a sentir um formigamento estranho na pele e tento me mexer, parece que meu corpo está paralisado.

Consigo abrir os olhos e tento manter a calma para lembrar o máximo possível. Sem conseguir mover a cabeça, apenas vejo o chão do carro. Observo seus sapatos caros e sinto vontade de vomitar neles. Vejo minha bolsa jogada no chão de qualquer forma, percebo que perdi um sapato; será que ele tirou e eu não senti?

— Eu já volto — ele fala e escuto uma porta bater. Será que ele vai me vender?

Escuto ele andar como se fosse um caminho de pedras. Ele fica um tempo fazendo barulhos, como se mexesse em uma máquina, e depois fala sozinho. Mas ele fala baixo, não me deixando entender nada. Após um tempo, ele volta resmungando:

— Agora sim podemos ir — ele fala, vejo que ele ajeita minhas pernas e olha em meu rosto. Ele se assusta com meu olho aberto e paralisa por um segundo.

— Você está consciente?

Sim, inferno, mas não consigo responder. Tento piscar para mostrar que estou e ele se assusta. Ele vai me libertar ou matar mais rápido?

— Desculpa — ele pede, pegando um pano em seu bolso. Ele pressiona no meu rosto e não consigo fazer nada para impedir.

Começo a sentir meus olhos fecharem automaticamente, mas dessa vez apago totalmente, sem força para me manter consciente.

Apenas O Começo! -RUSSOS BÔNUSOnde histórias criam vida. Descubra agora