Amordaçada

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Antonella narrando

Após minutos desesperadores batendo e gritando nesse estúpido pedaço de madeira, percebo que, se há alguém do outro lado, não irá me ajudar.

Olho furiosa para meu sequestrador, que se finge de coitado com a mão na cabeça. Observo meu tênis no canto do quarto e pego-o, indo em sua direção. Bato nele com toda a minha força e frustração, pegando-o de surpresa. Ele se levanta, sem saber o que fazer, mas quando continuo a bater, ele tenta tirar o objeto de minhas mãos.

— Para, mulher!

— Me deixe ir que eu paro — falo, voltando a bater. Ele segura com força em meus pulsos, impedindo qualquer movimento.

Olho assustada para sua feição agora séria e raivosa. Ele levanta meus pulsos acima da minha cabeça, me arrasta até a cama, me fazendo gritar e espernear.

— Para, Nella! — ele grita alto e sério, mas não obedeço.

Arregalo os olhos quando ele se senta em cima de mim, quase me esmagando. Seu peso sobre mim me deixa presa na cama. Tento empurrá-lo, mas não funciona. Arranho suas costas sobre a camisa, querendo causar-lhe alguma dor para que saia de cima de mim.

— SOCORRO! — grito mais e me assusto quando ele se vira com o barbante do meu tênis em mãos. Ele agarra minhas mãos e as prende na grade da cama.

Tentei me esquivar dele, mas ele consegue amarrar meus pulsos na cabeceira acima da minha cabeça. Como último recurso, me estico e mordo o ombro dele com toda a minha força. Ele grita tentando fugir de mim, mas só paro quando sinto o gosto nojento de sangue.

— SUA LOUCA! — ele grita, passando a mão na pele machucada. Olho orgulhosa por machucá-lo e poder retribuir um pouco com seu karma.

— ALGUÉM ME AJUDA! — peço, gritando, e vejo que ele perde a paciência.

Paro de gritar com medo quando ele começa a tirar o cinto.

Não, não, não, não... tudo menos isso, por favor, Deus, faça qualquer coisa para impedir isso.

Ele se aproxima, subindo em cima de mim na cama, e choro desesperadamente.

— Por favor, não — imploro a ele, que me observa preocupado pelas lágrimas. — Não faça isso comigo.

— Eu vou apenas lhe amordaçar, para que você não grite mais e não me morda mais — ele fala, e nego com a cabeça.

— Eu não vou mais fazer isso, por favor, não faça isso comigo — imploro, e ele passa a mão pelo meu rosto.

— É preciso, minha bela, desculpa — ele dá um beijo na minha testa, e eu recuo a cabeça.

Ele passa o cinto na minha boca e o prende atrás da minha cabeça. Tento retirar da boca, mas está apertado demais, tanto que machuca.

Olho chorosa para ele, que foge do meu olhar, saindo da cama. Ele passa a mão pelos cabelos bagunçados, bem cortados.

— Por que tinha que ser assim? Ah, minha bela, eu não queria fazer errado. — Ele se senta na ponta da cama e fica um tempo sentado de costas para mim, apenas pensando.

Tento falar alguma coisa, mas apenas saem murmúrios, e, para contribuir com a minha humilhação, me babo inteira com o cinto de couro na boca; não consigo nem me limpar pelas mãos amarradas. Mas ele ignora cada som, exceto o do meu estômago faminto que ronca por comida. Ele me olha preocupado e vem até mim, beijando minha cabeça.

— Vou buscar algo para você comer, fica quietinha, ok? Não tenta fugir, porque você apenas vai se machucar.

Ele fala sério e pega a chave do bolso, saindo. Olho para a janela quando escuto uma terceira voz nesse fim de mundo; parece ser de um homem, e, pelo barulho, ele anda a cavalo.

Pulo na cama tentando soltar minhas mãos; esfrego, tento puxar, mas o nó que me prende parece apenas ficar menor. Eu quero tanto matar aquele pífio.

[...]

Ele volta com o olhar sério e carregando consigo uma cesta enorme. Conforme se aproxima, vejo o tanto de comida.

— Trouxe frutas, pão, queijo fresco, bolo, café e leite da vaca. Eu perguntei se foi fervido, mas não souberam me informar, está sob seu risco.

Tento falar que preciso ir ao banheiro, mas o som incompreendido apenas serve para me babar novamente.

— Espera, eu vou tirar isso. Não me morda — ele pede, e sinto vontade de revirar os olhos, como se eu não fosse tentar agredi-lo a cada oportunidade que eu tiver. — Pode falar.

Ele acaricia meu cabelo e fecho a boca, aliviada sentindo a saliva onde ela deveria estar; que horror ficar daquele jeito.

— Eu preciso... ir ao banheiro — falo com vergonha, e ele suspira.

— É verdade? — ele pergunta, e assinto com a cabeça.

— Depois você vai, vai comer primeiro. O que você quer?

— Não quero comer — falo, virando o rosto, e ele respira bem fundo, fazendo o ar quente vir em minha bochecha.

— Vai comer sim, abre a boca. — Ele pega um pedaço do pão, corta o queijo e coloca em cima. — Abre a boca, Nella.

— Não — falo, e ele pega o cinto, me assustando.

— O que vai fazer?

— Te amarrar de novo, se é isso que você quer — ele diz, e penso se ele está falando mesmo sério; acho que ele só quer mandar em mim.

— Eu como — falo com raiva, e tenho vontade de estapeá-lo por sorrir.

Ele coloca o pão à minha frente, e mordo com raiva. Ele sorri mordendo o que sobrou em sua mão; era só o que me faltava mesmo, o maluco ainda quer dividir a comida.

— Quer fruta? Tem manga e banana, pedi que cortassem porque não sei — ele oferece, e nego com a cabeça.

— Quero mais queijo — falo grossa, e ele corta um pedaço, todo feliz. Patife! Ele me dá na boca com cuidado e come o restante, me irritando; eu não posso comer algo por inteiro?

— Agora fruta — ele pega com o garfo, me dando na boca de novo. Mexo minhas mãos desconfortável.

— Quando... — Quando ele me olha feio, termino de mastigar antes de falar. — Quando você vai me soltar?

— Quando você me aceitar e gostar de mim — ele fala, aproximando o rosto perto do meu. O encaro apenas com ódio, e ele suspira. — Talvez demore.

— E me soltar para andar no quarto? Soltar minhas mãos? — Ele resmunga e pondera com a cabeça.

— Quando você não tentar me agredir a cada segundo. Até sua boca é um perigo — ele fala, e sinto vontade de rir, mas seguro pela raiva maior.

— Então vou ficar amarrada para sempre?

— Depende de você, é apenas sua decisão — ele me dá mais fruta, me calando.

— Eu te odeio — falo baixo, e ele sorri.

— Já é um sentimento.

— Seu altruísmo é irritante.

— E o seu pessimismo mais ainda — ele fala, me retrucando, e aceito a fruta que ele me oferece com raiva.

Vontade de enfiar esse garfo que ele balança em sua garganta.

Apenas O Começo! -RUSSOS BÔNUSOnde histórias criam vida. Descubra agora