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  Descolando as paredes carnais na frente dos olhos, o apaixonado realizado acorda pela manhã e tem a vista da silhueta feminina nua.
  A garota se punha de pé, cobrindo os seios com o antebraço e encarando por entre as persianas o antigo feudo e seu manso.

— Se pôs de pé? — Indagou, ao ouvir o rapaz se movendo na cama.

— Certamente... e com a melhor vista que sonhei.

— Pare com isso, bobo! — Esticou as bochechas e mostrou toda a dentição amarelada e tortuosa.

— Eu minto? Digo somente a verdade, minha rainha, agora venha, sente-se comigo e aproveite o restante do dia — engoliu-a com os olhos, apoiando as mãos no duro colchão empenado e levantando o busto.

— Não, meu prínci--

  A fêmea se agarra às cobertas ao ouvir, em sua porta, fortes batidas características de busca.

— ESTAMOS ATRÁS DA RAINHA DE LOTHRIC! ABRA A PORTA E EVITE CONFLITO!

  Pôs os olhos para fora das câmaras que os guardavam, pulando da cama e servindo sua calça em tempo de sussurrar para a procurada.

— Se esconda, mulher! Não demorarei mais que dois minutos, não se preocupe.

  E beijou, pela última vez, a dama que tanto amava, a escondendo dentro do próprio armário de abeto.
 
— JÁ ESTOU INDO! UM HOMEM NÃO TEM LIBERDADE PARA SE TROCAR DENTRO DA PRÓPRIA CASA?! — E gargalhou em meio às batidas.

  Na direção da porta, coberto por longas vestes que investiam contra as marcas, apontou a mão na direção da maçaneta, mas o infeliz recebeu um golpe contra aquele portal que acertara sua cabeça e o derrubara no chão.

— AH! DROGA! — Diz tonto, com a nuca no solo.

— ONDE? ONDE ESTÁ?! — Coberto por uma armadura reluzente, fez de seta a espada e colocou-a contra a garganta do maior.

— Q-quem? Que visita mais... Insalubre.

— Não se faça, seu idiota! — E o agarrou pela gargantilha da blusa com as mãos metálicas, largando a lâmina para que ressoasse o mar de elétrons no chão.

— E-eu sinceramente não sei do que está falando, senhor.

— Fará de sofrer, rapaz? Quebrarei suas pernas, seus dedos, suas mãos e deixarei sua cabeça presa no meu cavalo!

— Não há necessidade de... tamanha barbaridade, senh--

  Com o punho direito, brilhante e reluzente contra a luz que efetiva reflexão, o cavaleiro trajado acertou o homem entre os dentes, rachando o bisel frontal no meio e jorrando o sangue entre os lábios.

— ONDE ESTÁ?! ONDE ESTÁ A DAMA QUE ROUBASTE A IMPUREZA, SEU BASTARDO?

  E o romântico encarou diante do entreaberto das portinholas do armário.

— Eu... eu não sei, senhor — Afirmou, atropelando os "s's" pelos dentes quebrados.

— Hm... cortem-no a cabeça.

— NÃO! — Pulou para fora a amante, esticando a mão sob o maxilar do rapaz caído.

— Heh... pelo visto alguém mentiu, não é mesmo? — Perguntou em retórica.

Lacrima Christi: Mandante do enfermo Onde histórias criam vida. Descubra agora